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Indígenas pedem renúncia da presidente interina da Bolívia

Milhares de indígenas iniciaram na segunda-feira, com marchas e vigílias noturnas, uma estratégia de pressão para forçar a renúncia da presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, que por sua vez denunciou um plano para matá-la.

Indígenas pedem renúncia da presidente interina da Bolívia
Notícias ao Minuto

12:08 - 19/11/19 por Lusa

Mundo Bolívia

O governo boliviano anunciou na segunda-feira que Jeanine Áñez cancelara uma viagem a um ato no seu departamento natal de Beni, a 600 quilómetros a nordeste de La Paz devido a ameaças de morte.

"Identificámos um grupo criminoso que queria atentar contra a presidente. Foi difícil convencê-la de que corria risco de magnicídio. Querem interromper este processo de recuperação da democracia", revelou o ministro de Governo, Arturo Murillo.

Entretanto, em La Paz milhares participavam em marchas massivas com vigília noturna nas imediações do Palácio Presidencial.

Os protestos mobilizam agora mais indígenas de diferentes províncias e concentram o lema do protesto na renúncia da presidente, Jeanine Áñez, acusada de dar luz verde à violenta repressão policial.

À medida que a marcha descia a ladeira que circunda a Sede do Governo, o coro aumentava: "Áñez, assassina, queremos a tua renúncia".

"Diziam que Evo Morales era um ditador, mas agora estamos a viver a verdadeira ditadura. A atual presidente emitiu um decreto supremo através do qual autoriza o Exército e a Política a matarem os meus irmãos", denunciava à Lusa a vendedora informal Luz Vega, de 57 anos.

No fim de semana foi noticiado, extra-oficialmente, um decreto que blinda as forças de segurança, autorizando os militares a controlarem a ordem pública, eximindo-os de responsabilidades penais.

A imprensa boliviana é outro dos alvos dos manifestantes, que a acusam de apoiar o novo governo e de ocultar a repressão policial.

"Imprensa vendida", gritavam no protesto. "A imprensa boliviana não diz a verdade sobre a quantidade de mortos e as circunstâncias dessas mortes", acusa Luz Vega. "Por favor, expliquem a verdade ao mundo".

Nos últimos dias, registou-se um aumento do número de mortos como consequência de violentos enfrentamentos entre manifestantes pró-Evo Morales e agentes de segurança do Exército e da Polícia.

No pior episódio de violência, nove camponeses cultivadores de coca foram mortos e 169 ficaram feridos quando tentavam entrar em Cochabamba, a 400 quilómetros a sudeste de La Paz, na sexta-feira passada.

Luz Vega só aceitou conversar com a Lusa quando soube que era imprensa estrangeira.

A partir daí, passou a impedir as tentativas de ataques físicos dos indígenas. Os manifestantes vinham para agredir, mas, ao ouvirem a advertência sobre imprensa estrangeira, detinham-se e passavam a conversar.

"Queremos a renúncia dessa suposta presidente autoproclamada. Há muitos mortos, tanto em Cochabamba, como em La Paz. Queremos denunciar ao mundo inteiro o que a imprensa boliviana oculta. Vamos continuar com esta estratégia de pressão até ao final", avisava Itamay Uruche, um típico "poncho vermelho" de 57 anos, da província Los Andes, a 50 km de La Paz.

Os camponeses indígenas que protestam contra o atual governo de Jeanine Áñez e a favor do anterior de Evo Morales são conhecidos como "ponchos vermelhos" no caso dos homens e como "cholas" no caso das mulheres, com as típicas saias.

"Eu tenho saia, senhor. Eu defendo a minha raça. Esta presidente está a matar-nos. Com o nosso ex-presidente, essas coisas não aconteciam", compara, entre lágrimas, a "chola" Virginia Choque, de 58 anos.

A advogada constitucionalista Ana Cisneros, de 41 anos, aproximou-se da marcha com cuidado. Ana é o contrário de uma "chola"; é uma "choca", isto é, uma mulher branca. Nesta Bolívia dividida em classes, em raças e em geografia, não demora até Ana receber o primeiro aviso.

"Não queremos 'chocas' nesta marcha", gritava um manifestante.

"Creio que aqui houve um golpe porque a polícia se amotinou e porque o Exército pediu a renúncia a Evo Morales. Vejo que a direita está a tentar voltar e tenho medo porque não lhes importa o povo. No campo, estão a matar os meus irmãos com balas de verdade", advertia Ana.

"Obrigado por se unir ao povo, doutora", dizia agora outro manifestante.

Porém, o também advogado, Adrián Valencia, de 30 anos, interrompe a tónica das declarações para pedir que se conte o outro lado dessa moeda.

"Escutei tudo o que disseram, mas agora vou dizer a verdade: não houve golpe nenhum. Houve, sim, uma renúncia devido às manifestações contra a evidente fraude de Evo Morales. Todos aqui sabem da fraude, mas não tocam no assunto", aponta Adrián.

A partir do dia seguinte às eleições de 20 de outubro, os protestos eram contra a fraude e a favor de novas eleições. Perante a negativa de Morales que se proclamava reeleito, os protestos passaram a pedir a sua renúncia.

"Basicamente, há uma tensão entre cidade e campo. Antes de ir embora para o México, Evo Morales cercou as cidades. Por isso, estamos sem alimentos e sem combustíveis", acusa Adrián.

O silêncio consentido dos que o ouvem ao redor termina quando Adrián diz o que todos pensam nas cidades: os protestos são financiados pelo partido de Evo Morales, o Movimento Ao Socialismo (MAS).

'Existe um racismo contra os movimentos sociais, é verdade. Mas a maior parte dessas manifestações são pagas", denuncia, fazendo estourar a ira dos manifestantes.

"Ninguém nos paga. Somos o povo que está a lutar contra essa ditadura. Não somos 'masistas' (em referência ao MAS). Somos o povo", exclama Rubén Quisbet Chipana, de 28 anos, agricultor em El Alto.

"Apelamos à imprensa internacional porque a boliviana virou-nos as costas. Chega de gás lacrimogéneo e de balas. Queremos que a presidente renuncie e que haja novas eleições", anuncia Rubén, justamente quando lançam a primeira bomba de gás.

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