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Presidente turco relança guerra contra "cúmplices dos terroristas" curdos

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, relançou hoje a ofensiva contra aqueles que considera cúmplices do terrorismo -- deputados, jornalistas e intelectuais -- três dias após um atentado suicida em Ancara atribuído aos rebeldes curdos.

Presidente turco relança guerra contra "cúmplices dos terroristas" curdos
Notícias ao Minuto

20:20 - 16/03/16 por Lusa

Mundo Tayyip Erdogan

Perante deputados locais, Erdogan pressionou o parlamento, onde o seu partido dispõe de maioria absoluta, a levantar "rapidamente" a imunidade de cinco deputados do Partido Democrático dos Povos (HDP, pró-curdo) perseguidos por "propaganda" a favor do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK).

O chefe de Estado defendeu, mais uma vez, o alargamento do conceito de "crime terrorista" àqueles que apoiam a causa curda. Vários académicos e advogados pró-curdos foram detidos precisamente por esse motivo nas últimas 24 horas.

As cáusticas declarações de Erdogan surgem na véspera de uma cimeira em Bruxelas em que a União Europeia (UE) deverá redigir um novo acordo com Ancara para tentar pôr termo ao afluxo de migrantes que se concentram nas suas fronteiras.

Vários países da UE expressaram reticências em assinar um texto com os dirigentes turcos, acusados de deriva autoritária, e a chanceler alemã, Angela Merkel, recordou hoje que se manterá firmemente ao lado dos seus parceiros europeus quanto "à proteção da liberdade de imprensa e ao tratamento dos curdos".

Iniciada há meses, a guerra aberta por Erdogan contra o HDP endureceu desde o ataque suicida com viatura armadilhada de domingo à noite, o segundo em menos de um mês na capital turca, que fez 35 mortos.

O homem forte do país considera esse partido, a terceira força política do país desde as legislativas de novembro, a vitrina do PKK, o que o HDP desmente.

"Desculpem-me, mas já não considero atores políticos legítimos os membros de um partido que funciona como uma filial da organização terrorista (o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, ilegalizado)", declarou.

O seu Governo apresentou no parlamento um pedido de levantamento da imunidade de cinco deputados do HDP, entre os quais o seu emblemático líder, Selahattin Demirtas, que tinham exigido uma forma "de autonomia" para os 15 milhões de curdos da Turquia.

"Estamos muito preocupados por ver que o Presidente se comporta como se estivesse a dar instruções ao parlamento", reagiu um deputado da oposição, Özgür Özel.

Não satisfeito com o ataque aos deputados, Erdogan atirou-se hoje indistintamente a todos os ativistas da causa curda: "Os terroristas não são apenas aqueles que empunham armas, mas também aqueles que têm canetas na mão".

Colocado numa posição difícil por aqueles que o criticam por não ter impedido o atentado de Ancara, o chefe de Estado anunciou um aumento da repressão da "propaganda terrorista", um delito punido com cinco anos de prisão e que quer transformar num crime.

Desde o atentado, a polícia multiplicou em todo o país as detenções nos meios pró-curdos.

Hoje de madrugada, oito advogados foram detidos em Istambul e na terça-feira a justiça ordenou a encarceração até ao julgamento de três universitários da mesma cidade que assinaram, em janeiro, uma "petição pela paz", denunciando "massacres de civis" durante as operações efetuadas pelas forças de segurança contra o PKK desde a retomada do conflito curdo, no verão passado.

Um professor britânico da Universidade Bilgi de Istambul, Chris Stephenson, passou a noite sob custódia policial por ter distribuído apelos às armas do HDP e deverá ser expulso do país hoje à noite, segundo a imprensa turca.

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) condenou uma "campanha maldosa" de Erdogan para "proibir, punir e fazer calar todos os críticos na Turquia".

Em novembro, dois jornalistas do diário da oposição Cumhuriyet foram presos por um artigo em que acusavam Ancara de ter fornecido armas aos rebeldes islâmicos sírios. Foram depois libertados, mas serão julgados a partir de 25 de março e podem ser condenados a prisão perpétua.

No início deste mês, a justiça turca suspendeu outro jornal diário da oposição, o Zaman, próximo do inimigo figadal de Erdogan, o imã Fethullah Gülen.

Estas medidas desencadearam fortes críticas dos Estados aliados da Turquia.

Ao aproximar-se o Novo Ano Curdo, a 21 de março, vários governadores do país proibiram as celebrações por razões de segurança.

"Realizá-las-emos como previsto", reagiu o HDP, deixando augurar novas tensões.

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