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Eleitorado timorense "ainda se identifica com líderes históricos"

O ex-Presidente timorense José Ramos-Horta disse hoje à Lusa que a maioria do eleitorado timorense continua "política, psicológica e emocionalmente ligada" à geração de 1975, fator que vai ser determinante nas legislativas de 22 de julho.

Eleitorado timorense "ainda se identifica com líderes históricos"
Notícias ao Minuto

07:35 - 12/07/17 por Lusa

Mundo Ramos-Horta

"A maioria ainda se identifica com os líderes históricos, nomeadamente Xanana Gusmão, Mari Alkatiri, Taur Matan Ruak", disse, em entrevista à Lusa em Díli.

Algo que se deve também à cultura timorense, "uma cultura fundamentalmente patriarcal em que o mais velho significa experiência e sabedoria" e "por ser jovem, a jovem geração, mesmo que tenham PHD de Coimbra ou de Harvard, não vai lá".

No entanto, Ramos-Horta disse que já está ativa uma nova geração de pessoas que "mostraram sentido de Estado, de responsabilidade e de experiência", apontando como exemplo o atual chefe do Governo, Rui Maria de Araújo.

José Ramos-Horta considera que a nova geração vai ter um papel no dia 22 de julho, quando muitos apoiarão a Fretilin (de Mari Alkatiri), o PLP (de Taur Matan Ruak) e até o PD (do mais jovem Mariano Sabino), mas que "Xanana ainda é Xanana, ainda inspira muita confiança".

"Xanana tem estado presente diariamente nas televisões, nas imagens ao longo destes 10 anos. Ainda tem um peso significativo. E podemos discordar de algumas atuações dele enquanto governante, mas o 'Zé povinho' que está no interior não se preocupa nada", considerou.

"Eles veem estradas nacionais e para os sucos e aldeias a ser construídas. Continuam a receber as pensões dos veteranos, os 39 dólares por mês para os maiores de 60. Dos órfãos e das viúvas e pensam que isto veio com o Xanana. E pensam que sem o Xanana podem perder isto. Ainda tem um grande reservatório de apoio nos distritos, sucos e aldeias", considerou.

Ramos-Horta acha pouco provável um cenário de maioria absoluta, considerando que se deve repetir uma situação como a dos últimos anos "em que o partido vencedor terá que negociar coligação ou apoios".

Num cenário em que o CNRT vença, Ramos-Horta acha pouco provável que a Fretilin aceite "uma coligação em que está subalternizada ao partido vencedor", pelo que pode ser difícil repetir-se um cenário como o atual, em que membros da Fretilin (ainda que não formalmente pelo partido), integram o atual executivo - entre eles o próprio primeiro-ministro.

"O arranjo recente que se pode chamar a geringonça timorense não me parece que agrade à Fretilin. A Fretilin fez isso apenas para cimentar as relações com Xanana e com o CNRT, com algum sentido de Estado e de responsabilidade. Mas não me parece que tenha beneficiado muito a Fretilin", disse.

Se o CNRT ganhar, Xanana Gusmão convidará todos para o diálogo, para procurar caminhos para os próximos cinco anos, procurando "consolidar a estabilização e boa governação, combater a corrupção" no que será eventualmente o final da sua carreira política, disse.

A incógnita é, admitiu, perceber se mesmo ganhando ocupará o cargo de primeiro-ministro - recorde-se que em 2015 demitiu-se do cargo, ficando como ministro.

"Estaria fora, no partido, apoiar quem ele propôs para primeiro-ministro, preparar a aliança e uma grande coligação que possa surgir. Ele estaria muito melhor assim fora da pasta de primeiro-ministro", defendeu.

Nesse cenário, apontou, há alternativas para o cargo como Agio Pereira, atual ministro de Estado e da Presidência do Conselho de Ministros, ou Dionísio Babo, atual ministro Coordenador dos Assuntos da Administração do Estado e da Justiça e ministro da Administração Estatal.

Horta considera até possível negociação entre CNRT e PLP - e apesar da tensão entre Taur Matan Ruak e Xanana Gusmão.

"Haverá palavras de pedido de desculpas por parte de Taur Matan Ruak a Xanana Gusmão. Não concordei, não concordo que um chefe de Estado vá ao Parlamento dizer o que disse, sobre Xanana ou sobre Mari Alkatiri, especialmente sem substância", afirmou.

A relação deteriorou-se depois de um polémico discurso no parlamento em que Taur Matan Ruak comparou Xanana Gusmão a Suharto, acusando os líderes do CNRT e da Fretilin de corrupção e nepotismo.

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