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São Tomé. Ex-primeiro-ministro diz que ataque a quartel foi "encenação"

O ex-primeiro-ministro são-tomense Jorge Bom Jesus rejeitou hoje que tenha ocorrido uma tentativa de golpe de Estado no país, defendendo que o ataque ao quartel-general militar foi "uma encenação" do poder para neutralizar adversários e endurecer o regime.

São Tomé. Ex-primeiro-ministro diz que ataque a quartel foi "encenação"
Notícias ao Minuto

08:46 - 08/12/22 por Lusa

Mundo São Tomé

"Estou aqui para denunciar sem equívocos que se tratou de um pretexto para torturar pessoas incómodas, atingir adversários políticos. Só assim se pode justificar tanta barbaridade", disse hoje, em entrevista à Lusa, Jorge Bom Jesus, a propósito da morte de quatro pessoas, sob custódia dos militares, após o assalto ao quartel-general das Forças Armadas de São Tomé e Príncipe, em 25 de novembro.

Para o líder do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe/Partido Social Democrata (MLSTP/PSD), "o que pode estar por detrás de tudo isso é o endurecimento do regime, buscar formas para calar os opositores, de alguma forma neutralizá-los e poder transformar São Tomé e Príncipe num estado ditatorial, em que vigora o 'posso e mando', passando por cima das instituições democráticas".

"Não podemos de forma nenhuma ilibar a responsabilidade do chefe do Governo neste momento. São Tomé e Príncipe tem um Governo e um Governo que se pronunciou nas primeiras horas", comentou Bom Jesus, referindo-se à conferência de imprensa em que o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, deu informações sobre o ataque, às primeiras horas do dia 25.

Por outro lado, rejeitou qualquer envolvimento da oposição nos acontecimentos.

"Eu não percebo porque é que um Governo com menos de um mês de vigência começa a muscular desta maneira e depois procurar bodes expiatórios. (...) Estivemos no Governo durante quatro anos, houve um processo democrático. A oposição iria participar no golpe agora para quê, com que interesse? É procurar fantasmas que não existem", referiu.

O executivo de Patrice Trovoada iniciou funções em 14 de novembro, na sequência da vitória da Ação Democrática Independente (ADI), com maioria absoluta, nas eleições legislativas de 25 de setembro.

O antigo chefe do Governo reclama "investigações mais céleres, mais profundas, mais imparciais e independentes, de forma a que toda a verdade possa vir à ribalta", e sugere uma averiguação autónoma da Amnistia Internacional, ou outras organizações não-governamentais especializadas em direitos humanos.

"As informações que nos têm chegado apresentam muito pouca consistência, muitas incongruências, muitas falsidades, que nos levam de facto a acreditar que tudo isto não passou de uma encenação", salientou, pedindo o apoio de "todos os amantes da democracia, países amigos e cooperações bilaterais e multilaterais".

"Espero que a investigação nos esclareça tudo isto porque é muito fácil agora circular pelo mundo, ludibriar a comunidade internacional, trazer uma versão falseada da realidade", referiu, numa alusão ao seu sucessor, que está em Portugal para contactar as autoridades nacionais e segue depois para a cimeira entre Estados Unidos da América e países africanos, em Washington.

A Polícia Judiciária e o Instituto de Medicina Legal portugueses chegaram ao terreno 48 horas depois dos acontecimentos, para ajudar na investigação das autoridades são-tomenses, a pedido do Governo são-tomense.

Também a Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) está a realizar uma missão de informação sobre os acontecimentos de 25 de novembro, e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos envia esta semana uma equipa para o país para averiguar os maus-tratos aos detidos.

Após o ataque, três dos quatro assaltantes e Arlécio Costa, um antigo combatente do 'batalhão Búfalo' alegadamente identificado como mandante do ataque, morreram, quando se encontravam sob custódia dos militares, tendo circulado imagens e vídeos que mostram que foram alvo de maus-tratos.

Na quinta-feira passada, o Governo são-tomense anunciou ter feito uma denúncia ao Ministério Público para que investigue a "violência e tratamento desumano" de militares contra detidos após o ataque ao quartel-general das Forças Armadas.

No mesmo dia, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de São Tomé e Príncipe pediu a demissão, denunciando "atos de traição" e condenando os "factos horrorosos" que envolveram a morte de quatro detidos.

Nas primeiras horas após o ataque, os militares também detiveram, na sua casa, o ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves, alegadamente identificado pelos atacantes também como mandante do assalto.

Delfim Neves foi libertado três dias depois, após ter sido presente à juíza de instrução criminal, com apresentação periódica às autoridades e termo de identidade e residência, e negou qualquer envolvimento com este ato, que descreveu como "uma montagem" para o incriminar.

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