"Não acho que a culpa seja só de Ricardo Salgado"
Isabel Vaz recorda o colapso do grupo que detinha a Luz Saúde, agora na pose dos chineses da Fosun.
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Economia CEO
“Foi provavelmente o dia mais difícil da minha vida profissional e pessoal”. É assim que a CEO da Luz Saúde recorda o dia do colapso do BES e a derradeira queda do Grupo Espírito Santo, ao qual pertencia o grupo que detém o Hospital da Luz.
Numa entrevista concedida ao Jornal de Negócios, Isabel Vaz relembra a correria que se instalou na sua vida, nos dias que se seguiram. O pesadelo só terminou quando se concretizou a venda do grupo à Fosun, dona da Fidelidade.
“Todo o nosso dinheiro estava a cair no ‘BES mau’. Montámos um gabinete de crise para garantirmos o pagamento a fornecedores e os ordenados. (…) Voltei a dormir no dia em que o processo acabou. Nem sabíamos se a Fosun nos queria a nós, gestores, mas o que interessava é que a empresa estava salva. Foi no dia 14. Apanhámos, nós e a comissão executiva, uma grande bebedeira em minha casa”, recordou.
É com tristeza que a gestora fala não só do grupo que detinha aquela que diz ser a sua “pele” – a Luz Saúde –, como do que aconteceu a Ricardo Salgado, a quem não culpa por inteiro pelo sucedido e sobre quem tece inclusive elogios.
“Tenho uma tristeza profundíssima com o que aconteceu no GES. Nem consigo explicar em palavras. (…) Não acho que a culpa seja só do doutor Ricardo Salgado. (…) Teoricamente, acho muito difícil que as pessoas não soubessem o que se estava a passar. (…) Se à volta de Ricardo Salgado tivessem estado pessoas com mais sentido crítico, ou menos ‘yes man’, talvez as coisas tivessem corrido de outra maneira”, explicou, garantindo que o presidente do BES era um chefe a quem se podia dizer ‘não’.
“Disse várias vezes ‘não’ ao doutor Ricardo Salgado e não me caiu nenhum raio de Júpiter na cabeça. E acho que o senhor até gostava de mim”, afirma.
A empreendedora por detrás do ramo saúde do antigo Espírito Santo Saúde acredita que “muitas pessoas viam o doutor Ricardo como um deus, que nunca se enganava e sabia o que era melhor”.
Quando questionada se o Governo deveria ter ajudado o GES, admite que “é muito difícil” e que, “se de facto não era viável, tinha de fazer o que fez”.
A questão dá azo a que se fale do primeiro-ministro, para quem Isabel Vaz olha como alguém que “assusta muita gente”, porque “não tem nenhum rabo-de-palha ligado a nenhum grupo económico. É-lhe indiferente”.
“A melhor forma de definir o dr. Passos Coelho é como um homem livre”, assegura, rematando: “Não mexe o ponteiro. Não é nada de especial. Não há conhecimento nenhum de favorecimento a ninguém em particular, enquanto no Governo. Pelo menos, eu não vi”, afirma.
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