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"Mudança de paradigma" na defesa prometida na Alemanha tarda em chegar

A "zeitenwende" (mudança de paradigma), prometida por Olaf Scholz depois da invasão da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, tarda em chegar e já custou votos ao chanceler alemão.

"Mudança de paradigma" na defesa prometida na Alemanha tarda em chegar
Notícias ao Minuto

08:06 - 19/02/24 por Lusa

Mundo Ucrânia

O discurso de Scholz no parlamento alemão, três dias depois do início da guerra na Ucrânia, a 27 de fevereiro de 2022 anunciava ventos de mudança. Em concreto, o chanceler alemão destinava um pacote de 100 mil milhões de euros para a modernização da Bundeswehr.

O líder do governo alemão decretava que o investimento anual em Defesa seria aumentado para mais de 2% do produto interno bruto (PIB), um compromisso assumido em 2014 na Cimeira da NATO.

Mas, para o politólogo Lothar Probst, a 'Zeitenwende' na Alemanha não está a "avançar verdadeiramente".

"O objetivo de 2% da NATO para equipamento militar ainda não foi atingido, e a Alemanha precisa tanto de mais pessoal militar como de armas, muitas mais, para se poder defender", destacou em declarações à Lusa.

O politólogo Oscar Prust, investigador no Instituto de Investigação sobre a Paz e a Política de Segurança da Universidade de Hamburgo, admite que estão a ser feitos progressos, mas "muito lentos".

"Dos fundos extraordinários anunciados em 2022, de 100 mil milhões de euros, cerca de 24 mil milhões de euros já foram alocados. Por exemplo, para projetos que incluem o Puma, um veículo de combate de infantaria alemão, uma espécie de tanque. Outro dos projetos inclui os helicópteros de transporte pesado, o sistema de defesa aéreo Arrow", detalhou.

Prust considera que é "especialmente urgente" perceber se, e de onde vem a continuidade do financiamento.

"O ministro da Defesa, Boris Pistorius, disse publicamente que as Forças Armadas alemãs têm de estar pronta para a guerra, a palavra em alemão é 'kriegstüchtig'. Isso significa que há muito a fazer em termos de equipamento, treino, e recrutamento de pessoal", sustentou.

A guerra na Ucrânia começou pouco mais de dois meses depois de Olaf Scholz tomar posse como chanceler. O conflito acabou por mudar a agenda dos três partidos que formam a coligação, o Partido Social Democrata (SPD), os liberais do FDP e os Verdes.

"Depois de alguma agitação inicial, a coligação aprendeu que o apoio à Ucrânia é decisivo para o futuro da Europa. No primeiro ano, as prioridades do tratado de coligação mudaram. Tiveram de lidar com o facto de a Alemanha já não poder contar com o petróleo e o gás russos a preços baratos. Por esta razão, tentaram gerir esta crise e encontrar outros fornecedores de energia", explicou Lothar Probst.

Uma crise que foi resolvida com sucesso, acrescentou o professor emérito da Universidade de Bremen, mas que não evitaria fraturas futuras.

"No segundo ano, o ministro da Economia dos Verdes não conseguiu introduzir uma lei convincente para a troca de aquecimentos antigos em casas particulares por energia verde. Este foi o ponto de partida para muitos problemas e conflitos no seio dos parceiros da coligação, em particular entre os Verdes e os Liberais, mas também no seio da sociedade", apontou.

Os problemas agravaram-se depois do maior partido da oposição, a CDU (União Democrata-Cristã), ter recorrido ao Supremo Tribunal contestando o uso de fundos não utilizados na luta contra a pandemia, para a transformação da economia alemã com energia verde.

"Esta decisão acirrou o conflito no seio dos partidos da coligação e obrigou-os a rever os seus planos orçamentais para 2024 e a cortar certos subsídios. Este facto provocou uma onda de protestos, entre outros, por parte dos agricultores. Neste contexto, muitas pessoas retiraram a sua confiança neste governo", esclareceu Lothar Probst.

A popularidade de Olaf Scholz tem vindo as descer, e as sondagens não são favoráveis aos partidos da coligação, com o SPD a não ir além dos 15%, os Verdes com 13% e os Liberais com 4% dos votos.

"As sondagens dizem-nos que a coligação não irá vencer as próximas eleições. Mas a minha opinião pessoal é que tudo pode mudar até lá. As pessoas têm uma visão estreita do tempo, portanto acredito que os três, quatro meses prévios à votação sejam de facto os mais importantes para os partidos", considerou Oscar Prust.

Lothar Probst concorda que os números não estão do lado de Olaf Scholz.

"É considerado um chanceler fraco, com fraca capacidade retórica e sem qualidades de liderança. O seu partido, o SPD, perdeu mais de 10 pontos percentuais em relação às últimas eleições (...) Uma ressurreição política é muito improvável, mas em política nunca se sabe. Se a coligação resolver os seus conflitos internos e tiver um desempenho muito melhor até às próximas eleições nacionais, os números podem recuperar", rematou o analista político.

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