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"Não conheci o diabo, mas tive o diabo dentro de mim"

Jorge Dias foi o primeiro árbitro estrangeiro a apitar uma final em Wimbledon. Anos depois, foi operário fabril no Luxemburgo, onde chegou a ser humilhado por trabalhadores portugueses. A história de quem ficou na história do ténis mundial é hoje dada a conhecer na rubrica 'Jogo sem Regras'.

"Não conheci o diabo, mas tive o diabo dentro de mim"

Nesta quarta-feira, dia 7 de abril, o Desporto ao Minuto volta a apitar para um 'Jogo sem Regras', e, sem recurso a cartões ou expulsões, exploramos sem guião o entrevistado, que acabará por ser o 'GPS' desta conversa.

Os convidados tiveram 'lugar cativo' mas, agora, que não estão na ribalta, transportam-nos para uma visão diferente da realidade a que assistimos.

Desta feita, o nosso convidado é Jorge Dias, o primeiro árbitro estrangeiro a apitar uma final de singulares em Wimbledon, decorria o ano de 2001.

Com mais de 500 torneios internacionais no 'bolso' e perto de dois mil jogos realizados, o antigo árbitro de cadeira ajuizou ainda 69 finais, estando presente em jogos decisivos de Grand Slams e duas edições dos Jogos Olímpicos.

Contudo, nem tudo foram rosas. Do cumprimento ao Duque de Kent, filho da rainha Isabell II, até às ameaças de morte recebidas na Rússia, Jorge Dias, depois de colocar um ponto final à arbitragem em 2003, rumou até ao Luxemburgo, onde foi operário fabril. Sobreviveu a uma depressão e a graves problemas financeiros, para hoje voltar a estar de regresso ao ténis, como coordenador técnico de jovens promessas na Academia dos Champs.

Jorge Dias tem a certeza que não foi ao inferno, mas deixa uma garantia: "Felizmente, não conheci o diabo, mas muitas vezes tive o diabo dentro de mim".

De primeiro árbitro estrangeiro a apitar uma final de singulares em Wimbledon a operário fabril. Podia ser esta a manchete da história da sua vida?

É uma pequena fase da minha vida. A minha carreira acabou um pouco antes de ter sido operário fabril, e não tenho vergonha alguma de dizer que o fui. Ainda há pouco tempo contei a minha história de vida aos miúdos da Academia para dizer o quão rápido se pode passar do topo da pirâmide até ao sopé da montanha. Dou muito valor a todas as fases da minha vida, porque aprendi muito como ser humano com todas elas. Comecei a minha vida como árbitro, ainda numa fase muito amadora do ténis em Portugal. Depois, participei em torneios internacionais, e daí escrevi um currículo que terminou com 69 finais, entre as quais as da Taça Davis e a final de Wimbledon. Uma das coisas que sempre procurei foi assimilar tudo aquilo que o ténis me trazia como suplemento. Aprender os costumes dos países a que ia, que religiões praticavam, e por aí fora. A minha vida não se baseou em estar sentado numa cadeira a dizer se a bola era dentro ou fora. Perdi a conta aos países a que fui, desde o Botswana, ao Japão, aos Estados Unidos, à China, e tantos outros, com vicissitudes e características completamente distintas.

Como é que se definia como árbitro?

Sou uma pessoa com bom poder de comunicação, falo cinco línguas – português, espanhol, italiano, inglês e francês – e sempre tive a curiosidade de aprender os mínimos de outras, nem que fosse apenas para dizer ‘à esquerda’, ‘à direita’, ‘40-30’ e outras coisas desse género. Era conhecido por ser duro, mas, simultaneamente, tinha bom senso. Era duro, mas não era um polícia. Felizmente, tive a sorte de arbitrar numa altura em que não havia só um ou dois tenistas de topo. Havia um Sampras, um Agassi, um Lendl, um Boris Becker, um Federer, enfim, uma série deles. Tenistas que foram sempre ídolos, mas a quem tratava de igual para igual. E eles tratavam-me de igual forma. Sempre houve um enorme respeito e sentido de humor. Não me procurava guiar apenas por um livro de regras. Afinal, para saber as regras, não é preciso ser génio nenhum, nem sequer universitário. Há 30 e tal normas a saber, e talvez metade sejam sobre o tamanho das raquetes e a dimensão dos courts. O importante é ter bom poder de comunicação e uma boa condição física. Os árbitros também vendem com o corpo e a voz.

