Arqueólogos colocam a Lourinhã na rota das Descobertas e do açúcar

Arqueólogos localizaram na Lourinhã uma olaria de produção de recipientes que, no século XVI, na época da expansão portuguesa, seriam enviados para as colónias e aí utilizados na produção de açúcar.

Arqueologia: fornos do século XVI encontrados na Lourinhã

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Lusa
08/07/2025 08:34 ‧ há 3 horas por Lusa

País

Lourinhã

"Parece muito verosímil, eu diria neste momento quase certo", que um grupo de recipientes encontrados nas colónias e cuja proveniência era até agora desconhecida fosse "produzido nesta região", afirmou hoje o investigador André Teixeira, da Universidade Nova de Lisboa, à agência Lusa.

 

Os arqueólogos associaram essas formas e as que tinham aparecido em Paimogo, na Lourinhã, há muitos anos, mas na altura não se percebeu o que seriam.

"Nós estamos a fazer análises químicas para provar, de forma irrefutável, essa ligação, mas, olhando aos aspetos das peças, tanto à sua forma, como sobretudo ao fabrico e ao tipo de argila que utilizam, fazemos essa conexão claramente", frisou.

No âmbito das escavações que estão desde há uma semana a realizar num terreno agrícola, os arqueólogos já identificaram o forno dessa olaria, além de fragmentos cerâmicos.

"No país são pouco mais de uma dezena de fornos, portanto não temos muitos em Portugal, mas em contexto rural este é único", esclareceu o arqueólogo.

No âmbito da requalificação do Forte de Paimogo, os arqueólogos efetuaram prospeções para identificar património arqueológico nas imediações, depois de já terem sido recolhidos no passado fragmentos cerâmicos sobre os quais nada se sabia até agora.

Nessas prospeções, os cientistas identificaram "uma zona queimada que poderia corresponder a um forno", contou o arqueólogo José Bruno Cruz.

Além de ter participado nesse trabalho, o investigador está agora a elaborar a Carta Arqueológica da Lourinhã, o tema do doutoramento que está a fazer na Universidade de Belas-Artes de Lisboa.

Tendo em conta o potencial dos achados, o arqueólogo pediu a colaboração de investigadores da Universidade Nova de Lisboa, que já tinham desenvolvido um projeto internacional para aprofundar os motivos da expansão atlântica portuguesa.

"A plantação de açúcar basicamente é o grande atrativo que leva à colonização e, portanto, nós procuramos investigar os primeiros estabelecimentos coloniais e engenhos da transformação do açúcar", explicou André Teixeira.

Os recipientes que no século XVI eram produzidos na Lourinhã chegaram à Madeira, Cabo Verde, Canárias e São Tomé e Príncipe, sendo o Brasil apenas uma hipótese.

Além dos conhecimentos sobre o mar que teria, a população da região, ligada ao mundo rural, "é mobilizada para viabilizar a expansão portuguesa através da produção destas cerâmicas que eram enviadas" para esses locais, dada a necessidade que havia, explicaram.

O trabalho arqueológico, em que participam estudantes de licenciatura e mestrado da Universidade Nova de Lisboa, conta com o apoio da Câmara Municipal e do Museu da Lourinhã.

Os recipientes cerâmicos para a produção de açúcar tinham a forma de um cone e possuíam um orifício na extremidade mais pequena: depois de espremido das canas-de-açúcar e passado por vários processos de tratamento, o açúcar em pasta era colocado nessas formas, que eram viradas ao contrário para irem purgando, por esse orifício, o melaço usado em várias bebidas alcoólicas.

Os parceiros do projeto dinamizam hoje um dia aberto para o público e a tertúlia "A Lourinhã nas rotas da colonização atlântica" no Forte de Paimogo.

Leia Também: Arqueólogos mapeiam castros do Barroso para 'ativar' património histórico

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