Fake news estão a "tentar branquear" ex-padre expulso do Vaticano
O presidente do Conselho de Imprensa timorense lamentou hoje notícias na imprensa nacional, incluindo a agência pública Tatoli, que considera estarem a "tentar branquear" um ex-padre expulso do Vaticano por abuso sexual de crianças.
© Shutter Stock
Mundo Timor-Leste
Virgílio Guterres refere-se a noticias publicadas, entre outros locais, na agência de notícias estatal timorense Tatoli e no jornal online Oekussi Post, que registam uma "visita surpresa" que o ex-Presidente timorense Xanana Gusmão efetuou hoje a Richard Daschbach na residência em Díli onde está em prisão domiciliária, à espera de julgamento por esses crimes.
"São noticias graves. Isto é uma tentativa de influenciar a opinião pública e até pessoas na justiça para influenciar a decisão. É muito grave porque as notícias não fazem sequer referência às decisões de expulsão do Vaticano ou dados do crime de que é acusado na justiça timorense", sublinhou, em declarações à Lusa.
Apesar de os artigos referirem que o ex-padre é alvo de um processo judicial em curso, em nenhum momento explicam quais são os crimes de que é acusado -- abuso de crianças e pornografia infantil, entre outros -- ou o facto de que Daschbach já foi condenado e demitido pelo Vaticano.
"Uma celebração de aniversário que este ano é simples e diferente porque nos anos anteriores havia sempre celebrações com crianças, mas este ano celebra apenas em casa, na capital Díli, onde está submetido a um processo de justiça ligado ao caso que enfrenta", refere o texto da Tatoli.
"Apesar de ser num contexto diferente, teve a visita surpresa do líder carismático Xanana Gusmão que teve a oportunidade de transmitir esta mensagem dos miúdos do orfanato Topo Honis em Oecussi ao padre", continua o jornalista que neste caso ainda o identifica como sacerdote, funções de que já foi afastado.
As notícias apresentam em grande detalhe uma biografia de Daschbach sem nunca referir dados dos crimes de que é acusado.
"Lamento como a Tatoli descreve o ex-padre ignorando totalmente as acusações feitas pelo Ministério Público e o facto de que já foi demitido pelo Vaticano e pela sua própria congregação por causa desses crimes cometidos" disse.
"Qualquer notícia que queiram publicar sobre este ex-padre tem de ter em conta estes factos, que são factos não apenas jornalísticos, mas legais. Lamento estas notícias e o Conselho de Imprensa vai analisá-las e estudar", disse.
O ex-padre Richard Daschbach, de 84 anos, está em prisão domiciliária em Díli e é acusado de abusar de pelo menos duas dezenas de crianças no orfanato onde trabalhava, o Topu Honis, e dos crimes de pornografia infantil, segundo o Ministério Público timorense.
Em outubro do ano passado, o representante da Santa Sé em Díli disse que o Vaticano "não tem qualquer dúvida" de que o ex-padre é culpado desses crimes, aplicando-lhe a sentença "inapelável" de expulsão do sacerdócio, disse à Lusa o representante da Santa Sé em Díli.
"Não há nenhuma dúvida para a Igreja de que ele é culpado de abusos sexuais contra menores, reconhecidos pela Congregação da Doutrina da Fé, com uma sentença inapelável", disse em entrevista à Lusa Marco Sprizzi, núncio interino e o representante máximo do Papa e do Vaticano em Timor-Leste.
"O próprio Richard Daschbach admitiu e reconheceu-se culpado perante a Igreja. Parece que recuou diante da justiça civil, mas diante da igreja nunca recuou. Quero ser claro nisto", referiu.
Na mesma altura, o arcebispo de Díli, Vírgilio do Carmo da Silva, pediu desculpa pelas críticas e acusações a todos os que têm estado envolvidos na investigação a um ex-padre acusado de pedofilia e pornografia infantil em Timor-Leste, reafirmando o apoio total às vítimas.
"A Arquidiocese de Díli tem total confiança nas autoridades judiciais e policiais do Estado, incluindo as que estão envolvidas no caso do senhor Richard Daschbach", disse.
"Em nome da Arquidiocese de Díli quero pedir desculpa pelas acusações e alegações que atingiram as pessoas envolvidas na investigação. A igreja quer dar o seu apoio e ajuda as vítimas declaradas pelas autoridades policiais", afirmou.
Virgílio do Carmo da Silva reagia à polémica causada nas redes sociais depois do anúncio do Ministério Público de que tinha deduzido acusação contra Dashbach, com críticas e ataques a jornalistas e a organizações que têm apoiado as vítimas, em alguns casos feitos por membros do clero timorense.
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