Meteorologia

  • 26 ABRIL 2024
Tempo
15º
MIN 12º MÁX 17º

Incerteza no PSD. "Parece que ninguém quer pegar na herança de Passos"

Paulo Rangel e Luís Montenegro são cartas fora do baralho. Quem entrará então no barco da corrida à liderança do PSD para remar com (e contra) Rui Rio? Foi o que o Notícias ao Minuto quis saber.

Incerteza no PSD. "Parece que ninguém quer pegar na herança de Passos"
Notícias ao Minuto

08:17 - 08/10/17 por Melissa Lopes

Política Análise

Os tempos que se vivem no Partido Social-Democrata são de incerteza. Depois da decisão de Pedro Passos Coelho de não se recandidatar a líder do partido, menos de 48 horas depois das eleições autárquicas, levantou-se de imediato a questão de quem será, ou não, candidato à liderança do PSD. Rui Rio é, para já, a única certeza, depois de o ex-líder da bancada parlamentar Luís Montenegro e de o eurodeputado Paulo Rangel terem recusado entrar no ‘barco’. Que leitura pode ser feita, neste momento, da corrida à liderança do maior partido da oposição?

Em primeiro lugar, analisa o politólogo António Costa Pinto, “vale a pena perguntar” por que razão políticos como Rangel e Montenegro não avançam. Para o especialista, “há vários fatores” a ter em conta sobre os quais “só conhecendo o PSD conseguiríamos perceber”. Um desses fatores é “perceber que tipo de apoios internos teriam estes possíveis candidatos (nestas eleições diretas, a mobilização por voto do aparelho é muito importante, os sindicatos de voto são muito importantes)”.

Outro fator que condiciona ou dita o avanço de candiatatos é estes considerarem que não é o “timing ideal” - “e pelos vistos consideraram”. 

“As eleições são pessoalizadas e, portanto, estamos a falar de políticos profissionais que pensam em função da questão: ‘este é o tempo em que posso ganhar?’, ou ‘se eu ganhar, vou conseguir sobreviver à oposição, ou não?’, explica Costa Pinto. “Ou por um fator, ou por outro, decidiram que o melhor seria não avançar”, completa.

Por seu turno, o também politólogo André Freire estranha o facto de ainda não existir candidato algum apostado em ‘agarrar’ no PSD de Pedro Passos Coelho. “Parece que ninguém quer pegar na herança de Passos Coelho, é um pouco estranho”, refere, frisando: “Por ora parece não haver ninguém que queira avançar para defender o legado, alguém que fosse uma candidatura de continuidade, com mudança naturalmente, mas que assumisse a herança de Passos com mais assertividade”.

Quanto a Rui Rio, comenta Freire, representa "a ala tradicional, próxima de Ferreira Leite, quiçá mais social-democrata”.  A sua candidatura não será uma grande novidade, “parece que esteve eternamente na expectativa”. “Pelo tempo que esteve em compasso de espera, parece haver um certo calculismo político. Acho que é um valor forte e conhecido, que representa uma tendência mais social-democrata”, analisa.

Para Costa Pinto, Rio “não tinha alternativa” a não ser avançar com a candidatura, depois de tanto tempo na iminência de o fazer. “Se não se candidatasse agora, perdia a sua oportunidade”, entende este especialista, considerando que, apesar das ideias e do programa terem a sua importância, o “factor pessoal conta”.

Não tendo ainda passado uma semana das eleições autárquicas, e não tendo ainda Rui Rio apresentado formalmente a sua candidatura, a verdade é que “as acusações” contra si já começaram, nomeadamente críticas de que Rio “seria o candidato demasiadamente centrista e de que o PSD não precisa de um candidato centrista, do bloco central”. Posto isto, Costa Pinto antevê que Rui Rio vá - “seguramente” - “ fazer uma campanha mais polarizada em relação ao PS e à atual solução governativa”.

Contudo, a questão paira no ar: “Que outros candidatos teremos além de Rui Rio?”.

A resposta não é simples e certezas poucas há (só mesmo a de Rui Rio, que apresentará a candidatura na próxima quarta-feira, em Coimbra). “Para já, o nome que obviamente se coloca é o do ex-primeiro-ministro e ex presidente do partido, Santana Lopes, que neste momento ainda não deu resposta. Existirão sempre outros, não haverá falta de candidatos. A questão está em saber que tipo de apoio recolhem internamente, isso é fundamental”, sublinha Costa Pinto.

