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"O telefone foi deixando de tocar e em agosto tive de mudar o chip"

Defesa português de 25 anos esteve uma época no estrangeiro ao serviço do Al Washm e regressou, este verão, a Portugal. Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Vasco admite que viveu um período complicado e revela qual o segredo para ultrapassá-lo.

"O telefone foi deixando de tocar e em agosto tive de mudar o chip"
Notícias ao Minuto

08:01 - 01/01/20 por Francisco Amaral Santos

Desporto Vasco Coelho

O Campeonato de Portugal continua a ser rico em surpresas e em Fátima mora um central goleador. Trata-se de Vasco Coelho, jogador que na última época jogou na Arábia Saudita mas que no verão regressou a Portugal. Depois de um verão "atribulado", o jogador de 25 anos aceitou o convite de ingressar no Fátima e os números não enganam quanto ao seu bom momento de forma.

O certificado internacional até atrasou a entrada de Vasco Coelho na equipa que ocupa o segundo lugar da Série C, mas a partir de meio de outubro passou a ser titular indiscutível no plantel orientado por Akil Momade

Em entrevista ao Desporto ao Minuto, Vasco Coelho realça que o ano fora de Portugal mudou muita coisa na sua vida, nomeadamente a forma como lida e como utiliza a a sua força mental.

Mais do que a parte física, o antigo jogador de clubes como Benfica, Sporting de Braga ou Farense acredita que o aspeto mental pode ser o catalisador de vários momentos positivos.

Este grupo é incrível e só assim temos conseguido ultrapassar as dificuldades que têm surgidoQue balanço faz da experiência no Fátima neste regresso ao futebol português?

Sinto-me muito bem inserido num grupo que é espetacular e muito unido. Sem isso, seria impossível fazer aquilo que temos feito no último mês. Nos últimos oito jogos apenas perdemos um. Tem sido muito bom para mim por estar de volta a Portugal. As saudades eram muitas, não só da família, da namorada e dos amigos, mas também daquilo que é o futebol português e do nosso rigor. Inicialmente foi muito complicado porque como vinha do estrangeiro precisava do certificado internacional. Comecei a jogar tarde por causa disso. Vim para Fátima em agosto e o certificado só chegou no início de outubro. Ou seja, só a partir daí é que pude começar a jogar. Perdi vários jogos e comecei com o comboio em andamento. Ainda assim, agarrei o lugar e as coisas estão a melhorar. Consegui marcar três golos nos últimos dois jogos e ajudei a equipa a ascender ao segundo lugar. Tem sido muito bom.

O objetivo do Fátima passa por chegar ao playoff e depois à II Liga?

Não é o objetivo… O nosso objetivo é lutar pelos lugares cimeiros, os lugares que dão acesso ao playoff e tentar ir à fase do mata-mata, como se costuma dizer. Para já, o nosso objetivo é ir ao playoff.

A chegada de jogadores como o Vasco e o Tiago Caeiro dão um lado mais experiente a este plantel do Fátima?

O Tiago Caeiro é um bocadinho mais velho do que eu (risos). Ele tem uma vasta experiência, mas sim, claro que ajuda. Mas quero voltar a reforçar, para além do tipo de jogadores que temos, o mais importante é o tipo de homens e pessoas que compõem este grupo. Este grupo é incrível e só assim temos conseguido ultrapassar as dificuldades que têm surgido e que acontecem em todas as equipas. A chegada de jogadores mais experientes e mais velhos claro que foi importante. São eles que têm segurado o balneário em determinados momentos.

Como surgiu esta veia goleadora nos últimos jogos?

Estes últimos jogos têm sido a cereja no topo do bolo, mas isto é algo que já vem do passado. No ano passado quando estive sozinho na Arábia Saudita aproveitei para melhorar muito em termos psicológicos. Na parte dos índices de confiança e na parte motivacional, comecei a trabalhar com algumas pessoas especializadas na área. Comecei a preparar os jogos e os treinos de outra forma. Esta veia goleadora começou na Arábia Saudita, porque até então, como sénior, creio que só tinha três ou quatro golos no total. Agora, desde fevereiro até hoje, já tenho sete golos em jogos oficiais e outros tantos em jogos particulares. Passa tudo pela maneira como tu encaras os jogos, como encaras os lances de bola parada e depois é a tal questão da bola de neve: fazes um golo, ficas mais confiante e vais querer fazer outro. Ganhas também a confiança dos teus colegas e depois tens de ter bons executantes que tenham qualidade para meter a bola no sítio certo. Felizmente, aqui no Fátima isso acontece.

