Carlos Ferreira, empregado de mesa recordista. Hoje é o homem da bandeira
Carlos Ferreira, empregado de mesa reformado mas vestido a rigor, foi dos populares que mais se destacou hoje junto do Mosteiro dos Jerónimos quando chegaram os restos mortais de Mário Soares, quando durante horas empunhou uma grande bandeira nacional, praticamente a única visível.
© Global Imagens
País Cerimónia Fúnebre
"Gostava de estar ali mais perto da entrada, se me deixarem mas estou a pensar ficar aqui umas horas, se calhar até à noite", diz à Lusa, vestido de branco, o antigo fato de "garçon" e a bandeira empunhada sem vacilar nos seus 76 anos.
Carlos foi, pela bandeira, dos populares mais fotografados quando o largo em frente dos Jerónimos se enchia de gente para bater palmas à urna contendo os restos mortais do antigo Presidente. Ficou uma hora depois quase sozinho por ali, quando finalmente pôde cumprir a sua vontade e deslocar-se para a porta do mosteiro.
"Faço-o com honra e não por protagonismo. Honro a bandeira, honro a minha profissão", diz à Lusa, ar solene, o mesmo com que acompanhou a chegada do presidente da Assembleia da República e do Presidente da República, que viu chegar o carro com o corpo de Mário Soares, que enfrentou as câmaras e alguns microfones.
E Mário Soares? Que se lembra da primeira vez que o viu, a colar cartazes de Humberto Delgado, ainda no tempo do Estado Novo, e que o serviu muitas vezes enquanto empregado de mesa, nos hotéis por onde passou, "os melhores da Europa".
E desfila: passou pelo Luso, pelo Buçaco, pelo Estoril, e terminou em Lisboa. "Soares faz-me lembrar o verdadeiro 25 de Abril", diz sem explicar porquê, a vontade de contar mais de si, da sua vida, das três vezes que foi pré-candidato a Presidente da República, da 'Casa do Gaiato' onde cresceu, do seu nome no Guiness por maratonas com uma bandeja na mão, de Braga a Lisboa em cinco dias, por exemplo.
Hoje o dia não é para maratonas mas para ficar quieto, bandeira a ondular num pau adornado com flores (de plástico) vermelhas e brancas. Em frente do Mosteiro, como ele, ficaram os jornalistas, alguns polícias e algum povo que espera em fila para assinar o livro de condolências.
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