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"Não me estreei no FC Porto sempre por causa de algo externo"

André Caio, atual guarda-redes do Benfica e Castelo Branco, falou em entrevista ao Desporto ao Minuto sobre a passagem pela formação do FC Porto e os muitos convites que já teve para deixar o emblema do Campeonato de Portugal.

"Não me estreei no FC Porto sempre por causa de algo externo"
Notícias ao Minuto

07:57 - 05/04/22 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

Figura incontornável do Benfica e Castelo Branco, André Caio conta com um longo passado ligado à formação do FC Porto, onde alinhou por sete épocas e conquistou um título de campeão da II Liga em 2015/16.

Ligado ao clube albicastrense desde a época 2017/18, o guardião, que joga pelo emblema da cidade onde nasceu, cruzou-se com nomes como Rúben Neves, André Silva ou José Sá. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o jogador, de 28 anos, recorda o trajeto que fez no FC Porto, onde chegou com apenas 15 anos de idade.

Caio recorda as muitas dificuldades que André Silva e Gonçalo Paciência lhe causaram enquanto estava na baliza, e também os preciosos conselhos dos veteranos Casillas e Hélton.

Mudança para o FC Porto?  É como se estivesses numa bolha. Trabalhas para aquilo, pensas no assunto todos os dias, queres estar sempre a evoluir para ser melhor do que o colega

Grande parte da sua formação foi feita no FC Porto. Como foram esses anos?

Foram muito bons. Fui muito novo para lá, com apenas 15 anos, e é logo um impacto gigante a nível de tudo. Estive a viver sozinho, com muita malta nova, de várias idades, de culturas diferentes. A rotina de treinos era totalmente diferente. Passamos de estar num ambiente familiar, de brincar com os amigos na idade em que começamos a sair à noite, e encontramos uma cidade e um clube que pretendem criar homens e, acima de tudo, jogadores de futebol. É como se estivesses numa bolha. Trabalhas para aquilo, pensas no assunto todos os dias, queres estar sempre a evoluir para ser melhor do que o colega e os jogadores dos outros clubes grandes. Há essa rivalidade com Sporting e Benfica desde sempre. Estejas na escola ou onde estiveres, só pensas em treinar e evoluir para ficar melhor. No caso do FC Porto, estamos sempre ali ao pé do Estádio do Dragão e queremos evoluir para depois jogar lá. Foi uma experiência muito boa, onde aprendi tudo, e quem me vê defender sabe que o faço como aprendi lá.

E, perante essas dificuldades iniciais, nunca pensou em telefonar aos seus pais e dizer que queria regressar a casa?

Houve umas fases difíceis. Estava muito habituado a acabar de jantar e ir jogar com a malta todos os dias. Cheguei ao Porto, jantava, tinha uma hora de estudo obrigatório e depois tinha de dormir cedo, porque, no dia a seguir, tínhamos treinos. Eu era mais da rua, e depois senti-me mais privado desses assuntos. A nível familiar, sou muito ligado aos meus pais, e é por aí que estou em Castelo Branco. Tive uns tempos mais tremidos, mas, sempre que ligava para a família, tanto o meu pai, como a minha mãe e o meu irmão, diziam que só tinha de trabalhar, e foi sempre o que fiz.

Mesmo que estejas muito bem, há sempre coisas que mexem com a tua cabeça, como contratos novos e o que vai acontecer no futuro, e é preciso ter uma base familiar forte

Foi muito importante essa base de apoio da família?

Eu digo sempre que quem não tem essa base familiar, o que chamo de pilar, não chega lá. Na nossa cabeça, passam mil e uma coisas, e, no futebol, temos momentos bons e maus. Mesmo que estejas muito bem, há sempre coisas que mexem com a tua cabeça, como contratos novos e o que vai acontecer no futuro, e é preciso ter uma base familiar forte. Se olharmos para os grandes jogadores de futebol, todos têm uma base familiar muito forte. Pouca gente fala nisso, mas 50% da capacidade mental do jogador vem daí. Já ouvi dizer várias vezes que 90% daquilo que é um jogador está relacionado com a cabeça e outros 10% com o talento. E a realidade é essa. Todos temos de ter uma família forte, e foi isso que me tem ajudado a fazer boas épocas e ainda me manter como futebolista profissional.

Mas estreia pela equipa principal do FC Porto nunca chegou a acontecer. Porquê?

