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"Regresso ao Benfica? Não me passa pela cabeça. Estou focado no Casa Pia"

Defesa-central regressa ao futebol português depois de vários anos no estrangeiro. Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o jogador, de 26 anos, revela as razões que o levaram a aceitar o convite do Casa Pia, destacando que a equipa recém-promovida tem todas as capacidades para se manter no escalão máximo do futebol português.

"Regresso ao Benfica? Não me passa pela cabeça. Estou focado no Casa Pia"
Notícias ao Minuto

08:02 - 25/07/22 por Rodrigo Querido

Desporto Exclusivo

A época 2022/23 marcou uma viragem na carreira de João Nunes. Depois de seis temporadas no estrangeiro, as últimas duas ao serviço do Puskás Akadémia, da Hungria, o jogador, de 26 anos, decidiu regressar a Portugal para assinar contrato com o Casa Pia, que esta temporada vai disputar a I Liga.

O futebol português não é de todo desconhecido a João Nunes, já que o defensor fez toda a sua formação no Benfica, tendo chegado a disputar a II Liga pela equipa B das águias, antes de rumar à Polónia para representar o Lechia Gdansk, onde esteve três épocas. Seguiu-se uma temporada nos gregos do Panathinaikos, onde foi pouco utilizado, e depois a aventura por terras magiares que antecedeu aquele que foi o regresso ao território português para se estrear no escalão máximo do futebol português.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, João Nunes explicou o que o levou a aceitar o convite do Casa Pia, apesar de ter tido em mãos ofertas mais vantajosas a nível financeiro, nomeadamente do estrangeiro. O defesa-central conversou ainda sobre as razões que o levaram a deixar a formação do Benfica em 2017, destacando também que, nos dias que correm, existe maior consciencialização para com o talento dos jovens portugueses.

Era importante também que o regresso a Portugal fosse para um projeto a que eu pudesse adicionar e ajudar em algoDepois de muitos anos no estrangeiro, entre Polónia, Grécia e Hungria, o regresso a Portugal concretizou-se. Era o momento certo para regressar?

Penso que sim. Volto com alguma experiência, com um crescimento e maturação diferentes do momento em que saí de Portugal. O facto de uma pessoa crescer fora em culturas distintas, adaptar-se a diferentes balneários, nenhum deles igual e com maneiras de reagir diferente à entrada de um novo jogador, é uma mais-valia. Era o momento certo.

Sentiu esse chamamento para voltar às raízes?

Haviam várias opções, umas mais agradáveis e mais chamativas do que outras. Existiam convites de Portugal, mas também do estrangeiro. Comecei a fazer esse balanço das opções com a minha família, a minha namorada e o meu agente e, em conjunto, chegámos à conclusão de que uma decisão tinha de ser tomada. Haviam projetos interessantes, entre eles o do Casa Pia, que é interessantíssimo. Estar perto de casa e daqueles que gostam tem um peso muito grande. A adaptação também seria mais fácil por conhecer aquilo que é a realidade do futebol português. Tudo isto são fatores importantes. Juntar todos estes aspetos ao projeto que o Casa Pia me apresentou facilitou este regresso.

Escolheu o Casa Pia para este regresso a Portugal, mas tinhas convites de outras equipas portuguesas. Por que razão optou pelos gansos?

Haviam alguns convites de Portugal. Do estrangeiro, a nível financeiro, eram todas propostas muitos superiores àquelas que são praticadas em Portugal. Não era essa a minha maior prioridade neste momento, ao contrário do que foi noticiado por várias páginas portuguesas, apesar desse ser um fator importante tal como para qualquer pessoa. Era importante também que o regresso a Portugal fosse para um projeto em que eu pudesse adicionar e ajudar em algo e no qual eu pudesse crescer em conjunto com o projeto. E o Casa Pia apresenta isso mesmo. É um projeto a crescer, suportado com profissionais muito bons em todas as suas áreas e que pode dar essa estabilidade ao clube e aos jogadores para terem um crescimento mais constante. Obviamente que o Casa Pia não é um clube com uma história tremenda na I Liga como outros convites que tive, mas, neste momento, tem estabilidade e tem um projeto muito mais interessante do que esses outros clubes.

Notícias ao Minuto João Nunes é um dos reforços do Casa Pia para atacar a nova temporada© Casa Pia  

Sente-se uma peça que pode ajudar nessa caminhada da equipa na I Liga?

