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"É confrangedor ver oportunidades que país tem perdido"

Numa entrevista ao jornal Diário Económico, João Salgueiro, subsecretário de Estado de Marcello Caetano, faz uma retrospectiva do período após o 25 de abril e da crise que assola o país desde 2010, afirmando, de forma perentória, que se sente confrangido ao olhar “as grandes oportunidades que o país tem perdido nos últimos 40 anos”.

"É confrangedor ver oportunidades que país tem perdido"
Notícias ao Minuto

08:42 - 21/04/14 por Notícias Ao Minuto

País João Salgueiro

“É confrangedor, as grandes oportunidades que o país tem perdido nestes 40 anos. Os países mediterrâneos, que têm sol, tendem a achar que amanhã é igual a hoje e vão adiando as coisas. (…) Temos a tendência para sermos desmazelados”, referiu João Salgueiro em entrevista ao Diário Económico esta segunda-feira, referindo-se, em jeito de retrospectiva, ao período pós-25 de Abril.

Quanto aos problemas presentes enfrentados pela economia portuguesa e que tanto afectam os seus cidadãos, Salgueiro alerta para a natureza diferente da mesma, afirmando que ainda não percebemos a sua raiz e que o país não tem estratégia para o futuro.

“Esta crise não é como as duas que tivemos a seguir aos choques do petróleo. Esta crise não tem nada que ver com isso. É uma alteração do quadro das relações internacionais. (…) Achámos que na União Europeia, se fossemos bons alunos, seriamos recompensados. (…) Desde o 25 de abril não temos uma estratégia para Portugal”, alertou o antigo banqueiro.

Relativamente à necessidade de Portugal ter de ter recorrido a um programa de assistência financeira, João Salgueiro afirma que o país estava num “beco sem saída”, alegando que a situação real vivida era pior do que se perspetivava.

“Não defendi [um programa de assistência financeira], disse é que chegando ao beco onde estávamos, não tínhamos grandes alternativas. (…) Mas a situação era pior do que pensávamos, porque havia muita dívida clandestina. Uma parte do excesso de austeridade que estamos a ter é porque estamos a corrigir não apenas o défice, mas também as PPP, os atrasos das empresas públicas, as SCUT”, referiu o antigo deputado relativamente à situação enfrentada pelo país nos últimos três anos.

Porém, quanto à estratégia seguida pelo Governo e entidades internacionais, Salgueiro expressa a sua discordância com o caminho seguido, alertando para a necessidade da correção das políticas de austeridade seguidas até aqui.

“A austeridade não resolve nada. Temos de convocar os portugueses para mudarem de vida e terem melhor desempenho e não para reduzirem só a despesa. Podemos reduzir a despesa constantemente e não resolvemos o problema. Precisamos de mais competitividade”, alertou o antigo deputado social-democrata.

Neste sentido, João Salgueiro dá de forma concreta o exemplo de alguns países europeus que, à semelhança de Portugal, têm poucos recursos naturais passíveis de serem explorados, alertando para o enraizamento de uma mentalidade despesista e amiga do desperdício.

“Países sem recursos, como a Dinamarca, a Suíça ou o Luxemburgo, têm dos mais altos níveis de vida da Europa e também não é pela sua dimensão. Portanto, em Portugal, temos uma tolerância pela ineficácia, pelo desperdício, que não pode ser boa”, refere a este propósito.

Porém, o economista deixa uma perspetiva mais animadora para o país, referindo a capacidade que o país e os seus habitantes têm para se reinventarem, defendendo que, neste momento, o foco das políticas deve estar no combate ao desemprego e não em grandes investimentos públicos que pouco alterações estruturais produzem.

“As obras públicas que agora estão outra vez na moda, dão emprego durante uns meses, depois dão despesa. Como é que se reduz a carga fiscal, se não se aumentar a base tributária? Como é que se vai suportar o Estado Social? As pensões, a saúde, a educação, se não tivermos uma base económica mais forte”, refere relativamente a este tema, acrescentando que a economia lusa precisa de reagir e criar empregos.

“Para ter empregos, melhorar o nível de vida e suportar a Segurança Social, precisamos de desenvolver rapidamente o investimento produtivo em Portugal. E o imaginário das pessoas deve concentrar-se nisso”, atirou João Salgueiro, chamando a atenção para a necessidade de responsabilizar a classe política pelas suas decisões mas também para a necessidade de uma maior intervenção da população na forma como são conduzidas as políticas públicas.

“Estamos a complicar a vida às pessoas, a desencorajar a iniciativa. Isto enriquece o país?”, referiu relativamente aos sucessivos aumentos de impostos verificados nos últimos anos, virando-se depois para outro ponto e aqui dirigindo-se às gerações mais jovens: “As novas gerações foram criadas na ideia de que já não são donas do país. Querem ter maioridade para ter mais liberdades, mas as liberdades são para termos responsabilidade de escolher o que queremos. Mas as pessoas não querem escolher, acham que alguém o vai fazer por elas”, referiu em jeito de conclusão.

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