Índia. Libertados 11 homens condenados por violarem muçulmana em 2002
Ataque surgiu durante os violentos motins de 2002, na província de Gujarat, que afetaram principalmente a comunidade muçulmana na Índia.
© Getty Images
Mundo Índia
As autoridades indianas libertaram na segunda-feira onze homens de etnia hindu, que foram detidos e condenados a uma pena perpétua pela violação em grupo de Bilkis Bano, uma mulher grávida de etnia muçulmana, além de matarem sete membros da família da mulher.
Os onze homens foram libertados de acordo com a lei indiana, que prevê que após 14 anos os condenados possam pedir um perdão mais cedo - o grupo foi apenas condenado em 2008, seis anos depois dos crimes.
A data da libertação coincidiu com o 75.º aniversário da independência da Índia, que saiu oficialmente do domínio britânico em 1947.
À Reuters, um burocrata na prisão de Panchmahals, onde os homens estavam presos, disse que o conselho da prisão recomendou as libertações, argumentando em prol do "bom comportamento" que os condenados tiveram ao longo dos cerca de 15 anos atrás das grades.
O viúvo da vítima contou à agência britânica que a decisão é desoladora. "Perdemos a família e queremos viver em paz, e depois isto acontece. Não tínhamos informação antes da sua libertação, soubemos pelos média", lamentou Yakub Rasul.
A decisão foi acolhida com espanto e raiva pelos críticos do regime e da justiça indiana, acusando ambos de serem complacentes quando a vítima é muçulmana.
"No dia da Independência, quando o primeiro-ministro estava a discursar apelando ao respeito pelas mulheres, o estado libertou onze violadores condenados. Pode Narendra Modi dizer-nos se Bilkis não faz parte da sua política de empoderamento feminino por ser muçulmana?", questionou a escritora Kavita Krishnan
On #IndependenceDay2022 when @PMOIndia was giving a speech asking us to respect women, support “Nari Shakti”, @CMOGuj was releasing 11 convicted gang-rapists of #BilkisBano on remission. Can @narendramodi tell us, is Bilkis not part of your “Nari Shakti” because she’s Muslim? pic.twitter.com/A9Lxr1giyZ
— Kavita Krishnan (@kavita_krishnan) August 16, 2022
O presidente do partido muçulmano AIMIM, Asaduddin Owaisi, também acusou Narendra Modi de ser indiferente sobre crimes contra a comunidade muçulmana, segundo o Deutsche Welle.
Os crimes violentos surgiram durante os motins religiosos de 2002, quando uma onda de violência percorreu o estado de Gujarat e matou milhares de pessoas. A violência afetou principalmente a minoria muçulmana, e subsistem suspeitas e acusações de que o governo estatal - na altura liderado pelo partido nacionalista hindu e o líder Narendra Modi, agora primeiro-ministro - foi conivente com a violência e até ajudou os amotinados a encontrar muçulmanos.
Na altura, a comunidade internacional considerou que o massacre em Gujarat foi uma "orgia de morte e violação". Modi culpou as autoridades paquistanesas, mas continua a não se safar do rótulo de "limpeza étnica" que é associado aos eventos em Gujarat. No total, morreram cerca de 2.000 pessoas (a esmagadora maioria muçulmanos), além de terem sido destruídas cerca de 2.000 habitações muçulmanas - os dados oficiais caem para cerca de 1.044 mortos, dos quais 790 são muçulmanos.
O partido de Modi, o Bharatiya Janata, continua a liderar tanto na Índia como no estado de Gujarat, e o governo indiano (assim como o seu primeiro-ministro) é constantemente acusado de políticas islamofóbicas. Uma análise da Al Jazeera diz que a islamofobia é "uma questão de política estatal", consolidada através de questões de cidadania em Caxemira (acelerada para hindus e bloqueada para muçulmanos), da introdução de "testes religiosos" e na culpabilização da comunidade muçulmana sobre a proliferação da Covid-19 no país, entre outros.
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