Caos no SNS e INEM. Das grávidas que perderam bebés à espera de 5h

A semana foi dramática para o SNS. Duas mulheres grávidas perderam os seus filhos, numa altura em que há diferentes urgências obstétricas encerradas. Este fim de semana, um homem em estado grave esperou mais de cinco horas para ser transferido de hospital. Apesar disso, a ministra da Saúde recusa demitir-se.

helicoptero, inem

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Natacha Nunes Costa com Lusa
07/07/2025 09:27 ‧ há 2 horas por Natacha Nunes Costa com Lusa

País

SNS

Nos útimos dias vieram a público vários casos chocantes relacionados com o caos que se vive, novamente, no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e no INEM.

 

O caso mais recente ocorreu este sábado. Um homem, de 49 anos, em estado grave, com um traumatismo craniano, esperou mais de cinco horas  desde que foi tomada a decisão de transferência do Hospital da Covilhã para os Hospitais da Universidade de Coimbra.

De acordo com a SIC Notícias, atualmente, só existe um helicóptero em todo o país disponível para socorro. Se o serviço do INEM estivesse operacional, a transferência demoraria cerca uma hora e meia. Não mais.

O acidente de trotinete na vila de Paul, na Covilhã, aconteceu ainda durante a tarde. Os bombeiros chamados ao local chegaram em poucos minutos, acabando por transportar o homem para o Hospital da Covilhã.

Após avaliação clínica, o paciente foi diagnosticado com um traumatismo craniano e os médicos decidiram que este devia ser transferido para o serviço de neurocirurgia do hospital de Coimbra.

Os hospitais começam os contactos pelas 20h. Cerca de duas horas depois, os bombeiros foram novamente chamados para ajudar na transferência, uma vez que não o serviço de helicóptero do INEM não estava disponível.

"O helicóptero pesado da Força Aérea não pode aterrar no heliporto do hospital [da Covilhã], por isso, solicitaram que fossemos transportar o doente para o aeródromo de Castelo Branco. Foi acionada uma ambulância de emergência com uma equipa médica do hospital que fez o transporte da vítima para o aeródromo de Castelo Branco, onde já estava helicóptero da Força Aérea para transferir o doente para Coimbra", explicou Luís Marques, comandante dos Bombeiros da Covilhã ao canal de televisão.

O helicóptero da Força Aérea utilizado, um EH101 Merlin, saiu então da base militar do Montijo e foi até Castelo Branco com uma equipa médica própria. Depois da troca de informações entre as equipas médicas da Covilhã e da Força Aérea, o doente levanta voo até Cernache do Bonjardim, em Coimbra.

Mais de 5h de espera e seis equipas médicas

Nessa altura, realça a SIC Notícias, há novamente passagem de dados entre as equipas médicas da Força Aérea e uma viatura médica do INEM, que saiu do hospital dos Covões para fazer o transporte por terra para o hospital de Coimbra, uma vez que os médicos da Força Aérea dão por terminada a missão à saída do helicóptero.

Desde a decisão de transferir o doente da Covilhã até à entrada na urgência de Coimbra passaram cerca de cinco horas e seis equipas médicas diferentes, com todos os riscos que esta constante passagem de informação acarreta.

Se o serviço de helicópteros do INEM estivesse operacional, como exige o contrato assinado entre a Gulf Med e o estado português desde 1 de julho, poderia ter sido tudo diferente.

O helicóptero do INEM a ativar seria o de Viseu. Faria o transporte diretamente para Coimbra a partir do hospital da Covilhã ou até mesmo do local do acidente.

E o doente, muito provavelmente, só demoraria 1h30 a ser transferido de hospital e conhecia, no máximo, três equipas médicas.

O homem, conta ainda a SIC Notícias, foi admitido nos cuidados intensivos do hospital de Coimbra pelas 8h da manhã de domingo, onde permanece até agora internado em estado grave.

Doente levou 5h a ser transferido: SNS remete responsabilidade para INEM

Doente levou 5h a ser transferido: SNS remete responsabilidade para INEM

Entre a decisão de transferir o doente, de 49 anos, com um traumatismo craniano, do Hospital da Covilhã até à entrada nas urgências em Coimbra passaram mais de cinco horas.

Lusa | 21:53 - 06/07/2025

SNS remete responsabilidade para INEM

Entretanto, no domingo, o diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) remeteu responsabilidades para Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM).

"Esta é uma questão que devem colocar ao INEM", afirmou Álvaro Almeida em entrevista à CNN, quando questionado sobre o caso.

