Cineasta brasileiro rendido às "novas possibilidades" da televisão
O cineasta brasileiro Fernando Meireles, autor de "Cidade de Deus" e outros filmes de sucesso, está a preparar para a BBC "uma série sobre ambiente e aquecimento global" que incluirá um episódio rodado na China.
© Reuters
Cultura Fernando Meirelles
"Estou ainda a escrever o guião, mas talvez no próximo ano já esteja aqui a pesquisar locais para filmar. Num tema como este, não dá para deixar a China de fora", adiantou o realizador à agência Lusa em Pequim.
Fernando Meirelles integra o júri do 5.º Festival Internacional de Cinema de Pequim, que decorre até quinta-feira com mais de 300 filmes de cerca de 50 países, e cujo programa inclui, pela primeira vez, uma semana dedicada ao Brasil.
Em declarações à agência Lusa, o realizador revelou também que tem um projeto de televisão de oito episódios para um produtor canadiano e está a desenvolver duas novas séries no Brasil.
"Não direi que o melhor cinema se faz hoje na televisão, mas, de facto, o filme de autor está cada vez mais inviável e com menos espaço. Só existe mercado para ?blockbuster', para filme que é um evento", disse.
Meirelles apontou "uma razão técnica" para o atual ?boom' das séries televisivas: "A televisão, hoje, é filmada com o mesmo equipamento do cinema e, em casa, a gente tem aparelhos de TV com qualidade de imagem muito boa".
"Há dez anos, a televisão baseava-se no diálogo e no ?close-up' dos atores. Fazia-se um plano aberto e não se via nada. Já não é assim", acrescentou.
Além disso, "o tempo, na televisão, é diferente".
"Podemos contar uma história em seis, oito ou até doze horas, o que muda completamente a estrutura narrativa e dá outro tipo de envolvimento com os personagens. É isso que me fascina", disse.
O "fascínio" de Meirelles pelas "novas dramaturgias" proporcionadas pela televisão coincide, contudo, com "um movimento de renascimento do cinema" no Brasil.
"Finalmente, o mercado está começando a aceitar o cinema brasileiro", salientou o realizador numa conferência de imprensa em Pequim.
Segundo referiu, os filmes brasileiros já representam "15 a 20%" do mercado cinematográfico local, enquanto na década de 1980 a percentagem era de apenas "1 ou 2%".
Sobre a situação politica e económica no Brasil, o cineasta afirmou à agência Lusa que "o país não está num bom momento e precisa sair rapidamente desta crise".
Meirelles considerou a China um parceiro "fundamental" para o Brasil, atribuindo aquele país o sucesso económico da década passada: "A China fez crescer o preço das coisas que o Brasil vende", nomeadamente soja e ferro.
"Sobrou dinheiro e uma parte da população virou classe média. Depois da crise de 2008, os preços das matérias-primas caíram e o Brasil está de novo sem dinheiro", observou.
Fernando Meirelles, 60 anos, formado em arquitetura e urbanismo, iniciou-se no cinema na década de 1990.
O seu filme mais conhecido, "Cidade de Deus", valeu-lhe uma nomeação para o ?Óscar' do Melhor Realizador, em 2004.
Meirelles realizou também "Blindness", uma adaptação do romance de José Saramago "Ensaio sobre a Cegueira", com Julianne Moore e Mark Ruffalo nos principais papéis, e "The Constant Gardener", adaptado de um livro de John le Carré.
Foi o primeiro cineasta brasileiro convidado para o júri do Festival de Cinema Internacional de Pequim, presidido este ano pelo realizador francês Luc Besson.
Entre os quinze filmes selecionados para a secção competitiva do certame figuram a co-produção sino-francesa "Wolf Tottem", dirigida por Jean-Jacques Arnaud, e "The Taking of Tiger Moutain", do chinês Hank Tsui.
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