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Muitos responsáveis em Israel já se questionam sobre "o dia seguinte"

Lisboa, 08 mai 2024 (Lusa) -- A académica palestiniana Nadia Naser-Najjab defendeu em entrevista à Lusa que o fim da violência israelo-palestiniana depende de um "levantamento político e social" e garantiu que muitos responsáveis em Israel já se questionam sobre "o dia seguinte".

Muitos responsáveis em Israel já se questionam sobre "o dia seguinte"
Notícias ao Minuto

08:07 - 08/05/24 por Lusa

Mundo Médio Oriente

"Para terminar o que consideram a violência é necessário um levantamento político e social. Hoje, em Israel, mesmo responsáveis políticos, militares, dos serviços de segurança, perguntam ao [primeiro-ministro israelita Benjamin] Netanyahu como vai ser o dia seguinte. E ninguém sabe. Ele não quer o dia seguinte, recusa fornecer direitos e esperança à população para terminar com a violência", considerou.

Nadia Naser-Najjab, 61 anos, licenciada em Literatura inglesa pela universidade Birzeit (perto de Ramallah, na Cisjordânia) e com doutoramento na Universidade de Exeter, Reino Unido, participou terça-feira numa conferência organizada pelo ISCTE sob o lema "Estudos palestinianos: perspetivas e desafios", com uma intervenção intitulada "Contextualização da atual situação Palestina-Israel".

A perspetiva de um acordo geral de paz entre Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas ainda parece distante, apesar das negociações mediadas por diversos atores internacionais, com destaque para os Estados Unidos, e quando se completaram sete meses da ofensiva militar em Gaza após os ataques de 07 de outubro.

"Quando os acordos de Oslo foram anunciados em 1995, os palestinianos também celebraram a paz, e alguns ofereceram flores aos soldados israelitas em Ramallah. Mas quase de imediato Israel começou a bombardear casas e diversas regiões", recordou a investigadora.

Mas salientou anteriores momentos de cooperação entre palestinianos e israelitas, como sucedeu no decurso da primeira Intifada, em 1987: "Nessa ocasião estivemos juntos nas ruas, trabalhámos juntos, organizámos iniciativas comuns no decurso do movimento pacifista. Houve mesmo ativistas israelitas que nos protegiam dos ataques dos soldados, porque falavam com eles em hebreu".

Espacializada na "questão da Palestina" com ênfase no processo de paz, diplomacia, resistência e sociedade civil -- temas abordados em "Dialogue in Palestine: The People-to-People Diplomacy Programme and the Israeli-Palestinian Conflict" editado em 2020 e baseado na sua tese, na qual analisa os obstáculos e dificuldades que impedem a comunicação entre palestinianos e israelitas --, Nadia Naser-Najjab reconhece, contudo, que na atual situação os desafios são mais exigentes, e o desfecho ainda muito imprevisível.

"Atualmente os sentimentos nacionalistas estão no auge, mas quando a poeira assentar, como dizemos, não há outro caminho que não seja vivermos em conjunto. Integro a campanha por um Estado único e democrático, colaboramos com judeus israelitas, cada vez mais pessoas acreditam neste projeto", assegurou.

"Esta nova geração que protesta, que luta pela justiça para os palestinianos, que exige aos seus governos o fim dos investimentos em armamento para Israel, é uma geração que no futuro estará na liderança. Vai levar tempo, mas eventualmente Israel tem de compreender que esta opressão não pode continuar, para ambos os povos. É necessário garantir justiça para todos".

Nadia Naser-Najjab, que publicou este ano "Covid-19 in Palestine. The settler colonial context", onde argumenta que Israel utilizou a pandemia para reforçar a vigilância e controlo sobre a população palestiniana, perspetiva o futuro com imagens que insiste em reter do presente.

"Vi um pequeno rapaz em Gaza a ser agredido e ferido por militares israelitas, e que disse que quando crescer vai fazer o mesmo aos soldados. Estava a chorar. O que vai suceder após toda esta humilhação? As pessoas vão adorar os seus opressores e dizer que eram uns bons colonizadores? Não querem abandonar Gaza, não querem ir para o Egito onde a situação económica é grave. Dizem que, pelo menos, é a nossa terra, e que poderão construir, e reconstruir".

"Julgo que, no final, Israel terá de ser responsabilizado, talvez não nesta geração ou na próxima. Mas terá de prestar contas. No Reino Unido existe uma crescente contestação à Declaração Balfour (1917). As pessoas perguntam como foi possível prometerem uma terra habitada por palestinianos a outros, e sem qualquer direito para os palestinianos...", concluiu.

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