Na véspera do encontro recebi ameaças de morte e disseram-me que, se a Rússia não vencesse, não saía de lá vivoO ponto mais alto da sua carreira foi a final de singulares de Wimbledon, em 2001. Como é que sucedeu a sua chegada até lá?

É curioso que, antes de Wimbledon, há Roland Garros. Nesse ano, havia um jogador francês, o Sébastien Grosjean, que jogava a meia-final do evento em terra batida, numa sexta-feira. Em França, tal como em Inglaterra, as finais de singulares eram só apitadas por juízes naturais desses países, porém estava escalado para o jogo do título, caso o Grosjean passasse à final. E, nesse ano, também seria o primeiro árbitro estrangeiro a apitar uma final de singulares em Roland Garros, mas isso não aconteceu, visto que o Grosjean perdeu a meia-final, o que me permitiu depois estar na final de Wimbledon. No Grand Slam de relva, o processo de escolha passava por várias pessoas. Primeiro, passava pelo aval do chefe de árbitro, depois pelo juiz-árbitro e, de seguida, pelo supervisor. E ainda mais um setor, apesar desta ser uma história que pouca gente sabe. O último ‘ok’ é dado por alguns membros do All England Club. O árbitro selecionado tinha que fazer um jogo num campo secundário, court 6 ou 7, para os sócios analisarem a condição do árbitro, e até perceberem qual era a sua colocação de voz. Eles pouco percebiam de arbitragem, mas a escolha também passava por estes ‘sócios’ do torneio. Se tenho ido à final de Roland Garros, tinha perdido toda esta história em Wimbledon. E não me arrependo nada de ter falhado a final do Grand Slam francês. Aliás, não me esqueço de, na final em Wimbledon, o Duque de Kent [príncipe Edward, filho da Rainha Isabel II] ter chegado ao pé de mim, para me cumprimentar. Mas, antes de tudo isto, já eu tinha recebido uma série de indicações do protocolo real: desde fazer a vénia, até não poder chegar muito perto dele. São histórias que nunca mais se esquecem.

De que jogo é que o Jorge Dias não se esquece e dificilmente algum dia o vai apagar da memória?

Certamente da final de Wimbledon não me esqueço, não só por ter sido uma final, mas também por ser a uma segunda-feira, o que é raro [a final costuma ser a um domingo] e por tudo o que rodeou o pré e o pós-jogo. Outro encontro que não me esqueço foi o duelo da final da Taça Davis, em Moscovo, na década de 90, entre a Alemanha e a Rússia, num embate que durou mais de cinco horas. De um lado estava o Chesnokov e do outro o Michael Stich. Também me lembro disso, porque foi um jogo que me deu muitos problemas. Na véspera do encontro, recebi ameaças de morte e disseram-me que, se a Rússia não vencesse, não saía de lá vivo. A Rússia acabou por ganhar e tudo correu bem.

Espero que não tenha deixado a Rússia ganhar. Fora de brincadeiras, esse tipo de ameaças, recebidas poucas horas antes do jogo, não condicionam um árbitro no dia da decisão final?

A Rússia acabou por ganhar, por mérito, e a Alemanha não ganhou porque não quis, porque, salvo erro, o Michael Stich teve nove match points consecutivos. Agora, claro que, depois de receber esse tipo de ameaças, foi quase obrigatório abstrair-me disso, tirar essas palavras da minha cabeça. A experiência no circuito também conta muito nessas alturas. Eu também, diga-se de passagem, sempre fui muito irresponsável (risos) e ligava pouco a isso. Recordo-me uma vez que, na América do Sul, também tive de sair com seguranças. Um árbitro necessita, obrigatoriamente, de entrar em court e esquecer tudo, e ficar apenas 200% concentrado no que se passa lá dentro. Quase é necessária uma meditação antes de arbitrar um jogo. 

Mas certamente houve jogos que não lhe correram de feição e ainda hoje, talvez, esteja a ‘morder’ os seus neurónios. Ou não?

