"Muitos fatores convergiram para o mesmo ponto. Exportar simplesmente já não é rentável, por isso tudo o que podemos fazer é reduzir os volumes de produção", admitiu recentemente o presidente executivo da Severstal, Alexander Shevelev, numa entrevista divulgada pela plataforma, citada pela EFE.
De acordo com o empresário, cuja fábrica na cidade de Cherepovets emprega 23 mil trabalhadores, o principal problema das exportações é a baixa rentabilidade, devido, entre outros fatores, à valorização da moeda russa, o rublo.
Adicionalmente, o responsável realça a incapacidade da Rússia em competir com a China nos mercados a que ainda tem acesso, após as sanções impostas na sequência da guerra na Ucrânia, que a Rússia invadiu em fevereiro de 2022.
Antes das sanções, a Rússia exportava cerca de 45% da sua produção e os seus principais compradores eram membros da União Europeia (UE), mas, embora algumas empresas russas tenham conseguido manter as exportações, a sua rentabilidade caiu quase para zero.
Apesar de ter reorientado o mercado para a Ásia desde 2022, o empresário Vladimir Lisin, o quarto homem mais rico da Rússia, descreveu a exportação de produtos para o continente vizinho como "quase inútil", com lucros bastante reduzidos, devido aos elevados custos de logística, e a luta contra o seu principal concorrente, a China, que oferece materiais de muito baixo custo e fornece 53% da produção global de aço.
Assim, mesmo com as sanções, o mercado da UE continua a ser o mais rentável para as empresas russas.
Antes da guerra na Ucrânia, 80% das importações de produtos siderúrgicos semiacabados da UE eram provenientes da Rússia e da Ucrânia, enquanto para a Rússia representavam 30% do total das exportações de aço.
Atualmente, os principais compradores de produtos semiacabados russos são a Bélgica, a Itália, a Dinamarca e a República Checa, segundo dados da empresa metalúrgica Ronsco.
Entre janeiro e março de 2025, a Rússia exportou metais para a UE no valor de 706 milhões de euros, enquanto em todo o ano passado o valor total foi de 2,5 mil milhões de euros.
Segundo a plataforma Holod, o principal beneficiário do fornecimento de aço russo à Europa é o Grupo NLMK, com fábricas na Bélgica, França, Dinamarca e Itália, controladas pela Lisin.
A empresa continua a evitar sanções europeias, apesar das alegações de que produz aço para mísseis e drones na Rússia.
Entretanto, o consumo interno caiu 15% no final do primeiro semestre de 2025, algo que os especialistas atribuem às elevadas taxas de juro mantidas pelo Banco Central Russo.
Isto afeta o setor de diversas formas, pois representa um encargo não só para o seu próprio financiamento, mas também para os seus clientes, como o setor da construção civil, que representa 70% do consumo doméstico de aço e que atualmente enfrenta igualmente problemas.
As empresas russas estão também a ser forçadas a competir com a China no mercado interno, dado que, no primeiro semestre deste ano, o gigante asiático forneceu à Rússia ferro, aço e produtos relacionados no valor de 1,63 mil milhões de dólares, um aumento de 16% em relação ao ano anterior.
No início do ano, uma tonelada de aço laminado em Moscovo custava 658 dólares, enquanto o equivalente chinês custava 588 dólares, sendo que, a valorização do rublo desde então (quase 20% face ao dólar) aumentou ainda mais a diferença.
Entretanto, a indústria metalúrgica russa poderá sofrer um destino semelhante ao da indústria do carvão, que enfrenta atualmente uma grave crise e falências.
Isto coloca em risco regiões russas que dependem fortemente da indústria do aço, como Lipetsk, sede da principal central elétrica da NLMK, que produz 18% do aço do país e emprega cerca de 27.000 pessoas.
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