A historiadora Guia Migani, co-autora do livro ‘Les années Barroso’, considera que Durão Barroso fez a uma "boa presidência" num momento difícil do projeto europeu, em que a crise se sucederam umas às outras.

"Penso que ele fez uma boa presidência numa situação muito sensível. Teve de trabalhar atrás do palco e fez uma boa parceria com presidente do Conselho Europeu", Van Rompuy, afirmou à Lusa a historiadora italiana, que recorda os últimos 10 anos como "cheios de acontecimentos", em que "cada vez que uma crise parecia resolvida, surgia outra".

Depois da crise institucional aberta pelos 'chumbos' do Tratado Constitucional nos referendos na Holanda e em França, veio a solução do Tratado de Lisboa. A seguir surgiria a crise financeira, transformada em crise das dívidas soberanas e crise económica e social, e mais recentemente a crise aberta pela posição da Rússia em relação à Ucrânia.

Sobre se, na gestão da crise económica, Barroso seguiu sobretudo a unipolar liderança alemã, como é muitas vezes acusado, Guia Migani recusou essa ideia, apesar de muitas das decisões adotadas terem acontecido na sequência de sugestões da Alemanha, acrescentou.

Defende Guia, que escreveu o livro sobre os 10 anos de Barroso em conjunto com o historiador francês Éric Bussière, que é necessário entender que "o 'timing' da Comissão Europeia não é o 'timing' dos Governos", que estão a mais curto prazo enquanto a Comissão tem de pensar "na União Europeia no futuro", a "longo prazo", e que isso nem sempre é entendido pelas opiniões públicas.

Migani exemplificou com a questão da Energia, em que a Europa tem tomado decisões importantes para melhorar a sua dependência energética, mas que só surtirão efeito em alguns anos.

Quanto à evolução da Comissão Europeia nos últimos 10 anos, Guia Migani considerou que o executivo comunitário ficou "mais forte", com mais instrumentos ao seu dispor para atuar, uma vez que o Tratado de Lisboa trouxe alterações nesse sentido e a crise obrigou a criar mecanismos para fazer face aos problemas que foram surgindo, como a maior coordenação das políticas económicas e orçamentais.

Em sentido contrário, a posição da Europa no mundo nestes 10 anos sofreu algum enfraquecimento. Até à crise económica "havia no G20 e no G8 [clubes que juntam as maiores economias do mundo] uma real liderança europeia" até pela "capacidade do Barroso de criar consensos", afirmou Guia, que identifica a crise como o momento em que isso se alterou.

"A posição da Europa valia muito mais no início. Não é culpa do presidente Barroso, mas da própria circunstância da União Europeia", sublinhou, acrescentando que a Europa está agora, novamente, a ganhar poder nos fóruns internacionais.