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Isolamento militar dos EUA é um risco perante ameaça russa e chinesa

Os Estados Unidos de Donald Trump estão a ignorar deliberadamente os tratados armamentistas e a isolar-se dos aliados, numa estratégia arriscada perante a ameaça militar russa e chinesa, dizem especialistas em assuntos internacionais.

Isolamento militar dos EUA é um risco perante ameaça russa e chinesa
Notícias ao Minuto

13:30 - 22/05/20 por Lusa

Mundo Especialistas

Na quinta-feira, o Presidente Donald Trump anunciou que os EUA se iriam retirar do Tratado de Céus Abertos, que permite a mais de 30 países promover voos de observação desarmados sobre os territórios uns dos outros e que foi estabelecido há décadas para promover a confiança mútua, acusando Moscovo de não cumprir os termos do acordo.

A decisão causou pânico nos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), cujos embaixadores junto da organização atlântica foram chamados para uma reunião de emergência, enquanto a Rússia alertava para os riscos da posição norte-americana, considerando que se tratava de "um golpe para a segurança europeia".

Se acontecer, será já a terceira vez que Donald Trump rasga tratados internacionais na área militar, depois de ter saído do acordo nuclear com o Irão e de ter deixado o tratado de mísseis nucleares de alcance intermédio (IMF), em 2018.

"Esta estratégia norte-americana de romper os poucos laços que garantiam estabilidade global é particularmente arriscada, tendo em conta o reforço de poderio militar que estão a ser feitos pela Rússia e pela China", disse à Lusa João Godinho, investigador de ciência política e relações internacionais na Universidade de Amesterdão, nos Países Baixos.

Para Godinho, os Estados Unidos estão a ingressar numa estratégia isolacionista que pode beneficiar a popularidade interna do Presidente Trump, mas que está a deixar os aliados, especialmente os europeus, muito nervosos.

"E o nervosismo dos aliados europeus é um dos objetivos do Presidente russo (Vladimir Putin), que tem sabido jogar com os avanços e recuos dos EUA para criar um sentimento de insegurança, em particular nos países de Leste", explica o investigador português, que está a trabalhar numa dissertação sobre os equilíbrios de poder globais na era pós-Guerra Fria.

Nicole Gnesotto, membro do 'think tank' francês Nossa Europa, alerta ainda para a forma como a estratégia de abandono de posições militares dos Estados Unidos, por exemplo nos mares do sul da China, está a dar alento às ambições de hegemonia militar por parte de Pequim.

Para esta investigadora, ao querer incluir a China no tratado que poderá substituir o New Start (um acordo de controlo de armas nucleares entre os EUA e a Rússia, que expira em 2021), Donald Trump está a reconhecer que Pequim é uma séria ameaça nuclear, mas está também a dar trunfos para o Governo chinês preferir entender-se com Moscovo, em futuros planos de estratégia global.

"A China nunca aceitará participar num acordo de armas nucleares que inclua simultaneamente a Rússia e os EUA. Porque isso deixaria o país asiático numa situação de fiel de balança que os chineses nunca aspiraram", disse Gnesotto à Lusa, numa declaração escrita.

Nicole Gnesotto, que é autora de uma obra referencial sobre as relações entre a União Europeia e a NATO, os Estados Unidos estão numa rota perigosa de isolacionismo, que deixa os seus próprios aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte desprotegidos, ao mesmo tempo que exige deles uma maior contribuição para o orçamento militar.

Mas o Governo norte-americano tem, ao mesmo tempo, tentado combater essa ideia, insistindo que o abandono sucessivo de tratados armamentistas reflete apenas a preocupação em encontrar melhores soluções para velhos problemas.

"Os nossos aliados europeus nunca ficarão desamparados. A NATO continuará a ser um polo essencial de colaboração e uma rede de proteção mútua inestimável", disse Lea Gabrielle, diretora do Centro de Contacto Internacional do Departamento de Estado norte-americano, numa recente vídeoconferência de imprensa que a Lusa acompanhou.

Lea Gabrielle desvaloriza as ameaças de Putin, sobre a produção de novos mísseis de alcance intermédio após a Rússia ter imitado os EUA na saída do IMF, em 2019, e considera que a NATO saberá dar respostas eficazes ao poder de fogo de Moscovo.

A verdade é que o anúncio por parte dos Estados Unidos, esta semana, de abandono do Tratado de Céus Abertos, trouxe de novo, para os aliados da NATO, o "fantasma" do progressivo afastamento dos EUA, no momento em que a própria Rússia afirma que esse acordo era um pilar da estabilidade militar na Europa.

"A prova de fogo pode estar na decisão que os EUA venham a tomar sobre o New Start", diz João Godinho, recordando que nada está ainda fechado e que Trump admite prolongar esse tratado durante mais cinco anos, da mesma forma que, na quinta-feira, horas depois de ter ameaçado sair do Céu Aberto já admitiu poder renegociá-lo com Moscovo.

"Nunca subestimem o poder negocial do Presidente Trump", disse Lea Gabrielle, respondendo a uma pergunta sobre as verdadeiras intenções do atual inquilino da Casa Branca relativamente às conversações com Putin sobre questões militares, acrescentando que, "de cada vez que os EUA rasgam um acordo, um novo e melhor tratado acaba por nascer".

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