Acho que só tenho uma situação, e que rapidamente se tornou viral. Ainda bem que nós colocamos Jorge Dias na internet e só aparece esse problema (risos). A minha mãe sempre me dizia: ‘Fizeste o jogo tal, entre o fulano x e o fulano tal, mas eu só te reconheci pela voz’. E eu respondia-lhe: ’Isso é que é preciso mãe. Não dar por mim. No dia em que começar a ver-me na televisão é mau sinal’. O jogo que me persegue até hoje foi nos quartos de final do Open dos Estados Unidos, entre o Lleyton Hewitt e o Andy Roddick. Infelizmente. tive uma má decisão, e confirmei a decisão do juiz de linha, e acabei por ser crucificado pelo Roddick e por todo um país. Recordo-me do John McEnroe estar a realizar os comentários no estádio e ele estar a dar a indicação ao Roddick de que tinha razão, ou seja o norte-americano ainda ficou mais em ‘chamas’. Ele dizia que a bola tinha sido boa e eu dizia que tinha sido fora, e ainda hoje não há nenhuma repetição que confirme qual dos dois tinha razão. 

 Nos Estados Unidos confundiam-me com um espanhol e houve uma vez em que me interpelaram e disseram: ‘Gosto muito de Portugal, até conheço Marbella’O Open dos Estados Unidos, definitivamente, é um ‘berço’ de problemas para árbitros portugueses, porque o Carlos Ramos, na final entre a Serena Williams e Naomi Osaka, em 2017, também viveu, de perto, a ira de um Artur Ash Stadium em ‘chamas’. 

Todavia, a situação do Carlos Ramos é diferente. Na altura, recebi várias chamadas de jornalistas portugueses e outra de um jornalista do New York Times, por ter sido o mentor do Carlos Ramos. Até fiquei bastante receoso em falar. A minha situação até pode ser duvidosa, agora o Carlos fez o que tinha a fazer. A Serena Williams não tinha razão alguma e as regras foram cumpridas. Comigo aconteceu o que aconteceu porque o Roddick era o menino pródigo dos norte-americanos, e a Serena era a menina de ouro de todo um país. Porém, isso não invalida que eles errem e tenham comportamentos menos corretos. Eu também fui jogador e sofri muitas injustiças, e também era bastante rebelde, e isso talvez deu-me experiência para saber o que é a frustração de um tenista. Quando estás focado no jogo, apenas olhas para a bola, pouca importa se de um lado estava o Sampras e do outro o número 200 do ranking. Se tomasse uma decisão errada a favor do Sampras, ele soubesse disso e nada dissesse, também ia perder a credibilidade do próprio Sampras. Um erro é sempre um erro, independentemente de quem esteja dos dois lados do court.

Avançando na questão da arbitragem. Sabemos que, no ténis, a maioria dos lances são de análise objetiva, mas podemos dizer que algo mudou nas últimas duas décadas?

Houve um aumento dos prémios de jogo, mas isso é algo normal. O que realmente mudou foi a introdução das novas tecnologias. No meu último ano, surgiu o Carlos Ramos, que acabou por ser o meu sucessor, e ai já havia o ‘olho de falcão’, uma das evoluções no ténis que tornou tudo muito diferente. A revisão dos lances acabou por tornar tudo muito mais fácil para os árbitros.

No último Grand Slam – Open da Austrália – e só com o juiz de cadeira, e sem árbitros auxiliares, poucas intervenções existiam do árbitro, porque todas as linhas eram controladas pelo dispositivo tecnológico presente no torneio. Não corremos o risco de um dia o árbitro ser um mero robot que pouco ou nada acrescenta ao espetáculo?

