Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
13º
MIN 12º MÁX 17º

Suspeitas sobre quem sabe o quê avolumaram-se depois da Operação Húbris

O furto de material militar em Tancos está por resolver há um ano, quatro meses e nove dias, mas foi a investigação à recuperação do material a levantar dúvidas e suspeitas sobre militares, investigadores e políticos.

Suspeitas sobre quem sabe o quê avolumaram-se depois da Operação Húbris
Notícias ao Minuto

13:45 - 06/11/18 por Lusa

País Tancos

Nas últimas semanas avolumaram-se as suspeitas sobre "quem sabia o quê" a partir de 25 de setembro, dia em que o Ministério Público pôs no terreno a "Operação Húbris", e se começou a falar num alegado "encobrimento" da operação de recuperação do material militar, levada a cabo pela Polícia Judiciária Militar.

O caso que alertou o país para falhas de segurança em instalações militares já fez cair um ministro da Defesa, um chefe do Estado-Maior do Exército e o diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), todos na sequência de notícias sobre a investigação judicial à recuperação do material furtado.

Da investigação ao furto ainda nada se sabe. Quanto à investigação da Polícia Judiciária à operação que levou a PJM a recuperar o material furtado, até ao momento há nove arguidos, entre os quais o ex-diretor da PJM, e mais quatro investigadores, um civil, alegado suspeito do furto mas que o autor da operação de recuperação do material -- major Vasco Brazão -- afirmou que era um informador, e três militares da GNR.

Foi a 18 de outubro de 2017, três meses e meio depois de conhecido o furto de material de guerra, que se deu a primeira reviravolta na história, quando a PJM, que colaborava com a PJ na investigação, anunciou ter encontrado o material furtado, depois de uma "denúncia anónima" a 21 quilómetros dos Paióis Nacionais de Tancos, contando com a colaboração do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

Dias depois, o DN e o Observador referem um alegado conflito entre a Polícia Judiciária e a Polícia Judiciária Militar sobre a titularidade da investigação e falta de comunicação entre as duas polícias.

Na lista de suspeitas do Ministério Público para a Operação Húbris estão "associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas".

Luís Vieira e o civil ficaram em prisão preventiva, enquanto o ex-porta-voz da PJM, Vasco Brazão, regressou da República Centro-Africana, onde estava em missão, para ser ouvido em tribunal, acabando por ficar confinado à sua residência, sem vigilância eletrónica.

Segundo o Expresso, Vasco Brazão terá dito em interrogatório que houve uma encenação em torno da recuperação das armas em 18 de outubro de 2017, operação que terá vertido num memorando entregue ao chefe de gabinete do ministro da Defesa, general Martins Pereira, de que Azeredo Lopes terá sido informado por telefone.

Em 04 de outubro, o general Martins Pereira dizia ter recebido os dois responsáveis da PJM, depois do anúncio da descoberta do material, mas negava ter percebido qualquer "indicação de encobrimento de eventuais culpados do furto de Tancos".

Quanto à atuação do então ministro da Defesa, foi o primeiro-ministro a afirmar num debate quinzenal, a 10 de outubro, que Azeredo Lopes não teve conhecimento do memorando. Questionado pelo PSD, no mesmo debate quinzenal, António Costa dizia que um dia haveria de se saber o que é que cada um sabia sobre o furto de Tancos.

Dois dias depois, Azeredo Lopes demite-se do cargo, alegando querer evitar que as Forças Armadas sejam desgastadas pelo "ataque político" de que se afirmou alvo e desmentiu "qualquer conhecimento, direto ou indireto, sobre uma operação em que o encobrimento se terá destinado a proteger o, ou um dos autores do furto".

O ex-ministro nada referiu sobre se teve conhecimento ou não da operação da PJM que levou à recuperação do material militar e, um dia depois de Martins Pereira ter sido ouvido pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal, manifestou disponibilidade e interesse em ser também ouvido.

Horas antes, o primeiro-ministro afirmava esperar que sejam descobertos os autores do furto, mas também eventuais "cúmplices e encobridores".

A atuação de Rovisco Duarte, que se demitiu dias depois da posse do novo ministro da Defesa, também foi questionada, com algumas notícias publicadas na imprensa a referirem que partiu do general uma ordem para impedir a entrada da PJ em Santa Margarida após a PJM ter lá entrado com o material recuperado. O Exército desmente que o general tenha dado esta ordem e afirma que a PJ entrou quando apresentou mandado judicial para o efeito, algumas horas depois.

O Presidente da República surgiu no caso de Tancos desde o início empenhado em que se apurasse tudo "doa a quem doer", visitando os paióis logo no dia 04 de julho, acompanhado pelo ministro da Defesa, pelo general CEME e pelo diretor da Polícia Judiciária Militar.

Em sucessivas declarações, Marcelo Rebelo de Sousa tem insistido na descoberta célere da verdade até que, também na sequência dos desenvolvimentos da Operação Húbris, se viu na necessidade de responder, através de uma nota, a uma reportagem da RTP que referia que a Presidência da República teria sido informada da investigação da Polícia Judiciária Militar.

O Presidente da República assegurou que ninguém da Casa Civil ou Militar lhe "falou ou escreveu" sobre a operação da descoberta das armas de Tancos "antes dela ter ocorrido", nem existe nestas estruturas qualquer documento relativo à mesma.

Na sexta-feira, o Presidente da República já tinha advertido para o risco de serem criadas "nebulosas" que prejudiquem a investigação judicial e, no domingo, declarou que não seria tolerado o uso das Forças Armadas para "jogos de poder".

Uma declaração que mereceu a "total convergência" do primeiro-ministro no repúdio a tentativas de partidarização e de "jogo político" envolvendo as Forças Armadas.

António Costa considerou ainda "bastante absurdas" teorias que procuram atribuir "qualquer confrontação" entre o Governo e o Presidente da República sobre a matéria e afirmou esperar uma conclusão rápida das investigações sobre os autores do crime.

Quanto à atuação do Governo, António Costa insistiu que o poder político fez o que lhe competia perante o furto, ordenando o reforço da segurança e transferindo o material armazenado em Tancos para outros paióis, aliás como defendeu Azeredo Lopes em sucessivas audições no parlamento.

Do lado da oposição, o líder do PSD, Rui Rio declarou: "até ver, não coloco isso no patamar do Presidente da República" e a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, afirmou a sua "concordância absoluta" com o Presidente da República e disse que a comissão de inquérito que o CDS-PP propôs visa precisamente "devolver a credibilidade às Forças Armadas".

E, no parlamento, o PSD quer saber qual era o grau de conhecimento da ministra da Justiça e do ministro da Administração Interna (MAI), que tutela a GNR, sobre o furto de Tancos.

No requerimento dirigido ao MAI, o PSD pergunta aliás se o ministro "teve, em algum momento, conhecimento dos contornos da operação que levaram ao encobrimento do desaparecimento das armas de Tancos".

Eduardo Cabrita já veio afirmar que "não teve conhecimento nem qualquer informação relativa à recuperação das armas".

O caso, que foi acompanhado a nível parlamentar pela comissão de Defesa Nacional, será investigado na comissão de inquérito, que delimita o inquérito ao período de junho de 2017 até ao momento, com o "objetivo de identificar e avaliar os factos, os atos e as omissões" do Governo do PS no processo.

Sobre o caso, o novo ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, tem sustentado que é preciso garantir que "as lições foram aprendidas" e disse recentemente que espera poder divulgar os resultados de uma auditoria do Ministério da Defesa -- ainda mandada fazer pelo seu antecessor -- à atuação da PJM até ao final do ano.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório