Pais separados de filho bebé há cinco meses em Gaza. "Dói-me o peito"
Yehia nasceu prematuro e teve de ser internado no hospital, que foi invadido pelas forças israelitas, obrigando o bebé a ser levado para Rafah em estado crítico.
© REUTERS/Mahmoud Issa
Mundo Gaza
Nasceu dois meses antes do tempo em plena guerra e foi levado para Rafah, no sul da Faixa de Gaza, após as forças israelitas terem invadido o hospital onde estava a ser tratado, na zona norte. Desde então, no final de novembro, o bebé palestiniano Yehia Hamuda está separado dos pais.
A mãe, Sondos, e o pai, Zakaria, receberam fotografias de Yehia, agora com cinco meses, através de um telemóvel, na sua casa, em Jabalia, relatou, esta terça-feira, a agência Reuters.
A mulher revelou que, desde o nascimento do filho, nunca mais o viu por ser demasiado perigoso fazer a viagem entre Jabalia e Rafah, de uma distância de 30 quilómetros.
"Há tanques e bulldozers. O meu marido e eu não podemos ir. Eles matar-nos-iam. Tenho medo que o meu filho acabe por ficar sozinho", afirmou Sondos.
Yehia nasceu a 27 de novembro, sete semanas depois do início do conflito, desencadeado quando os combatentes do grupo militante palestiniano Hamas invadiram Israel.
Com as comunicações cortadas, passaram-se três meses até que os pais de Yehia conseguissem entrar em contacto com o Hospital al-Emirati e perceber se ele se encontrava bem.
"Passados três meses, vi a fotografia dele no telemóvel. Quero pegar-lhe ao colo. Quero dar-lhe de mamar. Todos os dias, dói-me o peito. Não consigo lidar com isto", disse a mãe.
A Reuters cita ainda uma enfermeira da unidade hospitalar, Amal Abu Khatla, que relatou que o estado de saúde do menino era crítico quando chegou.
"Graças a Deus, após uma semana, o seu estado de saúde melhorou, mas perdemos o contacto com os pais, ao ponto de pensarmos que tinham sido mortos", afirmou, acrescentando que Yehia se tornou "o filho da unidade neonatal".
"Ele é muito acarinhado e damos-lhe muita atenção", realçou ainda.
Enquanto a família não se reúne, o pai da criança lamenta o afastamento e revela que o seu "único desejo na vida" é "abraçar o filho".
De recordar que, a 7 de outubro do ano passado, combatentes do Hamas - desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel - realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando 1.163 pessoas, na maioria civis.
Fizeram também 250 reféns, cerca de 130 dos quais permanecem em cativeiro e 34 terão entretanto morrido, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que hoje entrou no 207.º dia, continuando a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, e fez até agora na Faixa de Gaza 34.454 mortos, mais de 77.000 feridos e milhares de desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com números atualizados das autoridades locais.
O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Leia Também: Egito aguarda resposta do Hamas sobre proposta de tréguas em Gaza
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com