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Catalunha? Júlia sabe o que quer para a Palestina mas não em quem votar

Júlia, acampada nos jardins da Universidade de Barcelona para pedir a libertação da Palestina e sanções a Israel, ainda não sabe em quem votar nas eleições catalãs de domingo por nenhum partido responder às questões que mais a preocupam.

Catalunha? Júlia sabe o que quer para a Palestina mas não em quem votar
Notícias ao Minuto

16:20 - 10/05/24 por Lusa

Mundo Catalunha

"Falta uma representação política que responda verdadeiramente aos interesses da juventude e da classe trabalhadora", disse à agência Lusa Júlia Meneses, de 23 anos, que já terminou o mestrado em saúde pública e epidemiologia e se prepara agora para as provas de entrada na carreira pública de saúde.

Consciência e ativismo político não lhe faltam: é uma das pessoas que está a coordenar o acampamento instalado no edifício histórico, do século XIX, da Universidade de Barcelona, no centro da capital da Catalunha.

Fala à Lusa entre as dezenas de tendas em que desde segunda-feira estão a dormir mais de 100 estudantes para chamar a atenção para a situação em Gaza e "o fim da cumplicidade do Estado espanhol e da Generalitat [o executivo regional catalão]" com "o genocídio" do povo palestiniano por Israel.

Júlia garante que seguiu a campanha das eleições de domingo e até os debates entre candidatos, mas não ouviu falar sobre aquilo que a preocupa: a capacidade de emancipação dos jovens, a dificuldade de recém-licenciados encontrarem um "trabalho digno", o acesso à habitação e o valor do salário mínimo.

"Acho que o independentismo não é o mais importante neste momento", acrescentou Júlia, para quem o separatismo agora está só "a servir para os políticos se atacarem uns aos outros", depois da tentativa falhada de autodeterminação de 2017, quando "não se cumpriram as promessas", levando à desmobilização de muitas pessoas e à perda de apoios para a causa independentista.

Júlia faz parte dos quase 40% de eleitores catalães que uma sondagem publicada na segunda-feira passada dizia estarem ainda indecisos sobre em quem votar no domingo.

Segundo todos os estudos, estes eleitores poderão ser decisivos para o resultado, por serem muitos e pela possibilidade de bloqueio político na Catalunha, onde não se vislumbra maioria absoluta para um partido ou para a "frente independentista" que há 14 anos consecutivos assegura que só há executivos regionais separatistas.

Isabel García, 68 anos, faz igualmente parte dos 40% de indecisos, mas também do eleitorado que após 2017 tem retirado força aos partidos independentistas.

Esta reformada do bairro de Sant Adrià, no leste da cidade de Barcelona, costumava votar na Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), atualmente à frente da Generalitat, mas desta vez não sabe em quem votar e atribui culpas ao Governo espanhol do socialista Pedro Sánchez, com quem está "muito dececionada".

"A ERC não era tão independentista, o Governo central não os apoiava tanto para fazerem tudo o que lhes passa pela cabeça", disse à Lusa Isabel García, para quem a "gota de água" foram os acordos mais recentes dos socialistas com o partido do ex-presidente regional Carles Puigdemont, "um fugitivo" que vive na Bélgica desde 2017 para escapar à justiça espanhola depois ter feito uma declaração de independência unilateral.

Já Elena, de 55 anos e empregada numa loja de roupa, não vê problemas nos acordos de Sánchez com os independentistas se contribuírem "para o bem comum", algo de que ainda não está totalmente convencida.

Elena também só vai decidir em quem vota "no domingo de manhã, quando acordar".

"A única coisa que sei é que não será no Puigdemont, nem no independentismo, nem nada dessas coisas. Vai ser num partido que defenda as pessoas ", disse à Lusa, numa das ruas de Sant Adrià.

Também Isabel e Elena gostavam que a campanha catalã se tivesse debruçado mais sobre outros temas, como os maus resultados na educação dos alunos da região, os problemas em alguns serviços de saúde ou a segurança.

Para Isabel, a criminalidade e a insegurança é mesmo aquilo que mais a preocupa, ao ponto de que, depois de anos a votar na esquerda independentista já lhe ter "passado pela cabeça votar no Vox", da extrema-direita espanhola.

"Ao menos são contra isto tudo, a começar pelo separatismo", disse Isabel.

Se no domingo se confirmarem as sondagens, passará a haver no parlamento autonómico da Catalunha dois partidos de extrema-direita - Vox e o independentista Aliança Catalã - naquilo que será um caso único e inédito em Espanha.

A Aliança Catalã apresenta-se essencialmente com um discurso considerado xenófobo e até racista, por associar a imigração à criminalidade e só querer autorizar a residência de estrangeiros na Catalunha depois de "assimilarem" a cultura e as tradições da região. Em simultâneo, defendem a independência unilateral e imediata.

É um discurso que não podia estar mais afastado daquele que impera na Universidade de Barcelona e no acampamento em solidariedade com a Palestina.

É aqui que está Amanda Vilar, 24 anos, estudante de Filologia Clássica e a única pessoa que durante toda a manhã, em diversos locais da cidade, disse à Lusa não estar indecisa e saber bem em que vai votar.

Será na Candidatura de Unidade Popular (CUP), um partido da esquerda independentista e aquele que "se foca um pouco mais do que os outros" nos problemas que interessam e preocupam Amanda: habitação, "emergência climática", direitos das pessoas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) e a preservação da língua catalã.

Sobre a independência, está fora da lista de preocupações e das prioridades de Amanda.

Depois de 2017, explicou, "as pessoas desencantaram-se um pouco", deixaram de acreditar que a independência era possível e o discurso dos partidos independentistas passou para "uma espécie de superestrutura em que se fala de coisas difusas como 'a mesa de diálogo com Madrid', mas sem propostas e ações concretas".

"Mas continua a ser algo importante para as pessoas porque está relacionada com a educação, a economia, a cultura, a língua catalã, coisas transversais ao nosso dia a dia", disse Amanda, antes de concluir que "nunca votaria num partido que não fosse independentista".

Desde 2017 que os governos catalães independentistas resultam de geringonças parlamentares porque os partidos que defendem a separação de Espanha deixaram desde então de ser os mais votados nas eleições regionais.

Este ano, deverá acontecer o mesmo e os socialistas chegam às eleições como favoritos. A incógnita desta vez é saber se a vitória do Partido Socialista impede a geringonça separatista e se se abre uma nova fase na Catalunha que, segundo os analistas, encerraria o "process", como ficou conhecida a tentativa de autodeterminação que culminou com os acontecimentos de 2017.

Leia Também: Catalunha. Campanha termina hoje com incerteza sobre o futuro governo

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