Notícias ao MinutoVasco Coelho a festejar um golo pelo Fátima, uma imagem repetida por quatro ocasiões esta época© Global Imagens

Ou seja, para além do trabalho físico, há também um trabalho mental?

Sem dúvida. Para mim é o mais importante e decisivo. Quando vais para uma bola parada com o pensamento que vais fazer golo, dificilmente isso não vai acontecer. É algo que surge de maneira natural. Simplesmente vais à bola e o golo vai acontecer. Não é do dia para a noite. É um trabalho que fui desenvolvendo e que tive oportunidade de aprimorar este ano. Hoje em dia, depois daquele ano que passei na Arábia, sinto-me muito mais capaz e maduro tanto em termos profissionais como pessoais.

Depois da experiência lá fora, como lidou com o facto de regressar a Portugal para um campeonato, que em primeira instância, não era aquele que idealizava?

Quando terminou a época na Arábia Saudita tinha coisas em Portugal, bem como em algumas primeiras e segundas Ligas europeias muito mais interessantes do que o Campeonato Nacional de Seniores, com todo o respeito. Ainda que agora tenha maior visibilidade e isso é muito bom. No entanto, é sempre o terceiro escalão do futebol português. Se houver oportunidade de dar o salto para patamares superiores, ou mesmo para fora, em que os valores são melhores e as condições de trabalho bem como de vida , claro que é sempre algo a ter em conta. Na Arábia Saudita fiz cerca de 40 jogos e a época correu-me muito bem, estava convicto de que iria aparecer algo do meu interesse em Portugal. No entanto, o tempo foi passando e o telefone foi deixando de tocar ou quando tocava era para ouvir notícias menos boas. Depois, começas por rejeitar uma proposta, rejeitas outra e o tempo vai passando… Recusei boas propostas que tinha na Arábia Saudita porque queria voltar ao meu país e provar o meu real valor e pensei que iria aparecer aquela proposta ideal, mas acabou por nunca acontecer. Em agosto tive de mudar o chip e de arregaçar as mangas. Mas até esse momento, foi um bocadinho revoltante e difícil. Tu olhas para todo o esforço que passaste no ano fora e pensas: 'Será que valeu a pena?'. Ficas, de certa forma, revoltado. Porém, com o decorrer dos últimos meses e pela forma como as coisas se estão a encaminhar, estou certo que o futuro será risonho.

Aqui, mais uma vez, a importância da mente assume um papel essencial…

Precisamente. Deixei de ver os problemas e passei a tentar encontrar as soluções. Eu antes focava-me muito nos problemas e ficava ali a magicar. Na Arábia os problemas eram muitos e eu pensei: ‘Se continuar assim, não consigo ficar cá.’ Comecei então a concentrar-me nas soluções e como iria fazer para resolver as coisas menos boas que aconteciam no dia-a-dia. Hoje é assim que penso. Mais uma vez, a parte da experiência sozinho e longe de casa ajudou-me a conseguir resolver de forma mais breve e positiva os problemas que vão aparecendo.

O meu principal objetivo passa por chegar à I Liga e sei que isso irá acontecer nos próximos tempos

Apesar de estar focado no presente, presumo que ainda tenha muitas ambições para a carreira…

Sem dúvida… Estou com 25 anos e tenho, pelo menos, mais dez anos de futebol pela frente. Sou um atleta que se cuida e que gosta muito de treinar. Até aos 35 anos vou estar completamente em forma e os centrais atingem o seu pico de forma aos 29/30 anos. O meu principal objetivo a curto prazo passa por chegar à I Liga e sei que isso irá acontecer nos próximos tempos. Não sei se será na próxima época, mas tudo irei fazer para o conseguir.

Naquele período em que esteve sem clube, como geriu a parte física?

É mais complicado do que se julga. Estás em junho/julho e as pessoas estão de férias no verão e pensam que tu por estares sem clube, ou a época ainda não ter, também estás, então convidam-te para tudo e mais alguma coisa mas tu não podes ir porque tens de cumprir as horas de descanso e continuar a treinar, pois caso te liguem tens que estar preparado. Ou seja, um jogador tem de ser muito forte e rigoroso para as coisas correrem bem. Quando estás motivado e sabes que vai aparecer algo de bom, isso é fácil de fazer, mas quando passa algum tempo e o telefone teima em não tocar… Acho que é, sem dúvida, o mais desafiante no meio disto tudo. É uma parte muito complicada, mas, felizmente, consegui ultrapassar e cheguei a Fátima num ótimo nível.