Em jeito de brincadeira, mas com um sentido de verdade, para ser árbitro agora precisas de ser um operador de sistemas e saber um pouco mais sobre computadores. Já antes, e com juiz de linha, havia o ‘olho de falcão’, agora nem isso há, apenas um sinal sonoro. Não foi por isso que decidi deixar de arbitrar, mas fico feliz por ter arbitrado numa altura em que havia muito poucas tecnologias. Sou contra a tecnologia no ténis, se me perguntarem isso na condição de árbitro. A partir de agora, o árbitro só tem de interferir no capítulo disciplinar e pouco mais. Na minha altura, parte da vontade de ser árbitro estava também na interpretação da personalidade de cada tenista. Com as novas tecnologias, nada se discute, porque, às vezes, nem se ouvem as vozes do tenista. Eles vão discutir com quem? Com os aparelhos sonoros? No meu tempo, os melhores árbitros apitavam os grandes jogos, dos maiores torneios. Agora, para ser árbitro, de verdade, talvez seja melhor apitar os jogos de menor relevo, porque ai não há novas tecnologias e a capacidade destes torneios a terem é reduzida. Estamos a caminhar cada vez mais para um desporto menos humano e mais robotizado. Podem até chamar-me ‘velho do Restelo’ ou antiquado, mas, no meu tempo, era emocionante arbitrar. Recordo-me de apitar um jogo de pares, em Bruxelas, entre o Boris Becker e o John McEnroe contra uma parelha francesa. Nesse encontro, o Becker estava sempre a discutir comigo, e eu aguentei, aguentei, até que chega a um ponto e digo: ‘Alto lá, alto lá, há qualquer coisa que está aqui de errado. Quem geralmente costuma discutir é o teu companheiro e não tu’. E todos se começaram a rir nas bancadas, até o próprio McEnroe. Essa discussão, que acaba por ser uma conversa, faz falta ao ténis. Agora, se me perguntarem como treinador, e se tivesse o meu jogador sempre a ser prejudicado, então, aí sim, diria para colocarem toda a tecnologia possível e imaginária.

O ponto mais humilhante foi chegarem a atirar uma caixa de fósforos para o chão e pedirem-me para apanhar um por umToda a carreira do Jorge foi repleta de emoção dentro e fora dos courts. Retira-se do ténis em 2003, depois encarrila na criação de uma escola de ténis na Marinha Grande, que não corre de feição, para depois rumar ao Brasil, onde entra na Confederação de Ténis e ai também a situação não foi fácil…

Realmente, aconteceu aqui qualquer coisa no meu sistema elétrico. As coisas não correram bem e a ausência da família não foi fácil. As condições que prometeram também não eram aquelas que me apresentaram, e foi toda uma série de problemas que me levou, de um momento para o outro, a querer ir embora do Brasil. Lembro-me que deixei tudo para trás, mobília e roupa, e vim-me embora apenas com uma mochila às costas. Estava com saudades dos meus filhos e, profissionalmente, as coisas não estavam a correr bem. Lembro-me que viajei na véspera de Natal e cheguei a Portugal no dia de Natal. Eu estava separado da minha mulher, mas dava-me bem com ela, e, quando os surpreendi, eles ficaram completamente boquiabertos. Eu tenho a sensação de que eles iam tendo um ataque cardíaco quando me viram. Essa imagem ainda me dá arrepios ao dia de hoje. A minha vida no Brasil, efetivamente, não correu bem, nomeadamente a nível de patrocinadores, apesar de ter feito lá grandes amigos. Relembro-me que ficava muito agressivo, mudava de um momento para o outro, e cheguei a pedir a ajuda de um psicólogo. Pouco depois, diagnosticaram-me uma depressão e receitaram-me alguns ansiolíticos. Eu sabia que não estava bem, apesar de apresentar uma boa condição física. Recordo-me perfeitamente de estar no meu escritório, que ficava num open space, e pedir, de forma sistemática, silêncio. Havia um tenista que não se calava, então peguei-o pelos colarinhos e tirei-o de ali para fora. Lembro-me de, num torneio no Chile, um árbitro dizer que me ia chamar, na condição de supervisor, e os próprios tenistas diziam logo que não. Nessa semana, o medo estava presente nos tenistas, mas eu não meto medo a ninguém. Agora, nessa altura, não estava bem.

