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Catalunha. Incógnita entre nova etapa socialista e regresso de Puigdemont

O Partido Socialista será o mais votado nas eleições regionais da Catalunha do próximo domingo, segundo todas as sondagens, mas a Generalitat poderá acabar de novo nas mãos dos nacionalistas e independentistas, como tem acontecido nos últimos 14 anos.

Catalunha. Incógnita entre nova etapa socialista e regresso de Puigdemont
Notícias ao Minuto

15:19 - 08/05/24 por Lusa

Mundo Catalunha/Eleições

As sondagens revelam que os socialistas conseguirão uma vitória clara no domingo, mas sem maioria absoluta, e que o segundo partido mais votado será o Juntos pela Catalunha (JxCat), do ex-presidente autonómico Carles Puigdemont, que protagonizou a declaração unilateral de independência de 2017 e vive na Bélgica desde então para fugir à justiça.

À espera de que seja definitivamente aprovada e entre em vigor uma lei de amnistia que negociou com os socialistas, Puigdemont é candidato nestas eleições e poderia voltar a ser presidente do governo regional da Catalunha (Generalitat) se os partidos independentistas tiverem, no conjunto, maioria no parlamento e se unirem mais uma vez para investirem um executivo nacionalista catalão.

No entanto, este ano, as sondagens estimam que essa maioria absoluta independentista pode não se concretizar, pelo que o cenário pós-eleitoral é incerto.

Tanto Carles Puigdemont como o candidato dos socialistas, Salvador Illa, ministro da Saúde de Espanha no primeiro ano da pandemia de covid-19, ganharam terreno nas últimas semanas, segundo a evolução das sondagens, em detrimento do atual presidente regional, Pere Aragonès, da também independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que surge nos estudos em terceiro lugar.

Quase sete anos após uma declaração unilateral de independência, a suspensão da autonomia pelas instituições do Estado espanhol, a detenção e prisão dos separatistas e protestos violentos nas ruas, os socialistas surgem pela primeira vez como claros vencedores de umas eleições autonómicas, à frente dos dois grandes partidos independentistas.

À frente do Governo de Espanha desde 2018, o Partido Socialista Espanhol (PSOE) de Pedro Sánchez concedeu indultos aos separatistas condenados, mudou o código penal para acabar com o delito de sedição que os tinha levado à prisão e de que outros estavam acusados (como Puigdemont) e avançou agora com uma amnistia.

Estas medidas foram negociadas com a ERC - que viabilizou todos os governos de Sánchez desde 2018 - e, no caso da amnistia, também com o JxCat de Puigdemont, de que passou também a depender, no ano passado, para continuar no cargo.

No discurso público e oficial, o PSOE justifica estas medidas de "desjudicialização de um conflito político" - que os adversários chamam de cedências aos independentistas - como o caminho necessário para recuperar a convivência na Catalunha e entre a região com o resto de Espanha e, assim, abrir uma nova etapa.

"A posição dos socialistas foi interessante e eu penso que foi bem-sucedida, a ideia de que o 'process' [tentativa de independência] acabou, já está, e agora vamos falar de políticas e deixamos a independência", explicou à Lusa o politólogo catalão Oriol Bartomeus, da Universidade Autónoma de Barcelona.

Esta "ideia de superação do conflito independentista" já era "o argumento do PSC [Partido Socialista da Catalunha] nas eleições anteriores, em 2021, mas então não colava e, agora, sim", acrescentou o professor de Ciência Política, para quem os socialistas beneficiam, ainda, nestas eleições, da "situação geral em Espanha", com um Partido Popular (PP) "muito à direita" que mobiliza o eleitorado do PSOE. 

Oriol Bartomeus acrescentou um "fator Illa", numa referência ao candidato socialista, que tem bons índices de popularidade e credibilidade.

Salvador Illa, de 58 anos, já foi candidato nas eleições autonómicas anteriores e foi também o mais votado, mas empatou em número de deputados com a ERC e a aliança independentista afastou-o do poder.

Nestes três anos, segundo o analista e colunista catalão Josep Martí Blanch, "esteve bem", fez "uma oposição tranquila", chegou "a ajudar" a ERC a aprovar orçamentos, sempre "sem menosprezar ou insultar o independentismo".

"Há muita gente, inclusivamente no nacionalismo moderado, que o vê como alguém capaz de acabar de estabilizar a Catalunha e que merece um voto de confiança", explicou à Lusa Josep Martí Blanch, antigo jornalista e ex-responsável pela comunicação dos governos regionais do nacionalista Artur Más (2010 a 2016, centro-direita). 

Josep Martí Blanch partilha da opinião de que os socialistas estão "a capitalizar os indultos" e a política para a Catalunha dos últimos anos, que no resto de Espanha gera "crítica e incompreensão".

"Mas na Catalunha, pela via dos factos, como estamos melhor do que estávamos há alguns anos, o Partido Socialista recebe este prémio", afirmou. 

O caminho do diálogo com os independentistas para recuperar a convivência na Catalunha em que tanto insiste o PSOE só foi possível por ter do outro lado, desde 2018, a ERC como interlocutora.

No entanto, ao contrário dos socialistas, a Esquerda Republicana não capitaliza esta decisão e é, nas palavras de Josep Martí Blanch, um Puigdemont "ressuscitado em grande" no ano passado, por ter eleito sete deputados decisivos para a recondução de Sánchez, que vai, aparentemente, recolher os frutos do acordo da amnistia de que ele próprio espera beneficiar-se em breve.

"Os socialistas conseguiram fazer um corte com o 'process', dizendo que é passado, mas a Esquerda Republicana não conseguiu fazer isso. Tentou, mas não conseguiu, e ficou num terreno intermédio", explicou Oriol Bartomeus, para quem a figura de Puigdemont, que "continua com a mística da confrontação", voltou a mobilizar eleitorado, ao contrário da ERC.

Além disso, acrescentou Josep Martí Blanch, a avaliação da gestão da ERC à frente do governo regional na última legislatura não é positiva, com críticas à forma como lidou com a seca (a maior da história da região e a maior preocupação dos catalães, segundo diversos estudos) e com muito impacto mediático perante a queda dos resultados na educação dos alunos catalães e dos problemas nos serviços de saúde primários.

No entanto, sendo a ERC, na metáfora de Josep Martí Blanch, "um partido com duas almas", uma de esquerda e outra independentista, estará à partida nas suas mãos a chave do próximo governo catalão, podendo aliar-se tanto aos socialistas como a Puigdemont, ou também bloquear qualquer solução, abrindo caminho à repetição das eleições. Para já, a ERC não fechou a porta a nenhum dos cenários.

Leia Também: Advogado-geral da UE condena veto a Puigdemont no PE em 2019

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