Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
13º
MIN 12º MÁX 17º

Câmara critica processo de libertação de linces ibéricos

A Câmara de Mértola criticou hoje o processo de libertação de um casal de linces ibéricos no concelho, no âmbito da reintrodução da espécie em Portugal, considerando-o "apressado, mal preparado, incorreto e até em desconsideração da população" local.

Câmara critica processo de libertação de linces ibéricos
Notícias ao Minuto

21:25 - 16/12/14 por Lusa

País Mértola

Num comunicado enviado à agência Lusa, a autarquia frisa que não participou diretamente no processo, mesmo considerando que é "muito importante para a recuperação de uma espécie em vias de extinção".

Segundo a autarquia, o Ministério do Ambiente decidiu "avançar com o processo de reintrodução sem acautelar tudo o demais, ao estilo de 'faça-se a ponte que o rio logo chega', que é como dizer solte-se o lince que depois obrigamos todos a aceitá-lo".

"Não basta soltar o lince, para o processo ser responsável, têm de se criar condições para o manter, o que não aconteceu", refere a autarquia, criticando o território escolhido para a libertação de um casal de linces ibéricos ocorrida hoje no concelho de Mértola, a primeira em Portugal de exemplares da espécie criados em cativeiro.

O casal foi libertado e irá viver, numa primeira fase, num cercado de solta branda, onde terá um período de aclimatação, acompanhado por técnicos, que tomarão a decisão de o libertar posteriormente na natureza.

O território escolhido "é cruzado por imensas estradas, que, além de não permitirem ao animal o sossego exigido, são um perigo constante devido às fortes possibilidades de atropelamento", alerta a autarquia, frisando que há "outras zonas com menos presença do homem e mais apetecíveis para a espécie que deveriam ter sido as escolhidas".

A autarquia afirma que a decisão de escolha do concelho de Mértola para a reintrodução do lince ibérico em Portugal não lhe foi "oficialmente comunicada", mas, apesar disso, desde logo procurou "ter um papel responsável e consensual no processo".

No âmbito do processo, "permanecem muitas questões por responder, que podem implicar diretamente nas atividades que se desenvolvem" no concelho, alerta a autarquia, referindo que "não houve preocupação em ganhar a simpatia e a boa opinião dos residentes no território para o projeto", porque "foi tudo gerido do ponto de vista estritamente político, apressado".

Segundo o município, escolheu-se "talvez a pior altura" para a libertação do casal de linces ibéricos, "depois da época de caça", durante a qual foram abatidos coelhos bravos, a base da alimentação da espécie.

Por outro lado, refere, o casal foi libertado numa área onde "claramente não há o número de coelhos bravos por hectare exigível para uma solta com sucesso, tudo levando a crer que os números apresentados de 3,5 coelhos por hectare foram erro de contagem ou adulterados".

A Câmara de Mértola sublinha que a sua posição será "desfavorável" à reintrodução de lince-ibérico até que sejam criadas algumas condições e dadas respostas a algumas perguntas, como a auscultação à população do município e a explicação sobre todo o processo de reintrodução.

A autarquia também defende a criação de condições para que a população de coelho bravo atinja os números necessários para a sobrevivência do lince ibérico e acordos sectoriais com todas as partes afetadas, como agricultores, caçadores e gestores de caça, pastores e donos de terrenos, que ficaram abrangidos na área de residência alargada do lince.

Os acordos servirão para assegurar às partes afetadas que as suas atividades "não são condicionadas ou restringidas pela presença do felino" e serão financiadas para desenvolverem práticas adequadas à manutenção do lince no território.

Sem estas condições criadas, refere a autarquia, o processo "dificilmente" irá ter sucesso, porque "a esmagadora maioria" dos caçadores e gestores de caça, agricultores e donos de terrenos "não concorda" com ele e o Ministério do Ambiente firmou a decisão de libertar o lince no concelho "apenas na concordância de poucos proprietários, que no seu conjunto têm menos de 5.000 hectares não contíguos".

Recomendados para si

;
Campo obrigatório