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Alunos e idosos trocam cartas por sorrisos

Deolinda Batista e Amélia Valente, utentes do centro de dia da Cáritas Paroquial de Oliveira de Conde, em Carregal do Sal, sentem-se especiais sempre que recebem cartas da Matilde e da Maria, alunas de uma escola do concelho.

Alunos e idosos trocam cartas por sorrisos
Notícias ao Minuto

12:47 - 15/11/15 por Lusa

País Carregal do Sal

A Matilde e a Maria são apenas duas das alunas de uma turma da Escola Aristides de Sousa Mendes (Cabanas de Viriato) que, desde janeiro de 2014, troca correspondência mensalmente com os cerca de 20 idosos do centro de dia, no âmbito do projeto "Uma carta por um sorriso".

"O envelhecimento arrasta vários sentimentos e vários fatores negativos, como a solidão, a angústia, a falta de afeto e, principalmente, a falta de atenção", disse à agência Lusa a técnica superior de animação socioeducativa Cristina Batista.

Por outro lado, os idosos referiam-lhe com frequência que os jovens antigamente se preocupavam com os mais velhos, mas que hoje "passam por eles e muitas vezes os ignoram".

"Eu sou mãe, tenho uma filha e se nós refletirmos e pararmos um bocadinho eles têm razão", frisou.

A pensar nesta realidade, a Cáritas Paroquial de Oliveira de Conde arranjou uma turma que se comprometeu a garantir resposta às cartas dos idosos. Os alunos estavam na altura no quinto ano e agora, no sétimo, preparam já a primeira carta deste ano letivo.

"Isto é uma gota no oceano, mas é sempre bom", considerou Cristina Batista.

A primeira carta serviu de apresentação e, desde então, não tem faltado assunto.

"Há sempre um sentimento. A troca de informação, a troca de mensagens, começa a suscitar e a promover esses sentimentos e isso foi visto aqui, foi muito gratificante", contou.

No final de maio, os alunos foram conhecer os idosos e levaram-lhes música, presentes e muita animação, um encontro que, segundo Cristina Batista, foi "muito emocionante" e motivou muitas lágrimas.

"Ela queria que eu tivesse saúde. Viu-me com as bengalas e ficou muito triste, coitadinha", disse Deolinda Batista, de 88 anos, ao recordar como foi o dia em que conheceu a Matilde, uma menina "muito meiguinha".

Depois da pausa das férias de verão, a idosa aguarda agora ansiosamente as novidades que o correio lhe trará.

"Estou ansiosa por a ver outra vez, por saber a vida dela, se passou de ano, se vai bem nos estudos. A gente também gosta de saber", referiu.

Amélia Valente, de 84 anos, não para de gabar a sua "Mariazinha", ou seja, a Maria Cardoso, admitindo estar "morta por a ver" e por receber mais uma carta dela, à qual promete dar resposta rápida.

"Vou-lhe contar que gostei muito de a conhecer e dizer que quando ela puder que me venha visitar", avançou.

Na escola, Maria Cardoso e os seus colegas de turma já começaram a "alinhavar" as cartas que vão mandar aos idosos.

Maria Cardoso, de 11 anos, lembra-se bem da primeira carta que recebeu de Amélia Valente e da descrição que ela fazia e que confirmou corresponder à realidade.

"Dizia que gostava muito de doces. Era divertida, porque gostava de jogar dominó e bingo. Também dizia que lhe doíam muito as pernas e eu pensava que ela era preguiçosa, que não se queria levantar da cadeira", gracejou.

A jovem admitiu que, nos quase dois anos deste projeto, mudou o relacionamento que tinha com os idosos, mesmo com os avós.

"Agora já penso mais neles, penso que um dia serei como eles e que também gostava que alguém se interessasse por mim", afirmou, considerando que, apesar de muitos dos idosos terem família, é importante para eles saberem que alguém de fora se preocupa com eles.

Laura Sousa, de 12 anos, que troca correspondência com Eduarda Costa, também sente que ficou mais sensibilizada para os problemas da terceira idade.

Na sua opinião, com projetos como este, os jovens aprendem "a estar melhor na vida e como lidar com ela, porque eles são um testemunho", ficam a conhecer "a realidade dos centros de dia" e passam a olhar para os idosos com outros olhos.

"Ajudou imenso, não só com a minha idosa, mas com todos os que estão lá no centro de dia. Nós aprendemos como lidar melhor com eles, a saber ter mais paciência, a ouvir, porque eles também têm para nós e nós temos que corresponder", sublinhou.

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