Eu sou mais um para ajudar o grupo e naquilo que o grupo tiver necessidade eu vou estar lá para ajudar, seja no que for preciso. Nunca poderia aceitar entrar num projeto apenas para ser mais um. Quando eu digo que qualquer jogador não poder aceitar um projeto para ser mais um falo de um projeto sem ambição. E este do Casa Pia é ambicioso. Os jogadores entram com essa vontade de ajudar. O grupo é espetacular e recebeu muito bem os novos reforços, onde eu me incluo.

O Casa Pia está de regresso à I Liga depois de muitos anos de ausência. Acredita que a equipa tem capacidade para conseguir a manutenção?

Acredito que sim. O grupo da época passada já era forte e tinha uma união muito boa entre si, com toda a gente a querer remar para o mesmo lado e com vontade de fazer esse trabalho. Isso nem sempre é fácil porque é preciso gerir as expectativas do grupo de trabalho e as individuais. Encontrei um grupo coeso e não a tentar deixar os novos reforços de parte, até porque existem alguns balneários em que o jogador que já lá estava pensa que o novo lhe vem para roubar o lugar. Senti um grupo acolhedor, sempre a tentar partilhar aquilo que são as ideias do treinador e a chamar atenção para algumas situações, o que é sempre positivo. Acredito que vamos fazer de tudo para conseguirmos a manutenção o mais rápido possível, mas temos plena noção de que a I Liga é um campeonato duro. A luta pela permanência é sempre intensa. Ainda assim, temos noção da capacidade que temos e de que temos um grupo fortíssimo para conseguir esse objetivo. Queremos fazer uma caminhada tranquila e manter este projeto em crescendo.

Essa união e entreajuda que existe entre nós é meio caminho andado para o sucesso

Nomes como o João ou o Fernando Varela, que trazem uma grande bagagem após a passagem pelo estrangeiro, podem ser fundamentais para assegurar que o grupo tem a experiência necessária para se manter na I Liga?

Essa experiência é importante, mas não podemos esperar que isso nos dê algum descanso, antes pelo contrário. O facto de sermos jogadores mais experientes aporta uma responsabilidade maior e até para com os jogadores mais novos para os tentar encaminhar. O balneário do Casa Pia já tem figuras fortes nesse sentido, como o Vasco Fernandes, o Afonso Taira, o Ângelo Neto e o Ricardo Batista. Todos eles são nomes com muita experiência, com imensos jogos de I Liga e isso vai ser muito importante no balneário. O facto de sermos mais experientes vai ajudar a lidar melhor com as situações, seja para o bem, seja para o mal.

Essa conjugação entre juventude e experiência vai ser uma das chaves para a manutenção esta época?

É obviamente um fator diferenciador, a juntar à irreverência dos jovens e à vontade que este grupo tem. Falamos de jogadores com centenas de jogos na I Liga e outros com experiência no estrangeiro nas mais diversas ligas. Essa união e entreajuda que existe entre nós é meio caminho andado para o sucesso. Claro que vamos trabalhar para fazer o melhor campeonato possível.

Voltemos um pouco atrás e ao seu passado. Fez toda a formação no Benfica até sair em 2017. Levou muitas recordações consigo?

Foram muitos anos nos quadros do Benfica a formar-me não só como jogador, mas também como homem. Foram anos muito importante da minha vida. Mas é uma situação que já está passada, com muitos momentos bons e outros menos bons. A saída, por exemplo, acontece de uma maneira que eu não imaginava. O Benfica continua a produzir atletas de muita qualidade e o jogador de futebol tem de entender que há muito talento para meia dúzia de lugares. Tive momentos bons de crescimento no Benfica, onde ganhei campeonatos nacionais e estive na final da Youth League, e na seleção nacional, em que participei na final do Europeu sub-19 e no Mundial sub-20. São tudo momentos numa fase formativa que passam muita experiência numa altura tão jovem da vida.

Notícias ao Minuto João Nunes com a camisola do Benfica© Getty Images  

O que o levou a quebrar este laço com o Benfica? Não se achava uma solução para o futuro?

O futebol vive-se do momento e talvez aquele não tenha sido o mais indicado para mim. Cheguei a fazer parte de alguns treinos da equipa principal, haviam indicações do clube que o passo a ser dado seria outro daquele que foi e houve alterações à última hora. Enquanto jogadores dependemos muito do momento, de quem está presente e de quem toma as decisões. Nesse sentido, a decisão que foi tomada por parte do clube foi uma e que acaba por levar a essa saída. Maioritariamente os caminhos dos jogadores não são feitos em linha reta, mas a qualidade não desaparece. Muitos deles estão a mostrar todo o seu potencial lá fora.