O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) salientou que, à semelhança do que acontece noutros países, existem diferentes níveis de atendimento hospitalar e que, em situações mais complicadas, pode haver a necessidade de transferir os doentes para hospitais mais especializados. 

Defendendo que "qualquer transferência deve ser feita no mais curto espaço possível", o diretor executivo do SNS negou qualquer responsabilidade neste caso, sublinhando que "a transferência hospitalar não é da competência da direção executiva".

Álvaro Almeida garantiu que o contrato celebrado na sequência do concurso público internacional para a contratação do serviço de helicópteros de emergência médica do INEM "não tem nada a ver com a direção executiva, não é uma competência da direção executiva".

"Os responsáveis têm um rosto: é o Governo e o INEM"

Também em declarações à CNN, a mesma posição foi defendida pelo presidente do sindicato dos técnicos de emergência pré-hospitalar, Rui Lázaro, que considerou que "os responsáveis têm um rosto: é o Governo e o INEM", sendo que "o INEM não acautelou atempadamente o tempo do concurso" para a contratação do serviço aéreo de emergência médica.

O concurso público para a contratação deste serviço foi adjudicado à empresa Gulf Med Aviation Services Limited apenas no final de março.

"A empresa teve pouco mais de um mês. O Governo e o INEM deveriam ter iniciado este concurso um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde", acusou Rui Lazaro, reiterando que os helicópteros da Força Aérea deveriam ser deslocalizados para o interior do país, onde entende fazerem mais falta.

Para já, o INEM ainda não reagiu. Nem o Governo.

Urgências encerradas. Duas grávidas perderam bebés

Nos últimos dias soube-se também que duas grávidas perderam os seus bebés, numa altura em que várias urgências obstétricas continuam a estar encerradas.

O caso mais recente é de uma grávida do Barreiro que perdeu o bebé depois de ter sido encaminhada para o Hospital de Cascais, uma vez que as urgências de obstetrícia mais próximas da sua área de residência estavam fechadas.

De acordo com o jornal Expresso, a mulher não seguiu as primeiras recomendações da Linha SNS 24, que a encaminhou para o Hospital de Santa Maria, porque não tinha dinheiro para pagar a deslocação.

Segundo o semanário, os registos indicam que a mulher foi encaminhada para a Urgência obstétrica do Hospital de Santa Maria, mas confessou ao operador de linha que não tinha dinheiro para pagar a deslocação do Barreiro até Lisboa. Sem que lhe tenha sido dada qualquer alternativa, desligou a chamada.

Desta forma, viria a ligar para o 112 para pedir ajuda, tendo sido acionados os bombeiros e a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER) do Barreiro, que levaria a mulher para Cascais, onde chegou com o feto já sem vida. 

Este foi o segundo caso em poucos dias de uma grávida que perdeu o bebé, depois de procurar uma resposta de urgência.

A outra situação refere-se a uma mulher que foi atendida em cinco unidades hospitalares do SNS em 13 dias, referindo queixas de dores, tendo o parto sido realizado na Unidade Local de Saúde (ULS) de Santa Maria, em Lisboa, em 22 junho, onde, "pouco tempo depois, a recém-nascida morreu".

Grávida com dores queixou-se em 5 hospitais. Bebé morreu após nascimento

Grávida com dores queixou-se em 5 hospitais. Bebé morreu após nascimento

Uma mulher, identificada como E.C., explica que passou por cinco unidades hospitalares em 13 dias - com queixas de dores. Acabou no Hospital de Santa Maria, onde deu à luz. Pouco tempo depois de ter a bebé, a recém-nascida morreu.

Notícias ao Minuto | 23:14 - 29/06/2025

Confrontada com estes casos, a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, reiterou que não se demite e só abandonará o cargo no dia em que Luís Montenegro "o entender".

"No dia em que o senhor primeiro-ministro, que é o meu primeiro-ministro, entender que chegou ao fim a minha missão, nesse dia eu termino. Até lá permanecerei, porque governar é enfrentar problemas e assumir responsabilidades, encontrando soluções. Nada para além disso. É assim que eu vejo a governação e assim será até ao último momento", assegurou.

Entretanto, o secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, exigiu respostas do primeiro-ministro, Luís Montenegro, sobre urgências hospitalares na Área Metropolitana de Lisboa e em particular nas especialidades de pediatria, ortopedia e obstetrícia na península de Setúbal.

Leia Também: Doente levou 5h a ser transferido: SNS remete responsabilidade para INEM

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