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Adesão a observatório "permitiu que a comunidade astronómica crescesse"

A adesão de Portugal ao Observatório Europeu do Sul (OES) permitiu que a comunidade de astrónomos crescesse no país, abriu oportunidades de negócio para empresas e catapultou as ciências do espaço para a notoriedade nas estatísticas oficiais.

Adesão a observatório "permitiu que a comunidade astronómica crescesse"
Notícias ao Minuto

21:00 - 26/06/20 por Lusa

Tech Observatório Europeu do Sul

A visão foi traçada à Lusa por investigadores e empresas. "Até cerca de 1990 não existia uma comunidade de investigadores em astronomia no nosso país", sustenta o astrofísico André Moitinho de Almeida.

O coordenador da participação nacional na missão europeia Gaia, que visa estudar a formação, estrutura e evolução da Via Láctea, recorda que a comunidade de astrónomos começou a crescer em Portugal a partir de 1999, depois de um acordo de pré-adesão ao OES, em 1990, ter permitido que uma parte da quota financeira para a organização fosse utilizada na formação de pessoas, a maioria fora de Portugal, e em centros de investigação.

"Chegando a 1999 já tínhamos algumas dezenas de astrónomos muito ativos, o que levou à criação da Sociedade Portuguesa de Astronomia", conta o investigador do Centro de Astrofísica e Gravitação (Centra), que preside a esta sociedade científica desde 2010.

O acesso às observações com telescópios do OES, viabilizado com o acordo de adesão assinado por Portugal em 27 de junho de 2000 e depois consolidado com a adesão plena do país como membro do observatório em 07 de maio de 2001, "permitiu que a comunidade astronómica crescesse, ao atrair alunos de mestrado e doutoramento e também investigadores estrangeiros".

"Tínhamos passado de quase zero a uma comunidade, com mais de 100 investigadores, muito ativa e preparada", sublinha André Moitinho de Almeida, assinalando que a astronomia "passou a atrair" investigadores de outras áreas científicas, engenheiros e a indústria.

Tal propiciou a Portugal a capacidade de conceber instrumentos de ponta para o OES e participar em missões da Agência Espacial Europeia (ESA) e na construção de grandes equipamentos, como o ELT, que será o maior telescópio ótico do mundo, no Chile, e o radiotelescópio SKA, igualmente o maior do género e a instalar na Austrália e na África do Sul.

O delegado científico português no Conselho do OES, Paulo Garcia, realça como um dos contributos da ligação de Portugal ao observatório a formação, entre 1990 e 2010, de investigadores que "internacionalizaram fortemente a área das ciências do espaço - astronomia, astrofísica e gravitação - em Portugal ou falada em português".

Citando a Direção-Geral de Estatísticas de Educação e Ciência, o investigador e docente da Universidade do Porto, com trabalho publicado sobre gravitação, refere que "as ciências do espaço são a área científica com maior impacto em Portugal", atribuindo tal façanha ao "sucesso científico" da adesão do país ao OES.

"O retorno científico para Portugal é superior em percentagem à contribuição financeira para a instituição", enfatiza, lamentando, no entanto, que haja "poucas empresas" a trabalharem com o observatório e que a ligação das universidades às empresas seja "ainda reduzida".

Segundo Paulo Garcia, "a participação de empresas nacionais" no desenvolvimento de tecnologia e instrumentos para o OES, em conjunto com a academia, "deve ser implementada" no observatório com um programa específico, à semelhança do que já acontece na ESA.

A presidente da agência espacial portuguesa Portugal Space, Chiara Manfletti, reconhece que Portugal, ao contrário de países como França, Alemanha, Itália, Reino Unido ou Espanha, não tem um programa de âmbito nacional que promova o "desenvolvimento de instrumentos científicos" por parte das "comunidades científicas".

Chiara Manfletti considera que a criação de tal programa "é da máxima importância", uma vez que serviria "para acompanhar os investimentos feitos por Portugal no OES, e noutras infraestruturas intergovernamentais e internacionais relacionadas com as ciências do espaço, para maximizar o rendimento científico e apoiar o crescimento de uma comunidade científica de excelência".

A dirigente da Portugal Space lembra que o país, desde que aderiu ao OES e à agência espacial europeia, assistiu ao "aumento da capacidade da indústria e das instituições de investigação", tendo o espaço se tornado num "setor de crescimento".

A Critical Software, desde 2015, e o ISQ (Instituto de Soldadura e Qualidade), desde 2004, são duas das poucas empresas portuguesas que colaboram com o OES.

Atualmente, o ISQ está a apoiar, com uma equipa na Alemanha, na "engenharia de garantia de qualidade" do novo telescópio ELT, desde o fabrico dos equipamentos até à sua montagem e integração no telescópio, descreve o gestor de negócios do ISQ para esta área, Paulo Chaves.

Como mais-valia da adesão de Portugal ao Observatório Europeu do Sul, Paulo Chaves elenca "a oportunidade da participação das empresas nacionais em projetos internacionais de grande complexidade técnica e organizacional", um ganho que, a seu ver, pode levar, "num círculo virtuoso", à "participação em outros projetos de complexidade equivalente ou superior".

Idêntica expectativa tem Ricardo Armas, que dirige o departamento de desenvolvimento de negócio para os setores do espaço, aeroespacial e defesa na Critical Software, que começou a colaborar com o OES através de um projeto de "verificação e validação" de 'software' para o telescópio ELT.

"O projeto tem um alcance temporal relativamente longo e poderá durar, previsivelmente, até ao fim da fase de construção do telescópio", estimou Ricardo Armas, que espera que a Critical Software possa estar envolvida na "fase de operações" do ELT, com início previsto para 2025, e noutros equipamentos do Observatório Europeu do Sul, como o telescópio VLT e o radiotelescópio ALMA, que terá como sucessor o radiotelescópio SKA, em cuja construção a empresa também participa.

Leia Também: Observatório Europeu do Sul permitiu ser-se astrónomo em Portugal

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