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Ardina de Maputo antecipa as vendas da edição só de olhar para a capa

O uniforme azul e as "havaianas" que calça há anos num quiosque austero de Maputo fazem de Alexandre António um ardina singular, que já antecipa as vendas de cada edição só de olhar para a capa.

Ardina de Maputo antecipa as vendas da edição só de olhar para a capa
Notícias ao Minuto

05:00 - 06/01/18 por Lusa

Mundo Alexandre António

Alexandre António, 37 anos, começou por vender jornais por sobrevivência, há 20 anos, no Nautilus Café, um "ex-libris" do centro de Maputo, mas a afeição pelo negócio e os laços que construiu com gente célebre da capital moçambicana tornaram a atividade numa paixão.

"É meu brother", responde, metaforicamente, quando a Lusa o questiona se Sérgio Vieira, um histórico e veterano da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, que acabava de pagar um exemplar do Noticias de Maputo, é um cliente assíduo.

E não para por aí: desfia nomes de outros políticos do partido no poder e da oposição, magistrados, homens de negócios, advogados, entre outros, que ali compram os vários títulos.

Colocados aos molhos no passeio do Nautilus e numa espécie de escaparate de ferro, os exemplares expostos por Alexandre Dias são uma montra do pluralismo da imprensa em Moçambique e do turbilhão de acontecimentos que pontuam o noticiário nacional e internacional.

"As pessoas gostam mais do Canal [de Moçambique] e do Savana, procuram estes jornais porque são bons, trazem [sempre] uma ´bomba` e todo o mundo quer ver, quer ficar atualizado", diz, referindo-se aos dois semanários.

No dia 20 de novembro, o Notícias, diário estatal mais antigo e conotado com o Governo, esgotou, e Alexandre António deu logo a explicação. "É por causa [de Robert] Mugabe", refere, apontando com o dedo para o título: "ZANU-PF dá ultimato a Mugabe".

O exemplar ao qual dirige o dedo está no cimo de uma pequena pilha de jornais "Notícias" que Alexandre António diz que reservou para um cliente cujo nome não quer revelar.

Mas tal não impede um leitor de barafustar. "Está tudo difícil neste país e já nem o Notícias se pode comprar", queixou-se.

A experiência de anos no ofício de ardina dá a Alexandre António jeito para antecipar como é que serão as vendas.

"O Desafio vende quando os Mambas [seleção nacional] ganham jogos oficais", diz, tentando explicar porque é que o título "Todos querem Abel" ainda não esgotou, algumas semanas depois de a edição do único desportivo moçambicano ter dado à estampa.

A capa reproduz as declarações do presidente da Federação Moçambicana de Futebol, Simango Júnior, sobre as dificuldades que o organismo está a enfrentar para renovar contrato com o treinador da seleção nacional, o português Abel Xavier, dividido entre continuar em Moçambique ou aceitar convites para trabalhar na África do Sul ou Angola.

Apesar do entusiasmo com que desenvolve a atividade, Alexandre António diz que ser ardina já teve dias melhores e, por isso, até quem o incentivou no ramo ficou pelo caminho.

"Antes da crise vendia, por semana, 150 jornais de cada um dos principais semanários, mas, com a crise, as vendas reduziram-se: vendo entre 100 a 110 e o Notícias vende apenas 50 jornais", conta.

As vendas podem ter baixado, mas é nos jornais que Alexandre António tem o sustento para cuidar da família, constituída por mulher e três filhos.

"Há 20 anos que vivo disto, de segunda a sábado, entre as 6:30 e as 17:00", narra.

Aos clientes que pagam no fim do mês, não lhes regista os nomes por escrito, porque os conhece de cor e à sua regularidade.

Há os que só levam semanários e os que compram os dois diários moçambicanos.

Também conhece o ritmo do semáforo: quando cai o sinal vermelho, sabe que um leitor irá buzinar a chamar por um jornal e António Alexandre corre para lhe o vender pela janela do carro.

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