Concorda que existia, naquela altura, pouca predisposição dos clubes para darem espaço aos jogadores mais jovens?

De uma certa maneira sim, mas também pesa quem está no clube e toma as decisões. Nós próprios tomamos decisões no dia a dia porque achamos que algo pode contribuir mais naquele momento e nem olhamos muito para o que são os próximos anos. E muitas equipas tomam decisões nesse sentido e nós, jogadores, temos de entender isso. Nem sempre essas situações são conduzidas da melhor maneira porque estão a comunicar uma decisão a jovens. Muitas vezes são pessoas a tomar essas decisões pelos jovens e a conduzir a vida dos jovens num certo sentido. E é preciso cuidado com isso. A maneira como essas decisões são tomadas influenciam muito do que é o futuro desse jovem seja como profissional, seja como pessoa.

No futebol português a porta [para os jovens jogadores] tem estado mais aberta nos últimos anos

Havia então um certo receio dos clubes em apostarem nos mais jovens por temerem que os atletas não estivessem à altura dos mais velhos?

Quando se tomam esse tipo de decisões é para ter resultados no imediato. A verdade é que, muitas vezes, em vez de se fechar a porta, podemos deixá-la entreaberta ou até mesmo encostada. No futebol português a porta tem estado mais aberta nos últimos anos. É importante que os jovens sintam que essa porta está aberta e que vão lá espreitar e continuar a trabalhar para que ela se mantenha aberta. O futebol português só beneficia disso. Estas decisões são muitas das vezes institucionais e nem passam pelas equipas técnicas. Quanto aos jovens, têm de trabalhar arduamente para terem essa oportunidade nas equipas principais e, se não for no campeonato português, há outros campeonatos com essa porta aberta para continuarem a sonhar ser futebolistas profissionais e fazerem carreiras bonitas.

Sente que os bons resultados das seleções mais jovens obrigaram os clubes a mudarem de paradigma e olharem mais para a formação e para os jogadores que despontam no nosso campeonato ao invés de recrutarem reforços no Brasil, na Argentina ou na Colômbia?

Claro que sim e sem desrespeitar os países que foram referidos, onde são produzidos jogadores de extrema qualidade. Eles têm jogadores excepcionais, mas nós também temos. Felizmente os clubes têm olhado para os jovens cada vez mais. Por exemplo, há vários jogadores da minha geração que podiam estar noutro patamar neste momento, mas não estão porque não lhes foi dada essa mesma oportunidade. É importante o jogador estar preparado para quando aparecer esse timming, mas sem desistir desse sonho de ser futebolista. Muitas vezes o foco é na formação dos grandes, mas existem atletas de qualidade em outros clubes a despontar no Campeonato de Portugal, na Liga 3 e na II Liga. E se formos a ver, muitas vezes o jogador em causa não passou pelos grandes. Têm sido criados muitos espaços para os jovens evoluírem e lhes dar visibilidade. E isso acontece porque os clubes estão mais sensíveis a olhar para o jogador jovem.

Notícias ao Minuto João Nunes deixou Portugal em 2017 e esteve três época no Lechia Gdansk© Getty Images  

O Rúben Dias, de quem foi colega na equipa B do Benfica, foi aposta na equipa principal e agora está no Manchester City. Surpreende-lhe esta ascensão dele e o facto de ser uma das figuras da seleção?

O Rúben, tal como outros jogadores, entra no timming perfeito. A equipa tinha alguns problemas a nível de centrais, agarra esse lugar e aproveitou bem o timming dele, assim como o Renato Sanches. Os jogadores também produzem de maneira diferente consoante o sistema em que os estão a encaixar. O Florentino, por exemplo, vem de dois empréstimos e entra agora num esquema de um novo treinador que demonstra bastante o que são as suas capacidades. Podem questionar por que razão não tinha espaço noutros momentos. Talvez o tivesse, mas não se encaixava nas ideias que o treinador tinha. O jogador não tinha melhor ou maior qualidade, tem a mesma porque continua a ser um atleta de alto nível. Mas este poder ser o timming ideal dele. Houve muitos que tiveram o timming certo e outros que não.

A mudança nas infraestruturas também potenciou essa aposta. Quando chegou ao Benfica nem havia Seixal...

