Prisão de artistas do Sudão leva ativistas a pedirem reformas
A decisão de um tribunal sudanês de mandar prender cinco jovens artistas, entre os quais um cineasta premiado, gerou polémica no país e internacionalmente e levou ativistas e grupos de direitos humanos a pedir hoje reformas judiciais.
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Mundo Sudão
Os artistas - conhecidos por apoiarem a revolta popular que, em abril de 2019, levou à saída e detenção do então Presidente, Omar al-Bashir, - foram condenados na quinta-feira a dois meses de prisão sob a acusação de perturbação pública e violação de medidas de segurança pública, disse o seu advogado, Othman al-Basry.
Os artistas também foram multados em 5.000 libras sudanesas (76 euros) cada um, referiu o advogado, acrescentando que poderá apresentar recurso.
Entre os artistas detidos inclui-se o cineasta premiado Hajooj Kuka, cujos filmes "Beats of the Antonov" e "aKasha" foram exibidos nos festivais de Veneza e de Toronto, e que foi convidado, no início deste ano, para a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que atribui os Óscares do cinema.
"O sistema judicial continua fortemente influenciado pela ideologia islâmica do ex-regime, que criminalizou a liberdade de associação e de artes e limitou a existência de mulheres na esfera pública", reagiu hoje a organização de defesa de direitos humanos Iniciativa Estratégica das Mulheres do Corno da África (SIHA, na sigla em inglês).
Também a Associação de Profissionais do Sudão, que liderou a revolta contra al-Bashir, condenou o veredicto dos artistas.
A decisão também chamou a atenção de profissionais do cinema de todo o mundo, muitos dos quais enviaram uma carta aberta ao Governo a pedir a sua libertação.
Cameron Bailey, o diretor artístico do Festival de Cinema de Toronto, expressou a sua frustração numa mensagem divulgada na sexta-feira através do Twitter: "Hajooj é um cineasta excecional. Foi preso agora no Sudão. Precisamos fazer barulho para protestar".
O caso remonta a agosto, quando um grupo de artistas ensaiava com o grupo artístico Civic Lab, em Cartum.
Segundo o advogado al-Basry, os vizinhos reclamaram do barulho e os organizadores do evento baixaram o volume, mas os vizinhos continuaram a protestar, até que um deles atacou fisicamente Duaa Tarig, uma gestora do Civic Lab, o que deu início a espancamentos dos artistas.
A polícia deteve 11 artistas, incluindo Tarig, que acusou um dos agentes de a esbofetear até ela desmaiar quando o questionou por a estar a fotografar, adiantou o advogado, acrescentando que seis outros aguardam julgamento por acusações semelhantes.
Enquanto estavam detidos, os artistas protestaram e gritaram 'slogans' semelhantes aos que usaram durante a revolta popular de 2019, de acordo com um vídeo de 30 segundos, que foi partilhado em várias redes sociais.
A SIHA acusou as autoridades de serem "tendenciosas e politizarem" o caso e denunciou que Tarig fez várias tentativas para registar uma queixa referente ao agente que a terá agredido, o que lhe foi sempre negado.
O Governo não fez ainda qualquer comentário sobre o caso, mas o ministro da Juventude e Desporto do Sudão, Walaa al-Boushi, visitou no sábado os artistas detidos para lhes transmitir solidariedade.
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