Foi um ano muito atribulado e de aprendizagem ao mesmo tempo?

Completamente! Atribulado, de grande aprendizagem e de muito sacrifício pessoal. Estive quase sempre sozinho. Claro que tive o apoio da minha namorada, da minha família e dos meus amigos, mas estava lá só comigo. Claro que as pessoas tentam ajudar e motivar, mas se não fores tu a sair da cama, a ires treinar e dares a cara à luta, ninguém o irá fazer por ti. Não é fácil veres tudo e todos no seu país natal com a família, amigos e tu a batalhares sozinho a milhares de quilómetros de distância. Não é sacrifício nenhum, porque eu amo esta profissão, mas esta é uma faceta desconhecida para a grande maioria das pessoas. As pessoas não têm noção e ainda bem, é sinal que nunca tiveram de passar por isto.

As pessoas pensam que a vida de futebolista é um mar de rosas…

Pois pensam, mas eu compreendo que assim seja. Quando era mais novo, sempre quis ser jogador. Tinha essa ideia, no entanto fui percebendo que se queremos chegar ao alto nível temos de sacrificar muita coisa e ter uma vida muito regrada. Só as pessoas que estão mais próximas de ti têm noção dos sacrifícios que fazes: alimentares-te bem, não ter um sábado, um domingo e um feriado. Ter somente uma ou duas semanas de férias porque depois disso já tens que começar a preparar a nova época... Fazemos aquilo que gostamos, mas nas outras profissões as pessoas também fazem aquilo que mais gostam e têm fins de semana, têm feriados, têm férias, têm Natal e têm passagem de ano. No ano passado, joguei a 25 de dezembro e joguei a 1 de janeiro... Custou porque estava sozinho e longe dos meus, mas joguei com muito gosto. Concluindo, tem muita coisa boa é um facto, mas nem tudo é um mar de rosas como a maioria das pessoas pensa.

Vinícius é um avançado chato. Os defesas nunca estão tranquilos

Não posso deixar de lhe perguntar sobre o Carlos Vinícius. Quando ele assinou pelo Benfica no início da época, disse que ele tinha condições para se impor. Esperava que ele se afirmasse tão rapidamente?

Não é algo que me surpreenda, tal como tinha dito no início da época. Mas também não estava à espera desta ascensão tão rápida e que fosse correr tão bem, nomeadamente por estes últimos dois meses. Ele começa bem a pré-época, inicia a temporada no banco, depois lesiona-se e aparece na Taça de Portugal contra o Cova da Piedade...  A partir daí tem sido incrível. O oportunismo, no bom sentido, a forma como se entrega ao jogo, a maneira como os colegas o querem ajudar... O Vinícius é uma pessoa cinco estrelas. Fico feliz por ver aqueles de quem gosto serem recompensados e estou bastante satisfeito com o que tem alcançado. Tenho a certeza que ele está a pensar em fazer ainda mais, em dar o título ao Benfica e em deixar a sua marca na Liga Europa. 

Quão difícil é para um defesa central marcar um jogador como o Carlos Vinícius?

O Vinícius reúne um conjunto de características muito particulares. Para além de ser muito alto, segura muito bem a bola e é forte no ataque à profundidade. Ou seja, como defesa não é nada fácil, porque ele consegue receber e guardar muito bem a bola dada a força que tem e a forma como se protege, mas pode de igual forma pedir nas costas e tens que estar preparado para proteger o espaço nas costas.  Ele consegue reunir essas características e é algo raro. Tem um pé esquerdo muito bom, tem sentido posicional e tem uma intensidade muito alta. Está o jogo todo a pressionar e os defesas nunca estão tranquilos porque não sabem onde ele anda. É muito complicado marcar um jogador assim. É um avançado chato.

Para fechar, quais os desejos para 2020?

Se fosse há um ano, diria que desejava estar aqui ou ali. Iria falar em coisas muito concretas. Tenho os meus objetivos bem definidos, relativamente ao que quero para 2020, mas são coisas mais pessoais que guardo para mim. Neste momento, o mais importante é continuar com saúde, rodeado daqueles que me querem bem e mais gosto. Porque se tivermos isso e estivermos realmente felizes, acredita que tudo o resto chegará.

Notícias ao MinutoVasco Coelho em mais uma ação defensiva© Reprodução Fátima

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