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MP deduziu acusação contra portugueses retidos em Díli há dois anos

O Ministério Público timorense deduziu acusação, pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais e falsificação documental, contra um casal de cidadãos portugueses que está retido em Díli há dois anos.

MP deduziu acusação contra portugueses retidos em Díli há dois anos
Notícias ao Minuto

14:23 - 05/10/16 por Lusa

País Timor-Leste

A acusação foi assinada pela procuradora timorense Angelina Joanina Saldanha no passado dia 29 de julho mas os arguidos, Tiago Guerra e a sua mulher Chang Fong Fong Guerra, só foram notificados na terça-feira, confirmaram hoje os próprios à Lusa.

Coarguido no mesmo processo e acusado dos mesmos crimes está o cidadão norte-americano Bobby Boye, um ex-conselheiro do setor petrolífero que defraudou o Governo timorense e que, em outubro de 2015, foi condenado por um tribunal federal norte-americano a seis anos de prisão e a devolver mais de 3,51 milhões de dólares a Timor-Leste.

Na acusação, à qual a agência Lusa teve acesso, a procuradora considera os três arguidos responsáveis pela autoria material em concurso real e na forma consumada dos três crimes.

Como provas, além de documentos contidos no processo, o MP timorense apresenta quatro testemunhas incluindo o ex-vice-ministro das Finanças, Rui Hanjam, dois outros funcionários do Ministério das Finanças e a atual ministra, Santina Cardoso.

A procuradora defende a manutenção das medidas de coação, considerando até que "se reforçaram os pressupostos que determinaram a aplicação" dessas medidas.

Pede ainda que os três arguidos sejam condenados a pagar uma compensação civil no valor do que dizem ser as perdas do Estado timorense, que totalizam 859.706,30 dólares.

No caso do crime de peculato e de branqueamento de capitais as pena máximas previstas no Código Penal timorense são de 12 anos de cadeia e para o crime de falsificação de documentos a pena máxima é multa ou três anos de prisão.

"É revoltante. Depois de lermos esta acusação, que demorou dois anos a ser feita, comprovamos que não tem qualquer fundamento ou qualquer prova", disse à Lusa Tiago Guerra que chegou a estar preso preventivamente à espera

"Sabendo agora do que somos acusados temos a certeza de que são acusações sem qualquer base ou fundamento. A acusação mostra que não há qualquer motivo para nos terem mantido aqui dois anos com a nossa vida em suspenso, longe dos filhos e do resto da família", disse.

Tiago Guerra sustenta que os crimes de que são acusados não são fundamentados e mostra-se surpreendido, entre outros aspetos, pela acusação de peculato, crime que segundo o código penal timorense se aplica apenas a funcionários públicos.

"Vamos estar preparados para nos defender, assim que tivermos acesso às provas e materiais apreendidos atualmente pelo Ministério Público, aos autos bem como ao resto do processo", garantiu.

Fong Fong Guerra admite estar "muito assustada" e considerou que o casal está a ser julgado neste processo porque as autoridades timorenses "não conseguiram capturar o Bobby Boye em Timor-Leste".

"Estamos a ser postos aqui no mesmo saco que alguém que defraudou o Estado", disse.

"Nós não cometemos nenhum destes crimes. Por isso sempre pensámos que depois da investigação que se ia arquivar o processo. Como pode haver acusação se não cometemos qualquer crime?", questionou.

O Tribunal de Díli terá que ser pronunciar sobre a acusação, se a aceita ou se a devolve ao Ministério Público e, caso a aceite, marcará a data do arranque do julgamento.

Tiago Guerra e a mulher só foram ouvidos pelo MP em junho último, mais de 20 meses depois de ser detido, estando há quase dois anos impedido de sair do país e com termo de identidade e residência.

Tiago Guerra foi detido para interrogatório a 18 de outubro de 2014, passou três dias na esquadra da polícia de Caicoli e a 21 do mesmo mês foi ouvido no Tribunal de Díli, quando o juiz ordenou a sua prisão preventiva, entrando na cadeia de Becora, onde ficou preso até 16 de junho do ano passado.

Desde aí está, como a mulher, com Termo de Identidade e Residência (TIR) e impossibilitado de sair do país.

No pior cenário, se o processo avançar para julgamento e mesmo sem considerar eventuais penas de prisão, o casal poderá ficar ainda vários anos impedido de sair de Timor-Leste até que se conclua o julgamento e eventuais recursos.

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