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Os primeiros sapatos aos nove anos, oferecidos por Salazar

A fartura de que se fala dos dias de hoje não tolda a memória a Manuel Silva, que recorda que o primeiro par de sapatos lhe chegou aos nove anos, oferecido por Salazar, com quem partilhava a data de aniversário.

Os primeiros sapatos aos nove anos, oferecidos por Salazar
Notícias ao Minuto

10:37 - 26/04/15 por Lusa

País Reportagem

"Foi uma alegria tão grande que nem dá para descrever. Parecia um senhor quando calçava os sapatos para ir à missa aos domingos", descreveu à agência Lusa, emocionado.

Prestes a completar 71 anos, Manuel Silva recorda que os tempos de infância foram preenchidos com muitas privações: a comida tinha de ser muito bem repartida pelos outros sete irmãos desta família, com pais agricultores, que residiam em Casal do Rei, na freguesia de Canas de Santa Maria, no concelho de Tondela.

"Ia descalço para a escola, fizesse sol ou estivesse a gear. Depois de meio-dia na escola, tinha de ir guardar as ovelhas ou apanhar pinhas: eram tempos de muito trabalho", sublinhou.

No dia do seu 9.º aniversário, a 28 de abril de 1953, "uma vizinha de gente abastada" fez-lhe chegar "uns sapatos novos e um fato completo".

"Salazar tinha mandado dar este presente a todos aqueles que tivessem nascido no mesmo dia do que ele. Fui um sortudo, porque a minha mãe dizia que na verdade nasci a 13 de abril, mas só fui registado nesse dia, como acontecia muito na altura", gracejou.

O fato valeu-lhe a "inveja saudável" dos amigos da mesma idade, que admiravam as vestes poucos usuais na década de 1950.

"Só os ricos é que usavam fato. Não era toda a gente que usava uma 'camurcina' castanha daquelas, com gravata e uns sapatos de pele: foi uma faceta da minha vida que nunca mais esqueci", referiu.

O contentamento pela oferta inesperada levou-o a escrever uma carta de agradecimento a António de Oliveira Salazar, de quem obteve resposta e com quem chegou a trocar correspondência com alguma regularidade.

"Tenho as cartas todas guardadas: fomo-nos escrevendo até eu ter sido mobilizado para Moçambique. Depois disso, nunca mais obtive resposta", contou.

Meio século depois, Manuel Silva olha para trás e lembra que passou pela guerra, esteve emigrado na Argélia e na Suíça, e trabalhou arduamente na construção civil.

"Passámos por muito, mas de uma coisa não tenho dúvidas: António Salazar era uma pessoa correta. Era um chefe de Governo presente, que geria o país como se fosse uma família", apontou.

No seu entender, o estadista "tentava que o pouco que havia chegasse para todos, trazendo a 'casa' bem controlada".

"Já hoje não sei: o que temos hoje? Quantas toneladas de ouro ainda temos do que ele nos deixou? Às tantas, zero", concluiu.

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