E Miguel Relvas?, perguntamos. “Candidatos todos podem sempre ser. O problema é que margem de manobra têm para ganhar efetivamente. Relvas, por exemplo, conhece bem o aparelho do partido, foi fundamental na vitória de Passos Coelho”. No entanto, faz sobressair o politólogo, um presidente do partido será sempre um candidato a primeiro-ministro. “Relvas aí tem mais dificuldades”. Para Freire, a possibilidade de o antigo ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares do governo de Passos existe. “Mas não seria uma boa notícia. É uma pessoa que tem problemas de credibilidade”, nota.

Na opinião de Costa Pinto, hão de surgir outros candidatos além de Rui Rio e, hipoteticamente, Santana Lopes. Poderão surgir outros “mais jovens”. E, uma vez que o novo líder “segure o partido”, seja ele quem for, chegar a primeiro-ministro dependerá mais de questões externas.

Considerando “curioso” que ninguém da ala mais próxima de Passos Coelho avance, o politólogo André Freire entende que o novo líder terá como missão “conciliar a herança recente - porque não podem renegar completamente o que foi feito até aqui - com um discurso novo. É preciso virar a página. É esse o maior desafio”, analisa.

Quanto aos possíveis candidatos, Freire não vê um bom candidato em qualquer dos nomes falados, além do “valor forte e conhecido” que representa o ex-autarca do Porto. “Santana Lopes tem o problema de ser um 'déjà vu'”, opina, lembrando que as coisas não lhe correram bem quando foi primeiro-ministro. “Foi uma saída atribulada”, recorda. Quem representa também um 'déjà vu é', na opinião de André Freire, Marques Mendes. “Fez bons lugares, sim, mas seria um sinal de falta de imaginação”.

Em relação a André Ventura, que já disse que avançaria ele próprio caso ninguém se candidatasse contra Rui Rio, Freire comenta que “é um ato de coragem e de ousadia”. Algo que seria “bom” e que “muitas vezes falta no calculismo dos partidos”. Todavia, Ventura “não tem notoriedade e lastro político para liderar um partido como o PSD”, ajuíza.

O desafio duplo do próximo líder: manter o eterno aliado sem perder votos 

Candidatos à parte, o que “desta vez será mais importante” para o PSD que acabou de perder votos para o “eterno parceiro”, é saber saber fazer um jogo duplo. “O candidato a primeiro- ministro e novo presidente do PSD terá de pensar, não apenas na oposição ao PS, mas também nas soluções com o seu principal aliado, mas também rival em tempos eleitorais, o CDS”, destaca Costa Pinto, sublinhando que o novo líder terá de ter “alguma demarcação ao tipo de oposição que Passos fez e à imagem austeritária que caraterizou a sua gestão.

De resto, entende ser demasiado cedo para analisar ou prever o que será a corrida à liderança do PSD, uma vez que não são conhecidos todos os candidatos. Até porque “o discurso de cada um será feito, obviamente, em função do outro candidato”, pressupõe, exemplificando que uma coisa seria avançar Marques Mendes, outra Pedro Santana Lopes e outra bem diferente seria se avançassem os dois, mais Rui Rio. “E no caso de estes dois não comparecerem, Rui Rio terá uma margem de grande autonomia”, sustenta.

Por outro lado, ao não se recandidatar – contrariando a lei de ferro, a opinião de muitos observadores que consideravam que o ainda líder do PSD iria manter-se até 2019 -, Pedro Passos Coelho introduziu o elemento de “incerteza” que, só será, no fundamental, resolvido quando soubermos quem são os candidatos com potencialidades de liderar o PSD, sob pena de existir alguma fluidez eleitoral”.

Isto é, explica o especialista, “a democracia portuguesa já está habituada, já interiorizou, que as maiorias de Direita, ou são de um só partido, que é muito difícil, ou são em coligação de PSD e CDS. Evidentemente que as eleições en Lisboa introduziram alguma fluidez, muitos eleitores do PSD votaram no CDS. O próximo presidente do PSD terá este desafio duplo, de manter o seu aliado, sem perder o seu eleitorado”, finaliza.

Recomendados para si

;
Campo obrigatório