Depois de ter abatido o Sporting de Braga em Alvalade, numa das partidas mais complicadas deste início de temporada, o Sporting viajou este domingo até um dos redutos mais ingratos da história recente dos leões: o Algarve.

Depois da derrota, o ano passado, por 2-4, frente ao Portimonense, o leão viajou assombrado, igualmente, por um fantasma encarnado, o Benfica. É que esta temporada, na sua primeira deslocação oficial, para disputar a Supertaça, a equipa de Marcel Keizer tinha sido amassada por um inglório 5-0 precisamente na região sul do país. 

Ainda a cimentar processos, sem Bas Dost, com Vietto por afirmar-se numa dificuldade assumida pelo seu treinador de o compatibilizar com a figura da equipa (Bruno Fernandes), foi um Sporting avassalador e de brilhantismos individuais aquele que arrancou o jogo no Municipal de Portimão.

Com as garras do ataque 'afinadas', com Vietto a tocar na banda esquerda, mas vagabundo no ataque, com Bruno Fernandes ligeiramente mais recuado do que é habitual, e com Raphinha apontado com flecha no corredor direito, a entrada dos verde e brancos dificilmente poderia ter sido melhor.

Com um golo aos 2 minutos, num grande pontapé de Raphinha, com um golo de sintonia, aos 8, por Luiz Phellype, os verde e brancos só seriam surpreendidos no primeiro tempo por um erro de Mathieu, que cometeu falta na sua grande área e entregou golo à equipa da casa, que marcou por Rómulo.

Frente a um Portimonense ligado à corrente, com linhas anárquicas dos dois lados, o primeiro tempo teve vários momentos de loucura futebolística.

Na segunda parte, até fruto de alguma perda de energia, faltou a mesma magia do primeiro tempo ao futebol das duas equipas, mas Bruno Fernandes, puxando da sua já habitual magia, arranjou maneira de dar a Raphinha o bis que nunca tinha feito de leão ao peito e um suspiro de liderança que, quando se iniciou a temporada, parecia o mais distante possível da realidade.

Mas vamos às notas do jogo.

Figura: Raphinha. Mais discreto do que é habitual, mas sempre com intensidade no momento de sair para o ataque, o jovem jogador voltou a mostrar porque é alvo de cobiça estrangeira. Nos minutos iniciais do encontro, depois de receber uma bola na banda direita, fugiu à marcação dos defesas, arranjou espaço para o seu pé esquerdo e disparou para um dos tentos da jornada. Foi, sem dúvida, a figura do jogo, sendo que apenas Vietto e Bruno Fernandes se conseguiram aproximar do seu peso no momento de decisão. A decisão é talvez o fator menos 'pesado' pelos adeptos, mas o jovem brasileiro mostra que está cada vez melhor na hora de escolher entre o certo e o errado.

Raphinha marcou dois golos e assinou o seu primeiro bis com a camisola dos leões© Global Imagens

Surpresa: Quando todos apontavam a possibilidade de Plata se estrear, Marcel Keizer voltou, como há algum tempo já não o fazia, a surpreender. Deu ao mais dispendioso reforço da presente temporada a titularidade. Vietto, cujo técnico chegou a dizer que era incompatível com Bruno Fernandes, assentou como uma luva na estratégia montada para a equipa. Solto, mas a partir da banda esquerda, o argentino ex-Atlético Madrid mostrou durante todo o tempo que esteve em campo o porquê de tanta esperança no seu talento. Pautando jogo atacante, encontrando linhas de passe, saindo a jogar, mostrou alguns argumentos mas certamente não todos os que tem no seu menu. 

Foi titular pela primeira vez em jogos oficiais e começou a mostrar perfume de número 10© Global Imagens

Desilusão: É difícil atribuir este título a alguém na partida. O jogo esteve louco, por vezes até partido, mas o único setor que realmente falhou foi o ataque do Portimonense. Acumulando remates e jogadas atacantes, pedia-se, talvez, um pouco mais a Iury no momento da finalização. No cômputo geral, nenhum atleta se destacou pela negativa, sendo o nível médio da partida, para a realidade portuguesa, foi bastante agradável... sobretudo para quem esteve no lugar de espectador.

António Folha: O treinador dos algarvios já nos tinha habituado a montar equipas agradáveis de ver. O futebol dos seus pupilos é desempoeirado, raramente a equipa se retraiu de procurar o ataque, isto apesar de ter entrado praticamente a vencer. Foi, talvez, pouco cauteloso na abordagem aos minutos iniciais da partida, podia ter fechado mais o bloco, mas talvez tenha sido surpreendido por uma entrada do leão como já não se via há algum tempo. Soube arriscar no segundo tempo, movendo peças para tentar agitar a partida, mas as suas opções não mexeram com o jogo ao ponto de desequilibrar um leão que se mostrou organizado.

Marcel Keizer: Surpreendeu ao pôr Vietto no onze titular e parece ter arranjado fórmula para compatibilizar o argentino com Bruno Fernandes. Ainda não afinou todos os processos defensivos da equipa, que continua, numa análise aos poucos jogos já disputados, a ser o ponto fraco dos verde e brancos. As transições para o momento defensivo continuam a ser o gritante calcanhar de Aquiles da sua equipa e o técnico, quiçá à moda holandesa, não parece ainda ter dedicado o tempo suficiente para arranjar o cimento para fechar os caminhos para a sua baliza.

O árbitro: Carlos Xistra poderia ter sido mais assertivo, sobretudo em lances em que não pareciam restar grandes dúvidas sobre qual a decisão certa. Mereceu críticas dos dirigentes verde e brancos no final da partida, mas sobretudo pela forma como lidou com as instruções do VAR. Não teve uma partida difícil de gerir e, por isso, não deverá ter nota negativa numa análise global.