O projeto 'Ativar - Comunidades locais e as origens da paisagem agrícola do Barroso' quer ajudar a conhecer a história do Património Agrícola Mundial que abrange Boticas e Montalegre, no norte do distrito de Vila Real, território por onde se espalham mais de 50 castros.
"O grande objetivo, no fundo, é ativar socialmente um património que está de alguma forma esquecido, que são os castros", afirmou à agência Lusa o arqueólogo João Fonte.
Um legado histórico importante, monumental e que, na sua perspetiva, "pode estar nas origens remotas" deste Património Agrícola Mundial, classificado em 2018.
Os investigadores estiveram esta semana no terreno a recolher dados e a agência Lusa acompanhou os trabalhos no castro de Carvalhelhos, em Boticas, que foi ocupado desde a idade do ferro até à época dos romanos.
Neste castro é possível ver um sistema defensivo formado por duas linhas de muralhas, dois fossos de grande dimensão e um campo de pedras fincadas. Nas plataformas do interior conservam-se ainda restos de construções de planta circular e retangular.
João Fonte explicou que se está a fazer um mapeamento não invasivo deste património histórico, ou seja, sem escavações, e que, para o efeito, são combinadas diferentes técnicas -- georradar, magnetómetro, drones e tecnologia Lidar.
O Lidar, cujos dados são disponibilizados pela Direção-Geral do Território (DGT), faz um varrimento aéreo (através de um sensor colocado numa aeronave), removendo virtualmente a vegetação e permitindo identificar muralhas ou fossos.
"Estamos também a fazer levantamentos com drones dedicados nos sítios mais complexos", apontou.
Depois, recorrendo a técnicas geofísicas como o georradar e o magnetómetro é possível mapear estruturas que estão soterradas.
"Combinando esses dados vamos, depois, reconstruir tridimensionalmente alguns desses castros", acrescentou ainda João Fonte.
Coube a Tiago do Pereiro, arqueólogo especialista em geofísica, manobrar o magnetómetro - equipamento com cinco sensores acoplados num 'kart' e com GPS incorporado - com o qual tirou um raio X do subsolo.
"Nesta radiografia, com este método não vamos ver aqui casas redondas, nem casas quadradas, isso vemos com o georradar -- o que conseguimos ver aqui é que, naquela zona ali de baixo, provavelmente há um forno, uma forja", explicou, apontando para um 'tablet' com a informação recolhida.
Esta é, para Tiago do Pereiro, uma "descoberta muito importante", que não tinha sido detetada em escavações já ali feitas no século passado, e, na sua opinião, o recurso a esta tecnologia ao invés de escavações permite proteger os sítios arqueológicos.
O 'Ativar - Comunidades locais e as origens da paisagem agrícola do Barroso' é liderado pela empresa Era Arqueologia, em consórcio com os municípios de Boticas e Montalegre, e conta com financiamento da Fundação La Caixa.
O gestor do projeto, José Carvalho, referiu que, para além de "ativar os castros", o projeto quer também trabalhar a memória e a identidade.
Até novembro de 2026, os investigadores e especialistas vão trabalhar com as comunidades, com as escolas e as associações locais. Serão recolhidas as histórias à volta destes sítios, as memórias de quem ali vive.
José Carvalho adiantou que vai ser criado um 'website', que vai estar em constante atualização, no qual estará disponível o "Atlas dos Castros do Barroso", serão ainda criadas novas rotas entre os castros que poderão transformar-se num novo ativo turístico e filmado um documentário.
João Fonte explicou que este atlas funcionará como o 'google maps', em que ao clicar-se num ponto se obterá a informação recolhida sobre os castros, as reconstruções virtuais e as memórias orais.
Depois, numa fase posterior, poder-se-á avançar com escavações arqueológicas.
"Para nós é um projeto muito importante e que vem completar o trabalho que já temos vindo a fazer", afirmou Nuno Teixeira, da associação ambiental e cultural Celtiberus, referindo que a iniciativa realça o "património cultural, a história e a memória das pessoas da região" e que Boticas tem um potencial enorme a nível do património castrejo "que tem que ser mostrado".
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