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Há dimensões que falta estudar" sobre a guerra colonial

A guerra colonial portuguesa tem ainda muito por estudar, nomeadamente o apoio internacional à descolonização e a forma como os movimentos de libertação se sincronizavam com os países que lhes serviam de base, disse o investigador António Costa Pinto.

Há dimensões que falta estudar" sobre a guerra colonial
Notícias ao Minuto

14:30 - 08/03/20 por Lusa

País Guerra colonial

"Há dimensões que falta estudar. Uma das primeiras é o lado de lá", afirmou em entrevista à agência Lusa o especialista em ciência política, remetendo para as relações dos movimentos independentistas nas colónias portuguesas com a Guiné-Conacri, a Zâmbia, a Tanzânia, e outros países limítrofes como o Congo e o Zaire: "Ou seja, como é que estes movimentos de libertação dependiam e até que níveis se inseriam nesta dinâmica africana de libertação. Aí ainda sabemos relativamente pouco".

O investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa considerou que existe igualmente um grande desconhecimento sobre a administração colonial portuguesa.

"Eu diria que o que sabemos menos é sobre a administração colonial portuguesa. Sabemos quase todos os episódios da história militar e das guerras coloniais, mas quem era a administração portuguesa, como é que os interesses da metrópole se confundiam ou não com a administração colonial? Aí, curiosamente, sabemos menos do que devíamos saber", indicou.

António Costa Pinto observou que outras potências colonizadoras, como Inglaterra e França, tiveram "maior capacidade de perceção e de negociação" na época da descolonização. "Mais rapidamente chegaram à conclusão que a resistência militar à descolonização era uma resistência politicamente e militarmente perdida", explicou quando questionado sobre o contexto geopolítico que Portugal enfrentou a partir dos anos 60.

"Existiram dinâmicas de reação militar, os holandeses tiveram uma curta guerra colonial no final dos anos 40, na atual Indonésia, sabemos como a Bélgica tentou resistir à descolonização do Congo belga, mas os franceses rapidamente encetaram negociações e um processo de descolonização que fosse mais controlado pela antiga metrópole do que muitos podem pensar", assegurou o politólogo.

Quando em 1961/62 se desencadeia a guerra colonial, a partir de Angola, a comunidade internacional posiciona-se já no sentido da descolonização. Porém, recordou, as ditaduras têm "menor capacidade de perceção internacional" e menor pragmatismo.

"Foi claramente o caso do salazarismo, que, ao identificar a identidade nacional portuguesa com o império colonial, provocou o arrastamento de guerras até 1974, com grande perturbação e grande impacto sobre a sociedade portuguesa", referiu.

De acordo com o especialista, o regime não desvalorizou os alertas recebidos das patentes militares sobre o trabalho forçado e a exploração colonial das populações locais. Adriano Moreira, enquanto ministro do Ultramar, encetou uma reforma das relações de trabalho nas colónias portuguesas, mas as medidas foram insuficientes e tardias.

"Ao longo dos anos 60, ao mesmo tempo que se desenvolvem guerras coloniais na Guiné-Bissau, mas sobretudo em Angola e em Moçambique, existe um claro esforço por parte da administração colonial portuguesa de diminuir os fatores clássicos de exploração e de discriminação que caracterizam uma sociedade colonial, mas a verdade é que já é desenvolvido muito tardiamente", declarou.

A década de 60 foi "a década da descolonização", frisou. "Manter colónias é algo que está fora, quer da comunidade internacional, quer da dinâmica de luta africana pela independência".

"Convém não esquecer que, com a descolonização do império inglês e com a descolonização, sobretudo, do sistema colonial francês, o colonialismo português fica isolado em África, apenas com a retaguarda da África do Sul", notou António Costa Pinto em entrevista à Lusa, no âmbito de um trabalho da agência 45 anos depois do fim da guerra e quase 60 sobre o início do conflito (1961-1974/75).

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