Milhares manifestam-se contra a Turquia nas zonas sob controlo rebelde
Milhares de sírios manifestaram-se hoje em regiões sob controlo rebelde para denunciar o apelo emitido na véspera pelo chefe da diplomacia turca, Mevlut Çavusoglu, a uma reconciliação entre o regime e as forças insurgentes.
© Lusa
Mundo Síria
Desde o início da guerra na Síria em 2011 que a Ancara se tem afirmado um firme opositor ao regime de Bashar al-Assad e apoiado diversos grupos rebeldes sírios, para além de ter deslocado soldados para as zonas limítrofes da Síria e efetuado diversas incursões militares no norte do país vizinho.
Na quinta-feira, Çavusoglu optou por apelar à "reconciliação da oposição com o regime na Síria", para firmar "uma paz duradoura", uma declaração que assinala uma viragem na posição da Turquia, e quando o Presidente Recep Tayyip Erdogan ainda definia em maio o regime de Assad.
A declaração do ministro turco provocou a cólera dos opositores e rebeldes sírios, que apelaram à mobilização contra a Turquia nas regiões controladas pelos soldados turcos e milícias sírias aliadas na província de Alepo (norte), e nos setores ainda em poder dos 'jihadistas' e fações rebeldes.
Após a oração semanal muçulmana de sexta-feira, os manifestantes gritaram "Não à reconciliação" em Aazaz, Al-Bab e Afrine, na província de Alepo, e na província de Idleb (noroeste), sob controlo dos 'jihadistas' e de grupos rebeldes.
Na quinta-feira, pouco após a conferência de imprensa do chefe da diplomacia turca em Ancara, ocorreram protestos em Al-Bab.
Perante esta reação, Tanju Bilgiç, porta-voz do ministério turco dos Negócios Estrangeiros, reafirmou hoje o "pleno apoio da Turquia à oposição" ao regime de Al-Assad, sem referir o termo "reconciliação".
O mesmo responsável também sublinhou que o seu país continuará a contribuir para encontrar "uma solução duradoura" do conflito.
Erdogan tem sido um dos principais críticos de Bashar Al-Assad, que desde 2011 tem qualificado por diversas vezes de "tirano sanguinário". Em 2020, confrontos mortíferos chegaram a opor forças sírias e turcas.
Por sua vez, o regime sírio acusou por diversas vezes a Turquia de apoiar "grupos terroristas" na Síria.
A Turquia acusa em particular as forças curdas sírias, que controlam a maior parte do nordeste do país, de serem "terroristas" e já efetuou diversas operações contra as milícias das Unidades de Proteção Popular (YPG) em território sírio.
No decurso da conferência de imprensa, Çavusoglu sublinhou que desde 2011 "muitas pessoas foram mortas [na Síria], muitas deixaram o país. Estas pessoas poderiam regressar, incluindo os [refugiados] da Turquia. É necessária uma paz duradoura".
No entanto, negou qualquer contacto direto entre Erdogan e Assad, mas reconheceu o recomeço dos contactos entre os serviços de informações dos dois países e um breve encontro com o seu homólogo sírio em outubro de 2021.
O conflito na Síria complicou-se após a intervenção de diversos grupos e de potências estrangeiras. De acordo com os dados da ONU já terá provocado cerca de 500.000 mortos e pelo menos 13 milhões de refugiados e deslocados. A Turquia acolhe uma parte muito substancial dos 6,8 milhões de refugiados que abandonaram o país.
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