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Avizinham-se "tempos mais difíceis" para Costa no resto do mandato

Após dois anos de estabilidade governativa que surpreendeu, politólogos contactados pela Lusa antecipam um final de legislatura mais difícil devido à pressão dos parceiros de 'Geringonça', à relação mais tensa com Belém e à nova liderança do PSD.

Avizinham-se "tempos mais difíceis" para Costa no resto do mandato
Notícias ao Minuto

07:57 - 24/11/17 por Lusa

Política Análise

O XXI Governo Constitucional liderado por António Costa -- executivo minoritário do PS que é apoiado parlamentarmente por BE, PCP e PEV - cumpre no domingo dois anos de mandato, uma solução governativa inédita que juntou toda a Esquerda, a chamada 'geringonça'.

Em declarações à agência Lusa, os politólogos António Costa Pinto (Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa) e André Azevedo Alves (Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica) são unânimes a destacar que a durabilidade e estabilidade da 'Geringonça' superou as expetativas nestes primeiros dois anos e ambos antecipam tempos "mais difíceis" para o primeiro-ministro no resto do mandato.

Para António Costa Pinto, "o balanço das autárquicas aponta para dimensões muito mais reivindicativas dos partidos mais à esquerda, sobretudo do PCP" e, à medida que as eleições legislativas de 2019 se aproximam, "a principal preocupação do PCP e BE é manter o seu eleitorado, que muitas vezes conquistaram em protesto contra o PS".

"Não só será mais difícil manter este tipo de acordos políticos, como perante o eventual abrandamento do crescimento português ou de eventuais subidas das taxas de juro será muito mais difícil ao Governo acomodar este tipo de reivindicações", alerta.

Na mesma linha de pensamento, André Azevedo Alves evidencia que à medida que se aproxima o horizonte dos quatro anos de legislatura, PCP e BE "vão tendo cada vez mais incentivos e necessidade" de justificar o porquê do seu eleitorado votar neles e "não simplesmente dar uma maioria absoluta ao PS".

"No limite, António Costa pode ver-se pressionado por três lados: pelos seus parceiros no Parlamento, por uma nova liderança do PSD - se essa se conseguir afirmar - e, ainda, se estas duas condições se verificarem, mais pressionado pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que fazendo esta leitura política da situação, se sinta mais motivado a ter uma postura mais interventiva", sintetiza.

O crescente aumento de popularidade e centralidade de Marcelo Rebelo de Sousa e o seu reforço de poderes são indicadores que ambos os especialistas destacam, especialmente depois do discurso do Presidente da República que, após os incêndios trágicos de outubro, levou à demissão da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa.

André Azevedo Alves sublinha que, na sequência da tragédia dos incêndios do verão, foi a primeira vez que, "pelo menos publicamente, surgiram focos de tensão significativa" entre Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa, um momento de "clivagem forte" que, na opinião deste professor, "foi uma demonstração de força" do chefe de Estado.

"Quanto mais sólido for o entendimento entre PS, BE e PCP também provavelmente menor margem e menor inclinação terá Marcelo Rebelo de Sousa a ser mais interventivo. Se começar a haver muitos sinais de possível instabilidade, aí terá uma tendência a mais rapidamente atuar", antecipa.

Já António Costa Pinto considera que o Governo vai depender fundamentalmente "da conjuntura económica e da capacidade de manter as alianças à esquerda".

"O Presidente da República, perante uma eventual degradação do atual contexto económico e uma maior pressão reivindicativa sobre o Governo dos partidos à sua esquerda, evidentemente terá relações mais tensas com o executivo", antevê.

A mudança de liderança do PSD é outra variável que poderá dificultar a vida a António Costa, considerando Costa Pinto que "este acordo à Esquerda só foi possível com a ameaça da continuação do poder de Passos Coelho e agora esse inimigo desapareceu".

Questionados sobre a possibilidade de uma 'geringonça' se repetir após as eleições legislativas de 2019, os politólogos deixam essa hipótese em aberto, uma vez que depois do tabu deste acordo à esquerda ter sido ultrapassado, tudo depende dos resultados eleitorais de cada um dos partidos, numa altura em que há "uma grande incerteza nas atitudes à esquerda no espetro político".

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