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Lisboa na Feira do Livro de Buenos Aires (sem evocação do 25 de Abril)

A programação de Lisboa para a Feira do Livro de Buenos Aires não contempla iniciativas evocativas do 25 de Abril, mas a própria participação portuguesa, com tantas mulheres, é em si demonstrativa das conquistas da revolução, considera a curadora.

Lisboa na Feira do Livro de Buenos Aires (sem evocação do 25 de Abril)
Notícias ao Minuto

17:54 - 25/04/24 por Lusa

Cultura 25 de Abril

No dia em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril de 1974, o mesmo dia em que abre a Feira Interacional do Livro de Buenos Aires, com Lisboa como cidade convidada de honra, não há nenhuma cerimónia ou iniciativa evocativa, ou meramente alusiva, a este acontecimento e à sua celebração.

Nos dias que se seguem, até ao encerramento da feira, a 12 de maio, a Revolução dos Cravos continuará ausente do programa, sendo apenas indiretamente visada num evento que celebra as "três Marias".

"Não pensei numa hipótese de evocar o 25 de Abril, para já porque estamos longe do país, mas não só por isso, na verdade, ele está tão presente, está tão entranhado, completamente, estamos imbuídos desse espírito, que, senão, não seria possível a nossa presença", explicou Carla Quevedo.

Segundo a curadora, apesar de a programação não evocar diretamente o momento que é hoje fortemente celebrado em Portugal, e até noticiado pela imprensa estrangeira, só o facto de Lisboa ser convidada de honra, de haver uma presença portuguesa e "muito significativa de autoras mulheres", e de se poder falar livremente é uma celebração e uma evocação do momento.

Como exemplo, referiu uma sessão de leitura de poesia de Rosa de Oliveira, nas chamadas jornadas profissionais, que foi traduzida no âmbito de um projeto intitulado "Escola de Outono", organizado pela Associação de Tradutores Argentinos, um coletivo de tradutores que traduz em conjunto com os escritores as suas obras, em contacto permanente com o autor.

"Esse trabalho foi feito e o resultado foi ontem, numa sessão que estava cheia. Como é que isso seria possível sem termos o 25 de Abril? Toda a nossa presença aqui só é possível porque existiu o fim da ditadura", afirmou.

A única iniciativa em que a curadora pensou mais, que de alguma forma cruza a literatura com o 25 de Abril, foi a de "celebrar as 'três Marias', que será mais no ciclo de cinema", que vai exibir um documentário sobre as três autoras das "Novas Cartas Portuguesas", Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno.

"Também há um ensaio da Joana Meirim, que se chama 'O essencial sobre as três Marias', e haverá uma conversa em torno de obras literárias que são também factos políticos, tendo como base precisamente, e partindo de, as 'Novas Cartas Portuguesas' e do ensaio de Joana Meirim", acrescentou.

Quanto às expectativas da curadora para o certame, que hoje tem o seu primeiro dia, "são altas", devido ao "leque de autores muito diversificado e com muita qualidade que pode suscitar o interesse do público argentino, dos editores, dos eleitores, do público em geral".

Carla Quevedo espera que "as pessoas adiram o mais possível às atividades propostas, tanto em mesas só com autores portugueses, como nas mesas com autores portugueses e argentinos" e, preferencialmente, "que o interesse que os editores possam ter pelos nosso autores se traduza em traduções".

"Seria ideal que os nossos autores fossem traduzidos e publicados aqui na Argentina, vamos ver, as condições económicas não são as melhores, estamos num momento que será de transição, provavelmente, para este país, de mudança estrutural, ou não, não sabemos ainda o que é que é, há uma grande incerteza, mas vamos ver. Há um interesse sempre muito grande pela cultura, pelas atividades culturais, pela leitura, vamos ver se permanece", afirmou.

Além da situação económica e da inflação do país, notícias recentes dão conta de que os argentinos estão a deixar de comprar livros, com uma queda de cerca de 30% nas vendas em janeiro, o que se explica por publicações cada vez mais inacessíveis, devido ao elevado preço dos livros, nomeadamente por causa do aumento do valor do papel, e aos baixos salários.

A sessão de abertura decorre hoje ao final do dia, com um mesa que junta dois ilustradores (André Letria e Sara Feio), dois poetas (Frederico Pedreira e Rosa Oliveira) e dois autores de banda desenhada (Júlia Barata e Filipe Abranches), para falarem sobre Lisboa, sobre que cidade é essa, para cada um deles, e como os inspira.

O escritor Afonso Reis Cabral, que deveria participar nesta conversa, não vai poder estar presente por motivos pessoais, lamentou Carla Quevedo, assinalando que a apresentação pública prevista também para hoje do seu romance "Pão de Açúcar", baseado no homicídio da transexual Gisberta por um grupo de rapazes no Porto, foi cancelada.

Carla Quevedo assinalou que, mais uma vez, esta seria uma conversa em que Abril estaria presente, porque se fala de identidade, de liberdade e do que ainda há para conquistar, 50 anos depois.

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