Houve várias coisas a meio. Foram negócios e tudo e mais alguma coisa, o mundo do futebol é assim, neste momento. Nunca falei muito sobre isso, mas, muitas vezes tive essa oportunidade. No último ano, o acordo era ser quarto guarda-redes da equipa A e titular na equipa B, mas houve uma mudança de planos quase ao final da pré-época, foi sempre mais por causa de algo externo, como os tais negócios que disse e outras coisas, do que eu não ter qualidade. Não há uma razão, mas sentimos e sabemos o que se passa do nosso lado. Também vemos os nossos colegas e treinadores mais próximos a falar e sabemos que, às vezes, o que não controlamos, não controlamos mesmo. O meu foco foi sempre estar a controlar o que posso, como o treino, a alimentação e o descanso, e estar bem nos treinos para estar preparado ao domingo. Apesar de gostar de jogar à quarta e domingo, neste campeonato não podemos. É o que temos.

Apesar disso, até conquistou uma II Liga no FC Porto B, onde foi companheiro de equipa do José Sá. O que recorda desses tempos?

Foi uma temporada muito boa. Joguei os primeiros jogos, depois só joguei uma Taça que tivemos em Inglaterra. Também tinha o Gudiño, que jogou ao início, o João Costa, de quem sou grande amigo, o José Sá, que chegou a meio dessa época, mas começou logo a jogar e esteve muito bem. O grupo de trabalho dessa temporada era fantástico, dava-nos muito bem. O treinador era o Luís Castro e o treino era sempre muito intenso. Foi uma época em que correu tudo muito bem.

Notícias ao Minuto André Caio e José Sá festejam título de campeão da II Liga© Instagram André Caio  

Teve como colegas de equipa no FC Porto B jogadores como o Rúben Neves e o Otávio. O Otávio, por exemplo, já demonstrava que podia chegar onde chegou, sendo agora uma peça importante no FC Porto e na seleção?

A nível de qualidade de bola víamos que ele [Otávio] tinha algo diferente dos outros e já era muito bom. Ao longo dos últimos anos, ganhou mais raça, começou a ficar um jogador mais à FC Porto, e, graças a isso, até usa a braçadeira de capitão. É muito mais competitivo. Os brasileiros vêm do Brasil, onde o nível tático é diferente, e ele, sobretudo, é de mais qualidade. Defensivamente, teve mais dificuldades, mas agora já é o oposto. Nunca pensei que ele chegasse à nossa seleção, mas a verdade é que isso aconteceu. Não estive muito tempo com ele, uma vez que ele treinava com a equipa A e depois ia jogar à B. Ele entrou na cultura do clube, e quem entra nota-se bem quem são os jogadores à FC Porto e os que não são. Já o Rúben Neves, esteve pouco tempo connosco. Mal treinou connosco, entrou logo na equipa A (risos). Ele esteve, salvo erro, uma ou duas semanas connosco na pré-época, foi para a equipa A e nunca mais voltou.

O Gonçalo Paciência e o André Silva também foram seus companheiros de equipa. Deram-lhe muito trabalho na baliza?

Muito, muito trabalho tanto um com o outro (risos). O Gonçalo muito mais tecnicista e o André mais ‘cavalo’. A nível de finalização, são os dois muito bons, e davam-me muito trabalho nos treinos. Estamos a falar talvez dos melhores avançados da geração deles, e tê-los no meu treino, se calhar, tornava o jogo mais fácil contra as outras equipas.

Casillas? Gostei muito de trabalhar com ele. É um jogador sossegado e que percebe muito do jogo ao nível de estar na baliza

Chegou a treinar várias vezes com a equipa principal. Como foi trabalhar, por exemplo, com Casillas?

É diferente. Vamos treinar com ele e tentar absorver tudo o que ele vai fazer e trazer para nós. Ao início, olhamos para ele e pensamos ‘É o Casillas e já foi o melhor guarda-redes anos a fio’. Temos essa sensação, mas, para mim, penso que tenho de igualá-lo ou tentar ultrapassá-lo para chegar a um nível que eu queira e veja que sou mesmo bom guarda-redes ao lado dele. Gostei muito de trabalhar com ele, é um jogador sossegado e que percebe muito do jogo ao nível de estar na baliza. E ajuda muito a malta nova.

Notícias ao Minuto André Caio com Casillas e Helton© Global Imagens  

Qual foi o primeiro impacto ao treinar ali junto de estrelas do futebol mundial? Deram-lhe alguns conselhos?

Sim, estavam sempre preocupados. Sobretudo o Helton, com quem tenho uma relação de amizade. Ele ajudava muito a integrar a malta nova e dava muitos conselhos. Para nós, é muito importante como jogadores mais novos. Muitas vezes, chegamos lá e pensamos que sabemos alguma coisa e, afinal, quando eles começam a falar connosco não sabemos assim tanto. Um conselho para a malta mais nova é que ouçam tudo, consumam tudo e vejam o que é melhor para vocês. É isso que nos vai ajudar a ser jogadores profissionais de futebol.

Leia Também: "Peço aos adeptos que nos ajudem a elevar o Benfica e Castelo Branco"

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