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Bia Ferreira diz que violência é o "maior entrave" da comunidade LGBTQIA+

A cantora brasileira Bia Ferreira, que dá voz à comunidade LGBTQIA+, contra o racismo e a xenofobia, diz que a violência é o seu "maior entrave", mas acredita que a sua música serve para "despertar o sentido critico" do público.

Bia Ferreira diz que violência é o "maior entrave" da comunidade LGBTQIA+
Notícias ao Minuto

23:55 - 29/07/22 por Lusa

Cultura FMM Sines

"As pessoas estão muito habituadas a apenas consumirem aquilo que já é mastigado para elas, não conseguem mastigar e falar qual o sabor que tem. E como as pessoas estão habituadas a só engolirem o que é dado, é muito difícil que se crie um sentido crítico", alertou.

Numa conversa que concedeu à agência Lusa, depois de um concerto no Festival Músicas do Mundo (FMM), que termina no sábado, em Sines (Setúbal), a voz do conceito 'Música de Mulher Preta' (MMP), destacou a importância de se combater a disseminação das "'fake-news'".

"Acho que as 'fake-news' têm sido disseminadas de uma forma onde as pessoas, com menos informação, acreditam naquelas notícias e as pessoas com mais informação são as que manipulam essas informações para que elas sejam passadas falsamente", defendeu.

Este é, de resto, um dos fenómenos que tem criado contratempos na mensagem que a artista pretende passar, dando o exemplo de "pessoas que são resistentes" ao seu discurso e que têm "dificuldade em entender" que "as opiniões diferentes" podem ser debatidas.

"As pessoas que normalmente não concordam partem para a ignorância e a violência. Então, sofro muitas ameaças, sofro ataques nas redes sociais, sofro ataques públicos; em concertos já aconteceu das pessoas quererem jogar coisas para o palco e de pessoas não concordarem mesmo com o que eu digo", relatou.

A "falta de acesso à informação deixou as pessoas ignorantes e as pessoas partem para a violência com uma facilidade muito grande, então acho que a violência é o maior entrave que tenho para continuar fazendo o que faço, embora eu não tenha medo, continuo fazendo", garantiu.

"Nessa minha vinda para Portugal me deparei com uma realidade diferente de várias pessoas que não conheciam o meu trabalho, passaram a conhecer por conta de matérias de jornais, e começaram a atacar-me, a ameaçar a minha segurança e a tentar amedrontar-me, até de sair à rua, em Lisboa", denunciou.

Para a compositora e multi-instrumentista, ainda vivemos num mundo "preto e branco", porque "a diferença, ainda é gritante, a desigualdade ainda é gritante, as mortes ainda são gritantes" e, no Brasil, este ambiente intensificou-se com a eleição de Jair Bolsonaro.

"Legitima esse tipo de discurso, legitima o ódio, legitima a violência, legitima o preconceito, faz com que as pessoas percam o medo de destilarem o seu preconceito. Ter uma pessoa no cargo máximo do executivo brasileiro faz com que as pessoas se sintam livres para praticar violência", justificou.

O "desgoverno" que se vive no Brasil "vai-nos dar muitos problemas", admitiu a cantora ativista, apoiante de Lula da Silva, que se referiu a Bolsonaro, no passado, vincando que o país "vai demorar muito tempo para recuperar os quatro anos de atraso".

"Ele [Bolsonaro] nunca me representou, nunca foi presidente. O Brasil vive um desmando desde que esse homem assumiu. Então nós vivemos um desgoverno, não há governo no Brasil desde que ele assumiu, então agora a gente está buscando um espaço onde" seja possível "reconstruir as ruínas que foram deixadas nestes últimos quatro anos", argumentou.

No entanto, reconheceu que o futuro não será fácil e afiançou que o Brasil "ainda vai ter de lidar com esse fanatismo", porque "vai haver resistência" na viragem "dessa página".

"A gente ainda vai ter de lidar com esse fanatismo, com as pessoas que saem armadas nas ruas, com as pessoas que são violentas, com as 'fake-news', com os 'robots' da internet, ainda temos muito para lutar, mas acho que a partir do momento em que a gente vira essa página, encontramos um pouco mais de repressão a esse tipo de discurso genocida e preconceituoso", adiantou.

A artista elogiou ainda o público do FMM, onde diz ter dado "um dos 'shows' mais bonitos" desde que atua em Portugal, e onde conseguiu reunir "várias pessoas dispostas a encontrar informação na arte".

"Espero que tenham saído daqui transformadas, assim como eu saí. Acho que foi um dos shows mais bonitos que fiz, de todas as minhas vindas para Portugal. Desde 2018 venho todos os anos para fazer concertos e este foi, de longe, um dos mais bonitos que já fiz. Estou saindo daqui muito feliz, alimentada, com o coração cheio de esperança, para construir e continuar construindo este tipo de arte que faço", concluiu.

Bia Ferreira vai regressar a Portugal em setembro, para três concertos no âmbito da sua digressão europeia, atuando no palco do B.Leza, em Lisboa, em 10 de setembro. Antes, dia 4, estará na Festa do Avante!, no Seixal, e no Mou.co, no Porto, no dia 5.

Leia Também: Bia Ferreira "surpreendida" com "deturpação" do seu discurso

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