Quando entro no Benfica, com oito anos, treinávamos no sintético da Luz e nos Pupilos do Exército. A partir dos meus 13/14 anos aparece o centro de estágio que vem dar condições excecionais aos jovens para crescerem e para evoluírem. Essas infraestruturas vão dando algumas condições, inclusive naquilo que é o projeto educativo, permitindo que o jogador estude e mantenha um percurso académico que o ajuda a ser melhor pessoa. As pessoas têm ideia que é fácil, mas não o é. Exige muita vontade dos jovens. Tem de se conciliar os estudos com o futebol e nos escalões de formação existe cada vez mais esse cuidado com esse aspeto. Se olharmos em termos percentuais, de todos aqueles que praticam para ser futebolistas profissionais, a percentagem dos que chegam a esse patamar é ínfima. Não é possível que todos venham a ser jogadores de futebol nem cheguem a um alto nível. E nem todos ganham milhões e fazem fortunas com uma vida unicamente do futebol, que lhes permita não fazer nada no futuro. Eu sempre tive algum cuidado no percurso académico, assim como os meus pais, e fazia um grande esforço para conciliar os estudos com o futebol. É muito importante que os jovens não descurem esta parte porque a carreira de futebolista acaba rápido.

É importante essa passagem de experiência e os jovens crescem muito com o contacto com os mais velhos

Fez parte da equipa que foi à final da Youth League em 2014 e este ano o Benfica ganhou esta competição. Sentiu-se orgulhoso por ver os jovens a triunfar?

Fosse qual fosse a equipa portuguesa, eu sentiria orgulho por ver o futebol português a singrar e a mostrar que tem jovens de qualidade, provando que podemos estar nestes momentos decisivos. Infelizmente não pudemos conquistar esse troféu em 2014, mas tenho a opinião de que o triunfo nesta prova abre oportunidades, até pela pressão social que acrescenta, e põe os jogadores mais valorizados. O FC Porto já o tinha conseguido e agora foi a vez do Benfica. É importante para o futebol português essa afirmação das equipas mais jovens. A vitória na Youth League cria também uma pressão boa que abre portas para que os jovens estejam presentes e se mostrem. A partir daí, as decisões são tomadas, mas os jovens já tiveram a hipóteses de se treinarem com os mais velhos ou fazerem pré-épocas, como aconteceu agora com o Benfica. É importante essa passagem de experiência e os jovens crescem muito com o contacto com os mais velhos.

Relativamente a objetivos de carreira, voltar ao Benfica está no horizonte?

Não. Neste momento existe um João Nunes casapiano e que não pensa nada no Benfica. Acompanho-os da mesma forma que o faço com o Sporting e o FC Porto. Foi importante o meu período de formação no Benfica e representou uma parte do meu crescimento enquanto jogador. Mas estou muito distante do que é o Benfica e completamente focado no projeto do Casa Pia. Não é uma coisa que me passe pela cabeça. O mais importante, para mim, é poder ajudar o Casa Pia dentro de tudo aquilo que me seja possível.

Mas este regresso a Portugal, e uma época bem sucedida ao serviço do Casa Pia, pode abrir as portas para clubes com outras ambições na I Liga...

Claro que qualquer jogador que alinhe no campeonato português tem de ter aspirações para chegar a um patamar mais alto. A I Liga tem muita visibilidade por cá, mas também lá fora. Mas aqui no Casa Pia temos de estar concentrados e focados na nossa luta pela manutenção. A partir do momento em que comecemos a pensar fora disso podemos acabar prejudicados. O nosso campeonato é como se fosse uma grande montra e vemos que os três grandes estão cada vez mais atentos ao que se faz cá dentro. Todos os mercados vemos jogadores que estão no campeonato português a saírem para as mais diversas Ligas por toda a Europa.

E em relação às seleções? É internacional por quase todos os escalões. Acredita que este regresso a Portugal o pode colocar mais perto das escolhas do selecionador Fernando Santos?

São sonhos e objetivos que todos temos. É normalíssimo que estando na Polónia, na Grécia e na Hungria a visibilidade seja outra, não vamos esconder isso. O campeonato português traz outra visibilidade e conseguindo trabalhar e fazer uma boa época pode fazer aparecer essa oportunidade. O David Carmo, por exemplo, fez uma excelente temporada no Sporting de Braga, mudou-se para o FC Porto e está na seleção. O nosso campeonato possibilita esse tipo de situações aos jogadores e claro que nos é permitido sonhar nesse sentido.

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