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Carlos Cruz diz que Portugal pagou milhares para receber Euro'04

Antigo apresentador de televisão era o presidente da Comissão de candidatura e contou episódios onde Gilberto Madaíl e José Sócrates estão envolvidos. O objetivo era comprarem votos de pessoas influentes que pudessem fazer lóbi a favor de Portugal.

Carlos Cruz diz que Portugal pagou milhares para receber Euro'04
Notícias ao Minuto

19:44 - 22/03/16 por Paulo Rocha

Desporto Autobiografia

O Campeonato da Europa de 2004 foi um sucesso e ainda hoje é recordado como um exemplo pela UEFA. Mas Carlos Cruz, presidente da Comissão Executiva da candidatura portuguesa à organização do Euro’04, revelou que Portugal comprou votos para poder receber a prova. Embora não revele os nomes dos países representados nas reuniões do organismo presidido (entre 1990 e 2007) por Lennart Johansson.

"O presidente da Federação desse país tinha manifestado o desejo de passar férias em Portugal. Alguém teve a ideia de oferecer as férias ao senhor e família. Fizemos as contas e, como ele não tinha datas escolhidas, levou-se um envelope com os dólares equivalentes ao cálculo das viagens e de uma semana de férias no Algarve. (…) À saída da reunião, Madail, discretamente, entregou-lhe o envelope. Como o dólar valia mais do que o sol do Algarve, o nosso amigo guardou o dinheiro e não pôs os pés em Portugal".

"Já em Aachen [Alemanha], fez chegar até nós a sua disposição de falar com mais um ou dois colegas amigos, de outras federações votantes. Percebemos a mensagem que nos chegou já perto da decisão. Madail encontrou-se com ele no quarto do hotel; disse-me que o encontrou em roupão e que o senhor ficou muito feliz com o segundo envelope que recebeu; penso que foram 12.500 ou 15.000 dólares. Não sei se angariou ou não algum voto; ao sair da sala onde tinha decorrido a votação mostrou-me um papel e apontando com o dedo disse-me com muito sotaque 'I vote Portugal…see…see.' Tinha escrito Portugal, Áustria, Espanha por esta ordem", pode ler-se na sua autobiografia, que será lançada esta quarta-feira.

Como principais intervenientes nas conversas surgem os nomes de Gilberto Madaíl, então líder da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), e de José Sócrates, ex-Ministro-adjunto de António Guterres. Carlos Cruz volta a dar um exemplo de uma outra situação, onde foi prometida uma casa no Algarve, mas não se sabe se chegou a ser entregue ou não. 

"Em conversa com um amigo meu, presidente de uma multinacional, referi-lhe o nome do presidente da federação de um país que tinha grande influência na decisão da Comissão do Euro. (…) Esse meu amigo, cuja multinacional tinha uma filial no país em questão, prometeu tentar obter informações sobre o indivíduo e a sua tendência de voto. (…) Foi no bar do Hotel Ritz que ele me informou: teríamos o voto garantido daquele país e a promessa de que faria lóbi a nosso favor junto de várias federações do Leste; em contrapartida queria uma vivenda no Algarve no valor de 100 mil dólares. Fiquei estupefacto, mas não comentei e prometi fazer as necessárias consultas. Telefonar-lhe-ia depois para comunicar a decisão".

"Falei com Madail e José Sócrates e foi este que me disse: 'Ó Carlos Cruz, não podemos perder isto por uma questão de dinheiro! Era o que faltava!' Perguntei-lhe se aquela afirmação era um 'sim' à proposta. Se garantisse o voto, era. Telefonei ao intermediário e disse-lhe exactamente isso. Foi seu um dos primeiros telefonemas que recebi logo a seguir à decisão da UEFA. Ainda hoje recordo a sua frase: 'I told you'. Também me lembro do que me veio à cabeça: e agora? Vamos mesmo ter de dar uma vivenda ao gajo?", conta Carlos Cruz, dizendo ainda que perdeu o contacto com o dirigente em questão, após ser muito pressionado.

"Os dias passaram. Finalmente chegou o e-mail que eu receava: esperava notícias para tratar do que havia sido acordado. Gilberto Madail dizia-me que não tinha nada a ver com isso e José Sócrates dizia-me para falar com Madail. Eu argumentava que não tínhamos a certeza de que ele votara em Portugal ou que tivesse angariado votos, não tínhamos acesso à ata da votação. Quando a pressão sobre mim atingiu o clima de quase ameaça, enviei um último e-mail dizendo-lhe que não tinha qualquer responsabilidade pois apenas confirmara indicações superiores; tal como ele, tinha sido um intermediário: ele, devia, por isso contactar a FPF ou o ministro José Sócrates. Nunca mais tive notícias sobre o assunto”, pode ler-se depois, cita o Sapo Desporto.

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