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"Deixar falir a TAP é um péssimo serviço ao país"

Um artigo de opinião de Pedro Vaz, dirigente do PS, intitulado "TAP. Quem defende o quê?"

"Deixar falir a TAP é um péssimo serviço ao país"
Notícias ao Minuto

15:25 - 14/12/20 por Notícias Ao Minuto

Política Pedro Vaz

"Após tornada pública a privada discordância entre o Ministro Pedro Nuno Santos e o Primeiro-Ministro António Costa sobre o votar ou não no Parlamento um Plano de Reestruturação que implicará cerca de 3,2 mil milhões de euros de dinheiro dos contribuintes portugueses e cerca de dois mil despedimentos na TAP, a direita portuguesa, apoiada por largo espetro do comentário político, bem como dos detratores habituais do Ministro, vaticinavam já na sexta-feira passada a morte política do Ministro.

A realidade é que nessa mesma noite em entrevista a José Gomes Ferreira e João Vieira Pereira na SIC, vimos um Ministro bem preparado política e tecnicamente acerca da importância e relevância do assunto para o país e para os portugueses, não se esquivando a nenhuma pergunta difícil ou mais exigente, ao confronto ideológico (sim, porque o jornalismo também está impregnado de preconceitos ideológicos) e revelou um respeito verdadeiro e genuíno pela gravidade que este plano implica.

Sem insultar nada nem ninguém, dissimular, evadir ou desresponsabilizar-se Pedro Nuno Santos desfiou um a um os argumentos para que os portugueses mantenham a empresa em atividade: (i) Em 2019 a TAP exportou 2,6 mil milhões de euros; (ii)em 2019 transportou carga no valor de 2,5 mil milhões de euros em exportações; (iii) contribuiu diretamente com 300 milhões de euros em impostos e contribuições para o Estado; (iv) representa mais de 100 mil postos de trabalho (diretos e indiretos) e 1,5 mil milhões de euros em salários; (v) estas empresas e trabalhadores são responsáveis pelo pagamento de 1,8 mil milhões de euros em contribuições e impostos (800 milhões em IVA, 200 milhões de IRC, 200 milhões em IRS e 700 milhões de contribuições para a Segurança Social); (vi) a TAP compra anualmente a mais de mil empresas nacionais o correspondente a 1,3 mil milhões de euros e (vii) a existência da TAP contribui direta e indiretamente para 1,7% do PIB nacional e para 7 mil milhões de euros em exportações.

Deixar falir a TAP é, pois, um péssimo serviço ao país e todos aqueles que o defendem não são patriotas.

Sabe-se, também, que muitos prefeririam que a TAP fosse privada ou com gestão privada, como aconteceu de 2015 até meados deste ano e para tal usam o argumento que se assim fosse era ao privado que competia fazer essa injeção financeira. Tal afirmação não só é desonesta como é falsa. Veja-se o que está a acontecer por todo o mundo e na Europa muito particularmente. Na Alemanha foram mais de 9 mil milhões de ajudas estatais e a entrada no capital da Lufthansa por parte do Estado em França mais de 7 mil milhões de euros e, pasme-se, na capital da frugalidade (Holanda) a KLM recebeu apoios de 3,4 mil milhões de euros. Os auxílios de estado fortemente condicionados na União Europeia foram autorizados para a aviação civil tendo em conta a hecatombe na aviação em todo o mundo. Em Portugal a TAP tinha um problema adicional que a fantástica gestão privada não resolveu e até agravou prejuízos enormes, apesar de atribuir prémios financeiros de gestão aos seus dirigentes, mesmo contra a vontade do acionista Estado.

Poucos acreditariam que Pedro Nuno Santos conseguisse, de forma clara, transparente e aberta, apresentar este Plano, pois o mesmo acarreta custos sociais elevados para os trabalhadores da empresa, pensando que o facto de ser assumidamente um homem da social-democracia (ao invés daquela amalgama de nem carne nem peixe que é a “terceira via blairista”, a que os responsáveis políticos socialistas nos foram habituando nas últimas décadas), portanto de esquerda, perceberam agora que ser socialista não significa defender um Estado despesista e com empresas públicas mal geridas e com péssimo planeamento.

Com a mesma segurança e a convicção de saber que o que propõe é neste momento o melhor para empresa e para o país, o Ministro Pedro Nuno Santos, defendeu (em nossa opinião, acertadamente) que houvesse um compromisso político de largo espectro no Parlamento, de forma a que a estratégia definida no plano apresentado a Bruxelas não esteja sujeita às vicissitudes do tacticismo da circunstância parlamentar. Devido aos impactos para o país e acima de tudo para as futuras gerações é isso que se exigirá de cada vez que decisões desta importância são tomadas. Deveria ter sido assim no Novo Banco e no BES, tal como é assim nas obras públicas através do Conselho Superior de Obras Públicas e não se trata aqui de abdicar de qualquer poder executivo, trata-se sim de com transparência discutir-se os assuntos e os portugueses saberem o que cada partido político defende.

Agora que todos conhecemos o Plano, o que o Ministro e o Governo defendem e porque defendem ficamos todos sem saber o que defende o PSD quanto à TAP? E o que defendem o BE e o PCP, pois ninguém de perfeito juízo defenda o despedimento de trabalhadores apenas porque quer ou a pensar em lucros imediatos numa empresa pública? O que defende os partidos emergentes para além da retórica de ocasião?"

Pedro Vaz, dirigente do PS

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