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Reino Unido: Trabalhistas tentam travar onda Conservadora

A onda azul que as sondagens prognosticam para as eleições legislativas britânicas de 12 de dezembro deverá ser travada em Birmingham Edgbaston, apesar do Partido Conservador estar determinado em 'roubar' assentos ao Partido Trabalhista no centro de Inglaterra.

Reino Unido: Trabalhistas tentam travar onda Conservadora
Notícias ao Minuto

18:45 - 27/11/19 por Lusa

Mundo Eleições Reino Unido

Apesar de ser pró-europeia numa zona com bastantes eleitores eurocéticos, a candidata do 'Labour', Preet Gill, continua a ser popular.

"Conheço-a bem e vou votar nela. Mas vou ficar contente quando isto tudo acabar e voltarmos à civilização", afirmou hoje Anne Chebil, residente no bairro de Quinton, à agência Lusa.

Antiga apoiante dos Liberais Democratas, esta aposentada lamenta a forma como o debate em redor do 'Brexit' está a envenenar as comunidades e famílias, não só na zona mas em todo o país.

"É bom que tenha colocado toda a gente a discutir e muitos mudaram de ideias, mas infelizmente dividiu muitos amigos, famílias e até casais", comentou.

Quinton é um bairro de Edgbaston, um subúrbio no sudoeste de Birmingham com casas elegantes de jardins grandes e bem tratados, habitada sobretudo por uma população de classe média.

Durante a revolução industrial, a zona foi protegida da expansão fabril registada noutras partes da região, tornando-se num local aprazível e cobiçado, sendo conhecida por ter várias escolas reputadas e seletivas, o campo de críquete do condado de Warwickshire e parte dos edifícios da universidade de Birmingham.

Durante 99 anos foi dominada pelo Partido Conservador, mas a Trabalhista Gisela Stuart quebrou a tradição em 1997 graças ao voto de algumas partes com habitação social e população de rendimentos baixos, como Quinton e Harborne.

O círculo foi em tempos representado pelo primeiro-ministro Conservador Neville Chamberlain (1937-1940) e destaca-se por ter eleito mulheres deputadas consecutivamente desde 1953, o período mais longo em todo o país.

Preet Gill concorre contra Colin Green, dos Liberais Democratas, e Phil Simpson, dos Verdes, mas até a campanha 'Get Voting' para aconselhar os eleitores a votarem taticamente para bloquear o 'Brexit' sugere o voto útil em Gill para impedir uma maioria do Partido Conservador.

No círculo concorrem ainda David Wilks, do partido do Brexit, e Alex Yip, do Partido Conservador, mas Gill, que foi eleita pela primeira vez em 2017, está confiante.

Tem raízes locais, onde o pai era condutor de autocarro, e o apoio da numerosa comunidade indiana, que ajudou a eleger a primeira britânica de origem sique para a Câmara dos Comuns.

Na campanha porta a porta, juntamente com seis voluntários, incluindo a antiga ministra do Interior, Jacqui Smith, o 'Brexit' foi falado, mas a maioria das pessoas estão preocupadas com outras coisas, disse hoje à agência Lusa.

"Boris [Johnson] quer fazer destas umas eleições sobre um só tema, mas as pessoas queixam-se da falta de polícia, de serviços de saúde, dos cortes na educação. Só no meu círculo, 31 escolas foram afetadas pelos cortes e estão a pedir aos pais para doarem dinheiro para comprar material", vincou.

A preocupação com estas questões deverá acabar por beneficiá-la, acredita, pois "perante o risco de um parlamento sem maioria absoluta, as pessoas preferem votar em alguém que defenda os seus interesses".

É o caso de Anna Gettings, que tem dúvidas sobre o líder Trabalhista, Jeremy Corbyn, mas que vota 'Labour' por causa de Preet Gill.

"Ela é adorável. Ajudou-me a recuperar o meu subsídio de subsistência que tinha sido recusado", revela à Lusa.

Incapacitada por sofrer de epilepsia, optou pelo voto postal e já votou, mas nem todos os eleitores estão certos em quem vão votar.

Jill, que não quis dizer o último nome, revela à Lusa que trocou o Partido Trabalhista pelo eurocético UKIP em 2017, mas desta vez não sabe.

Sentadas a beber chá após uma aula de francês, Karen e Rosie, ambas aposentadas, não confiam nem em Boris Johnson nem em Jeremy Corbyn, mas receiam que votar em partidos mais pequenos, como os Liberais Democratas ou Verdes, seja inútil.

"Estas eleições são incrivelmente importantes e o resultado muito imprevisível", admite Rosie.

Os Conservadores estão a apostar forte nas regiões norte e do centro [Midlands] e País de Gales, onde muitos eleitores Trabalhistas votaram a favor da saída da União Europeia (UE) no referendo de 2016.

Uma sondagem divulgada pela Sky News na terça-feira apontava para 43% das intenções de voto no Partido Conservador, 32% no Trabalhista, 13% nos Liberais Democratas e 4% no Partido do Brexit.

A maioria de Boris Johnson pode depender do sucesso em locais como Dudley North, Crewe e Nantwich, Stockton South, conhecido por 'Black Country' devido ao peso da indústria do carvão e metalurgia, onde as margens de votos dos Trabalhistas para os Conservadores foram reduzidas em 2017.

O primeiro-ministro pode precisar de ganhar 50 assentos nestas áreas para compensar possíveis perdas para os nacionalistas escoceses do SNP na Escócia, onde os Conservadores têm 13 assentos, e para os Liberais Democratas em Londres e no sul de Inglaterra.

Em 2017, nos 62 círculos eleitorais da região West Midlands, os Conservadores conquistaram 39, incluindo em Walsall North, sob domínio do 'Labour' desde 1979, o Partido Trabalhista segurou 24 e os Liberais Democratas nenhum.

A batalha pelos eleitores é notória: Johnson e Corbyn apresentaram os respetivos programas eleitorais na região, onde o primeiro-ministro já esteve em campanha pelo menos três vezes nas últimas duas semanas.

Birmingham Edgbaston é um caso insólito na região: foi dos poucos círculos que votaram contra o 'Brexit' no referendo de 2016, apesar de a deputada Trabalhista Gisela Stuart ser uma proeminente eurocética que fez campanha ao lado de Boris Johnson e Michael Gove.

Quando Stuart se retirou, Preet Gill quase triplicou a diferença para a rival 'tory' de 2017, Caroline Squire, mas admite que já foi confrontada com hostilidade de adeptos do 'Brexit' durante as numerosas ações de campanha porta a porta.

Recentemente, fez queixa na polícia devido a cartazes vandalizados, o que "nunca aconteceu antes", garante.

Membro da campanha de Gill, o antigo deputado europeu, David Hallam, confia à Lusa: "Em 51 anos de eleições, nunca vi um ambiente tão polarizado e desagradável".

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