Depois sucede o regresso a Portugal…

Eu decidi sair do ténis. Estava farto de lutar pelo ténis e de receber ‘facadas’ nas costas. Além disso, vivia numa situação financeira difícil, com os filhos a encaminharem-se para a faculdade, e a última alternativa era rumar ao Luxemburgo. Não estava a ter dinheiro nem para pagar a pensão de alimentos. O Luxemburgo surgiu no meu pensamento, porque sabia que lá os ordenados eram altos. Lá fui, e comecei por trabalhar num restaurante italiano como empregado de mesa. E onde ficava o restaurante? Dentro de um clube de ténis (risos). E fui honesto deste o início: ‘Vincenzo [dono do restaurante], não venho para aqui com um currículo fotocopiado ou inventado. Nunca fui empregado de mesa, até hoje só fui cliente’. Falei do meu passado e lá acabei por ficar um mês à experiência. Mas, confesso que, cada vez que pegava numa garrafa de 200 euros, as minhas pernas tremiam. Sempre tive a esperança de conseguir algo melhor, e a verdade é que, como tinha o ‘badge’ de juiz-árbitro, cheguei a ser nomeado para um torneio de 100 mil dólares no Luxemburgo. E, num país com o tamanho do Luxemburgo, rapidamente perceberam que o empregado de mesa era afinal árbitro. O presidente do clube de ténis onde trabalhava nem sequer me dava o bom dia quando chegava. Mal soube que era árbitro, já me tratava pelo nome. Isto foi uma lição de vida. Ainda no outro dia, falava com os meninos da Academia, por haver discriminação na cor e na nacionalidade que os miúdos têm, mas também há muita discriminação no que toca à profissão. Entretanto, saí do restaurante e fui trabalhar para uma fábrica, como ajudante de serralheiro, onde a maior parte dos trabalhadores eram portugueses. Lembro-me que, nessa altura, dei uma entrevista para um jornal do Luxemburgo, e isso conduziu-me a uma situação ainda pior, espoletada pelos meus próprios conterrâneos. Recordo-me de me dizerem: ‘Achas que trabalho a sério é na cadeira [de árbitro], agora é que vais ver o que é trabalho. Tu nunca trabalhaste na vida’. 

E quando é que termina a sua experiência no Luxemburgo?

Foram 10 anos no Luxemburgo, um país onde também estive sob forte pressão, e onde voltei a precisar da ajuda de psicólogos e de psiquiatras. Estava numa fábrica, sabia que aquilo caminhava para a falência. No início, comecei por ser maltratado, mas depois lá comecei a ser respeitado. Os patrões da empresa exigiam que os empregados se despedissem e começaram a arranjar formas para nos despedirmos. Chegaram a pedir-me para levantar cargas superiores às legais, e o ponto mais humilhante foi chegarem a atirar uma caixa de fósforos para o chão e pedirem-me para apanhar um por um. Os últimos meses foram mesmo muito maus, e a empresa acabou mesmo por ir à falência. Depois ,tive de regressar a Portugal, porque o meu pai adoeceu com um cancro, a minha mãe teve um AVC e acabei por ficar cá em definitivo. A minha oportunidade surge quando apareço no Belém Open, e o Pedro Carvalho, diretor da Academia do Champs, e o António Champalimaud me convidam para ser coordenador técnico dentro do projeto, em setembro de 2019. E, perdoem-me a arrogância, mas é um projeto que é a minha cara e que me seduziu logo desde o primeiro minuto.

Caso para dizer que o bom filho a casa torna, numa viagem que certamente perdeu o número de idas ao inferno…

Regressei ao céu, mas o caminho foi muito duro. Eu era daqueles miúdos que dizia, em pequeno, que os Estados Unidos é que era bom e os outros é que faziam tudo bem, e, depois de percorrer mais de 80 países, mais valor fui dando à minha terra. Não é nenhum paraíso, mas fui ficando cada vez mais patriótico. Nos Estados Unidos, confundiam-me com um espanhol e houve uma vez em que me interpelaram e disseram: ‘Gosto muito de Portugal, até conheço Marbella’. O que me deixava incrédulo, mas pronto. Voltando à questão, eu diria que não fui ao inferno e, felizmente, não conheci o diabo, mas muitas vezes tive o diabo dentro de mim. Mas, continuo a acreditar que há sempre alguém pior do que eu e esse deve ser o lema de todos nós. Desde que a pessoa tenha físico para ir à luta, nada é impossível. Muitas vezes disseram-me para não dizer que fui serralheiro, com medo do que as pessoas iam pensar. Posso dizer que tenho um enorme orgulho de ter sido serralheiro. Quando se tem capacidade de se levantar da cama todos os dias, o resto não importa. 

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