"É o início de uma nova era", declarou o ministro federal da Energia, Mathieu Bihet, ao semanário Le Vif.
Durante "demasiado tempo" a energia nuclear foi "marginalizada" em toda a Europa, com base em dogmas, disse o governante, identificando porém uma mudança em curso em vários países.
"Os ventos estão a mudar, e não apenas na Bélgica, mas também em Itália, nos Países Baixos, no Reino Unido, na Suíça, na Europa de Leste.... Durante a campanha eleitoral na Alemanha, a CDU voltou a colocar a questão em cima da mesa, mesmo que esta não se tenha concretizado", afirmou o ministro.
A proposta foi aprovada com os votos favoráveis dos partidos da coligação governamental, composta pelos nacionalistas flamengos N-VA, os liberais francófonos MR, o partido humanista Les Engagés, os socialistas flamengos Vooruit e os democratas-cristãos.
A alteração legislativa tem um elevado valor simbólico e visa eliminar os entraves ao investimento público e privado no sector nuclear belga.
Para concretizar esta aspiração, o executivo terá de negociar com a empresa que explora as centrais, a Engie Electrabel, mas esta já anunciou que não está interessada em prolongar a concessão, pelo que será necessário recorrer a outros candidatos.
Existem sete reactores nucleares no território belga, repartidos por dois locais: Doel (na província da Flandres Oriental) e Tihange (na província de Liège).
A central de Doel tem quatro reactores que entraram em funcionamento entre 1975 e 1985 e um deles foi encerrado em 2022, em conformidade com as obrigações da lei agora revogada, dois deles deviam atingir o fim da sua vida útil em 2025 e o quarto beneficia já de uma prorrogação de dez anos até 2035, embora o Governo tencione explorá-los para além dessa data.
A central de Tihange tem três reactores que entraram em funcionamento entre 1975 e 1985 e são explorados pela mesma empresa, embora uma destas turbinas tenha sido definitivamente encerrada em 2023.
"Uma coisa é certa hoje: sem a energia nuclear, o cabaz energético não se sustenta. O facto de um ministro ambientalista (Tinne Van der Straeten) ter acabado por prolongar Doel 4 e Tihange 3 por dez anos na última legislatura é a melhor prova da importância da energia nuclear", afirmou o atual ministro da Energia.
Paralelamente, a Bélgica iniciou, em 2024, a construção de um novo reator nuclear perto de Antuérpia, alimentado por um acelerador de partículas que produzirá 100 vezes menos resíduos do que um reator tradicional e que deverá funcionar como um instrumento pioneiro na luta contra o cancro, devendo estar totalmente operacional entre 2036 e 2038.
Um inquérito realizado pelo instituto de sondagens Ipsos em 2023 revelou que 69% dos belgas apoiavam o prolongamento da vida dos reactores por uma década e 57% apoiavam a construção de mais centrais nucleares.
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