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Homem que inspirou 'Hotel Ruanda' "corre riscos" de ser torturtado

Os advogados do ruandês Paul Rusesabagina, homem que inspirou o filme "Hotel Ruanda" e salvou centenas de pessoas durante o genocídio contra os tutsis (1994), avisaram a ONU de que este corre "riscos no imediato" de ser torturado no seu país.

Homem que inspirou 'Hotel Ruanda' "corre riscos" de ser torturtado
Notícias ao Minuto

11:39 - 08/09/20 por Lusa

Mundo Paul Rusesabagina

Numa carta enviada ao relator especial da ONU sobre tortura, Nils Melzer, a que a agência de notícias espanhola Efe teve acesso hoje, os advogados apelam à "ação urgente" em nome de Rusesabagina, que também tem nacionalidade belga.

O antigo gestor "foi recentemente raptado e sujeito a uma entrega extraordinária do Dubai ao Ruanda e está atualmente a ser mantido sem contactos pelas autoridades ruandesas em Kigali", disseram os juristas na carta, datada de segunda-feira.

Rusesabagina "não tem tido qualquer contacto com a sua família, consultores jurídicos autorizados ou diplomatas belgas desde quinta-feira 27 de agosto", acrescentaram.

O Governo ruandês, afirmam, "não apresenta provas de vida desde segunda-feira, 31 de agosto, quando as autoridades em Kigali mostraram Rusesabagina algemado aos meios de comunicação social".

"Dadas estas graves violações dos direitos humanos e a anterior perseguição de longa data de Rusesabagina pelo Governo ruandês, ele está em risco imediato e grave de tortura ou tratamento ou castigo cruel, desumano e degradante", sublinham os advogados.

Por outro lado, exortam Nils Melzer a "investigar a situação e a comunicar imediatamente com o Governo ruandês, exortando-o a fornecer provas de que Rusesabagina ainda está vivo".

A carta foi emitida após o Presidente ruandês, Paul Kagamé, ter anunciado a prisão de Rusesabagina, por ser o líder de um "grupo terrorista".

Dada a controvérsia internacional gerada pela operação de detenção e as acusações de rapto pela família, Kagamé salientou que a detenção e transferência para o Ruanda foram feitas "legalmente" e que os "detalhes serão conhecidos muito em breve".

O Presidente fez estas declarações um dia após a Fundação Hotel Ruanda Rusesabagina ter emitido uma declaração denunciando que o detido não tinha acesso aos seus advogados, nem a visitas ou chamadas da sua família.

Rusesabagina, de acordo com a sua família, foi capturado em finais de agosto no Dubai, quando estava em escala naquele país, e transferido para o Ruanda.

O Presidente do Ruanda afirmou no último domingo que Paul Rusesabagina, retratado como herói no filme "Hotel Ruanda", será julgado por alegadamente apoiar a violência rebelde.

Na televisão da rede nacional, Paul Kagamé não explicou como é que Paul Rusesabagina foi levado para o Ruanda, onde está detido há mais de uma semana.

"Rusesabagina chefia um grupo de terroristas que matou ruandeses. Terá de pagar por esses crimes", disse Kagamé, na transmissão televisiva, na qual foi questionado por jornalistas e telespetadores locais e estrangeiros.

Ao sublinhar que "Rusesabagina tem o sangue de ruandeses nas suas mãos", o Presidente revelou que o julgamento será realizado abertamente e conduzido de forma justa.

"Queremos fazer as coisas da maneira correta", afirmou Kagamé, sem explicar como é que Rusesabagina, que viveu fora do Ruanda desde 1996, é cidadão belga e tem uma autorização de residência permanente nos Estados Unidos da América (EUA), apareceu no Ruanda na semana passada.

Kagamé lembrou que alguns cúmplices de Rusesabagina em alegadas atividades violentas já foram presos e enfrentam um julgamento em Kigali, capital do Ruanda.

A família e os apoiantes de Rusesabagina, no entanto, dizem que as autoridades ruandesas lhe negaram acesso a um advogado, quase uma semana depois de ter sido algemado e acusado de terrorismo.

A mulher de Paul Rusesabagina ligou para a prisão, mas não foi autorizada a falar com o marido. A família disse acreditar que foi "sequestrado" durante uma visita ao Dubai, já que nunca teria entrado num avião para a capital de Ruanda.

Não é certo quando é que Rusesabagina comparecerá em tribunal. A lei do Ruanda diz que um suspeito pode ficar em prisão preventiva por 15 dias, renováveis até 90 dias.

Paul Rusesabagina, 66 anos, tornou-se um adversário muito crítico de Paul Kagamé e viveu no exílio entre a Bélgica e os Estados Unidos, onde criou uma fundação que promove a reconciliação para evitar novos genocídios.

A Justiça ruandesa acusa-o de pertencer a "grupos terroristas", como a plataforma da oposição Movimento Ruandês para a Mudança Democrática (MRCD-Ubumwe), do qual foi fundador, e diz que possui armas militares que atacaram o território ruandês.

O trabalho de Rusesabagina no Hotel Mil Colinas inspirou o filme 'Hotel Ruanda' (2004), baseado na história deste influente homem de negócios hutu, casado com uma tutsi, que conseguiu proteger cerca de 1.200 pessoas dos militares e dos genocidas ao acolhê-las nas instalações da unidade hoteleira.

No entanto, a associação de vítimas do genocídio de Ibuka afirma que o seu papel de salvador no genocídio ruandês, no qual cerca de 800.000 pessoas foram mortas em pouco mais de 100 dias, tem sido exagerado.

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