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Marinha teve papel central na guerra colonial

A Marinha teve um papel central na guerra colonial em Angola, na Guiné-Bissau e em Moçambique (1961-1974/75), considerou em entrevista à Lusa o historiador António Costa Pinto.

Marinha teve papel central na guerra colonial
Notícias ao Minuto

14:35 - 08/03/20 por Lusa

País Guerra colonial

"A Marinha teve uma importância central nas guerras coloniais de Portugal, não apenas naquela que é a função que lhe está mais associada, os mares, mas sobretudo na Guiné-Bissau, em Angola e em Moçambique, nos lagos e nos rios", frisou.

De acordo com António Costa Pinto, investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, a Marinha teve "um papel muito importante" nestes três cenários de guerra.

Uma das operações mais polémicas em que a Marinha esteve envolvida, sob o nome de código "Mar Verde" visava resgatar prisioneiros portugueses e derrubar o regime de Conacri, liderado por Sekou Touré, neutralizando ao mesmo tempo o PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde] que aí se organizava. O objetivo era instalar na República da Guiné, um Estado soberano e um governo favorável aos interesses do regime português.

A operação ocorreu em novembro de 1970, sob forte contestação dos próprios militares e expôs Portugal aos olhos do mundo. Os prisioneiros foram resgatados, mas o assalto a Conacri, liderado pelo oficial da Armada Alpoim Calvão, responsável pelo Centro de Operações Especiais da Guiné-Bissau, não derrubou o poder em Conacri, nem eliminou os líderes do PAICG, Amílcar Cabral e Aristides Pereira.

"A operação Mar Verde dá-se numa conjuntura já de grande isolamento de Portugal e de grande radicalização da guerra na Guiné-Bissau", afirmou o investigador, especialista em ciência política, para quem a operação não estava necessariamente condenada ao fracasso, embora revelasse já "algum desespero" do regime.

"Muitas vezes os portugueses não têm memória da conjuntura militar na Guiné-Bissau para os portugueses, mas convém não esquecer que a Guiné foi um mini Vietname para o colonialismo português", disse, classificando a operação como "uma tentativa já um pouco desesperada de eliminar a liderança política do movimento de libertação mais eficaz contra o colonialismo português", o PAIGC, e retirar-lhe a base mais importante, que era o regime de Conacri.

O "falhanço" da ação deu origem a uma condenação internacional de Portugal e representou, na opinião de Costa Pinto, "algum desespero da resistência à descolonização, na fase final do colonialismo português em África".

O académico considerou, porém, que a operação não estava condenada à partida. "Não funcionou, mas poderia ter funcionado e durante algum tempo ter neutralizado um pouco a dimensão mais radical, forçando o PAIGC a perder uma base de apoio muito significativa na Guiné Conacri".

"O colonialismo português tentou aqui, pela via militar, aquilo que, por exemplo, forças neocoloniais francesas conseguiram em muitos países africanos, ou seja, encontrar um poder político num país independente que de algum modo fosse favorável ou tentasse neutralizar, neste caso, a luta do PAIGC, contra o colonialismo português na Guiné-Bissau", explicou.

O regime português tentou também explorar "as contradições à pluralidade étnica" do PAIGC, por vezes, com sucesso, acrescentou, referindo que o movimento tinha "uma elite cabo-verdiana muito marcada".

"Temos de reconhecer que o assassínio de Amilcar Cabral representou esse sucesso conjuntural, uma vez que o partido não diminuiu a capacidade operacional contra o exército colonial português", sustentou.

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