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"Portugal começou a reconsiderar o passado com África"

A artista Ângela Ferreira, vencedora da 11.ª edição do Prémio Novo Banco Photo, afirmou hoje, em Lisboa, que Portugal "começou a reconsiderar o seu passado histórico e relação com África", mas o debate "ainda é insuficiente".

"Portugal começou a reconsiderar o passado com África"
Notícias ao Minuto

21:28 - 22/09/15 por Lusa

Cultura Ângela Ferreira

Entrevistada pela agência Lusa no final do anúncio do prémio, a artista portuguesa disse que o galardão foi "uma surpresa maravilhosa", pelo reconhecimento e pelo facto de as obras dos três artistas finalistas desta edição estarem ligadas a África.

Ângela Ferreira era uma das três finalistas ao galardão, no valor de 40 mil euros, com Ayrson Heráclito (Brasil) e Edson Chagas (Angola), cujas obras inéditas estão expostas desde junho no Museu Berardo, no âmbito do galardão.

O projeto vencedor - em fotografia, vídeo e instalação - segue a temática à qual a criadora de 57 anos tem vindo a dedicar grande parte da produção artística: o questionamento do discurso pós-colonial, e os episódios históricos que marcam o urbanismo e a arquitetura modernas.

"Pela primeira vez na história de um grande prémio de arte contemporânea em Portugal, temos uma conjuntura de artistas cujas obras estão dentro do tema do meu trabalho. Isto dá-me o sentimento de uma dupla honra, por ter ganho dentro deste contexto", disse à Lusa.

Ângela Ferreira recordou que desde os anos 1990 aborda na sua obra as relações entre África e a Europa, os problemas pós-coloniais e as relações geopolíticas, mas nessa altura fazia "um trabalho muito solitário, com pouco apoio".

"Este é um tema que Portugal tem tido grande dificuldade em relembrar e resolver", apontou, acrescentando que "neste século, a situação tem vindo a mudar, com um discurso mais frequente, mas ainda insuficiente, por ser difícil e muito emotivo".

A artista defendeu que o país "tem de continuar a fazer esse discurso de uma forma construtiva e ativa".

No projeto vencedor, apresenta fotografias dos edifícios do Museu Nacional de Etnologia e do Ministério da Defesa Nacional (Antigo Ministério do Ultramar), e no vídeo, relacionado com as missões dos edifícios em causa, a artista mostra o resultado de uma investigação sobre o trabalho dos etnógrafos António Jorge Dias e da mulher, Margot Dias.

A artista concluiu que os etnógrafos, que estiveram em Moçambique para estudar o povo Makonde no período colonial, fizeram "um trabalho muito mais complexo do que se imaginava".

"Não faziam apenas uma pesquisa antropológica, eram pagos pelo Ministério do Ultramar para escrever relatórios políticos", segundo Ângela Ferreira, nascida em Moçambique e residente em Lisboa.

Resultado de uma parceria entre o Novo Banco (ex-BES) e o Museu Coleção Berardo, iniciada em 2004, o prémio realizou este ano a quinta edição com estatuto internacional, abrangendo não apenas artistas de nacionalidade portuguesa, mas também brasileira e dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

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