Retiros espirituais são cada vez mais procurados
Os retiros espirituais são cada vez mais procurados por pessoas que aproveitam as férias para se encontrarem no meio do silêncio e da natureza. No fim, a vida fica igual, mas os participantes garantem que saem pessoas diferentes.
© Lusa
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"É das experiências mais fortes da vida. Nunca mais és a mesma pessoa", afirmou Vanda Domingues, 47 anos, ao recordar o retiro em que participou há um ano, na zona centro.
Vanda Domingues procurou o retiro na busca de uma experiência diferente, partilhada por pessoas com os mesmos princípios. Não estava em nenhuma crise emocional e tinha um objetivo prático: deixar de fumar.
Durante dez dias esteve em silêncio profundo, partilhando o espaço físico "lindo de morrer" com 30 pessoas, a maioria estrangeiros, com quem não falou praticamente o tempo todo. "Não era preciso", garante.
Da ementa não constava carne nem peixe, os alimentos eram praticamente crus, mas "muito saborosos".
Recorda sobretudo a paisagem deslumbrante e a oportunidade para disfrutar do som da água, das aves, do vento nas árvores.
"Pensei que tanto tempo em silêncio me levaria a pensar na confusão da vida, mas o pensamento é encaminhado para as coisas mais elementares, que são, afinal, as melhores", disse.
À meditação que praticou nesses dias recorre ainda hoje, embora reconheça que o cenário "faz toda a diferença".
Bruno Teixeira, organizador e ministrante do Centro de Retiros Karuna, Monchique (Algarve), diz que são cada vez mais as pessoas a procurarem estes retiros e para quem o objetivo é o mesmo de sempre: ser feliz.
"Há quem chegue esgotado, física e emocionalmente, com queixas de muito trabalho e sem conseguir dormir. Outros chegam felizes e a querer ser ainda mais felizes", disse à Lusa.
Depois de um retiro, "a vida fica igual. O que muda é a nossa visão das coisas", disse, esclarecendo que não é ao fim de meia dúzia de dias que a pessoa se transforma "num super-eu qualquer, imune a todas as doenças".
Para Bruno Teixeira, "ser feliz é como comer: uma refeição não mata a fome. É preciso encontrarmos a forma".
Este mês está agendado um retiro de três dias no Centro de Retiros Karuna que se apresenta como "três dias na montanha ao encontro da essência, entre a natureza e os cinco elementos".
Bruno Teixeira diz que aos retiros chegam cada vez mais curiosos, que convivem com participantes de décadas.
Fazem-no nas férias por uma questão prática, pois durante o ano não há tempo.
"As pessoas querem estar bem e ser felizes e quando procuram os retiros é para dar espaço e procurar essa felicidade", adiantou.
Os encontros promovem essas condições, através de meditação, da contemplação e do convívio, disse.
Bruno Teixeira recorre a um ditado zen para explicar o que acontece após a participação num retiro: "Antes da iluminação, cortar lenha e acartar água; depois da iluminação acartar água e cortar lenha".
O psiquiatra Ricardo Gusmão vê com bons olhos a participação nestes retiros como uma forma de relaxamento, mas ressalva que há quadros clínicos -- como a depressão -- em que o isolamento e o mutismo não são bem-vindos.
"A maioria das pessoas que tem uma vida intensa pode beneficiar de um tempo para fugir às solicitações da vida diária", disse.
Ricardo Gusmão recorda que os retiros sempre existiram e que "antes eram as termas".
O especialista enaltece a possibilidade de hoje em dia existirem locais com pessoas que encaminham os participantes para técnicas de relaxamento, que o médico recomenda essencialmente para quem sofre de ansiedade.
Se pudesse, Vanda Domingues participava num retiro todos os meses. Classifica a sua participação como "uma experiência de vida". Só lamenta o preço - um retiro de três dias pode custar perto de 200 euros - embora entenda os custos envolvidos na organização.
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