Incêndios consomem da agricultura à saúde. Fatura já vai em "700 milhões"

Em declarações ao Notícias ao Minuto, o presidente da Direção Regional Norte da Ordem dos Economistas, Carlos Brito, estima que o impacto económico dos incêndios, até ao momento, seja já de "cerca de 700 milhões de euros". 

People watch the progress of a wildfire in Trancoso on August 11, 2025. In Portugal today firefighters were battling three large wildfires in the centre and north of the country. The largest, near the town of Trancoso, has been burning since August 9, 202

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Beatriz Vasconcelos
12/08/2025 09:43 ‧ há 3 horas por Beatriz Vasconcelos

Economia

Incêndios

O calor não dá tréguas e as notícias dos últimos dias mostram que os incêndios também não. Da agricultura ao turismo, passando pela saúde e pela restauração, o impacto das chamas é evidente em vários setores e a fatura do impacto económico ascende já aos 700 milhões de euros, adiantou o presidente da Direção Regional Norte da Ordem dos Economistas, Carlos Brito, ao Notícias ao Minuto

 

Como ainda há muitos incêndios ativos, não é possível fazer um balanço final, mas "tomando em consideração a área ardida e estudos anteriores sobre custos típicos de incêndios em Portugal", Carlos Brito estima que o "impacto económico, até ao momento, seja cerca de 700 milhões de euros". 

Segundo o economista, os setores mais penalizados são a "agricultura e a exploração florestal (devido à perda de culturas, gado e madeira), o turismo e a restauração nos territórios afetados, os transportes e a energia/comunicações (em virtude das vias cortadas e da necessidade de reparação das redes) e a saúde decorrente dos impactos a nível respiratório e não só (quer nas populações quer naqueles que combatem ativamente os incêndios)". 

Em declarações ao Notícias ao Minuto, Carlos Brito explica que os incêndios têm "custos diretos, indiretos e sistémicos" e aponta para o impacto nas contas públicas, referindo que "num ano com vários episódios severos, o saldo orçamental tende a piorar, como aconteceu noutros anos de grandes incêndios". 

Já é possível fazer um balanço sobre o impacto económico dos incêndios que deflagraram em Portugal nos últimos dias?

Até ao dia de hoje, 11 de agosto de 2025, a área ardida em Portugal continental é de cerca de 60 mil hectares de acordo com informação prestada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Em termos económicos ainda não é possível fazer um balanço final uma vez que ainda há incêndios ativos/recém‑resolvidos e as perdas diretas e indiretas só se podem apurar com rigor depois de vistorias e cruzamento de dados respeitantes a várias áreas (agricultura, empresas, turismo, saúde…). No entanto, com a informação existente dá para ter uma ordem de grandeza. Assim, tomando em consideração a área ardida e estudos anteriores sobre custos típicos de incêndios em Portugal, estimo que o impacto económico, até ao momento, seja cerca de 700 milhões de euros. 

Despesas com prevenção rondam os 300 milhões de euros anuais, um valor que é perto de 10 vezes superior àquilo que se gastou no ano dos grandes incêndios de 2017

Qual é o custo direto e indireto dos incêndios?

Os incêndios rurais têm custos diretos, indiretos e sistémicos. Os diretos são aqueles que decorrem das despesas com o combate aos incêndios bem como da perda de bens (habitações, armazéns e outras infraestruturas) e de recursos florestais, agrícolas e animais. Os custos indiretos, com impacto a médio prazo, são os que resultam da quebra da atividade económica, incluindo o turismo, e da menor capacidade para atrair e fixar residentes nas áreas afetadas. A par dos custos diretos e indiretos, há ainda a considerar o impacto sistémico resultante quer da degradação dos ecossistemas naturais quer da perda de confiança por parte da opinião pública nas instituições (Governo, autarquias, corporações de bombeiros…).

Para além destas três categorias de custos, há também a considerar as despesas com a prevenção que devem ser encaradas como um investimento e não propriamente como um custo. Atualmente, as despesas com prevenção rondam os 300 milhões de euros anuais, um valor que é perto de 10 vezes superior àquilo que se gastou no ano dos grandes incêndios de 2017.

Quais são os setores mais penalizados?

Os setores mais penalizados são a agricultura e a exploração florestal (devido à perda de culturas, gado e madeira), o turismo e a restauração nos territórios afetados, os transportes e a energia/comunicações (em virtude das vias cortadas e da necessidade de reparação das redes) e a saúde decorrente dos impactos a nível respiratório e não só (quer nas populações quer naqueles que combatem ativamente os incêndios).

Num ano com vários episódios severos, o saldo orçamental tende a piorar, como aconteceu noutros anos de grandes incêndios

Por consequência, qual é o impacto nas contas públicas?

Como referido anteriormente, os custos diretos, indiretos e sistémicos têm um impacto ao nível da atividade privada e pública. No que diz respeito às contas públicas, os incêndios florestais implicam um aumento da despesa corrente dos meios de combate, do realojamento/apoios de emergência, das indemnizações e programas de recuperação, de uma eventual diminuição das receitas em virtude da menor atividade económica, incluindo o turismo, e ainda de possíveis benefícios fiscais temporários que venham a ser concedidos. Num ano com vários episódios severos, o saldo orçamental tende a piorar, como aconteceu noutros anos de grandes incêndios. Para 2025, o efeito final dependerá da intensidade dos incêndios e da execução orçamental dos apoios agora anunciados pelo que ainda é muito cedo para se fazerem contas.

A situação de alerta implica uma travagem da atividade económica

A própria situação de alerta tem impacto na economia? Qual?

Sim. Desde logo porque a prevenção – que, neste âmbito, deve ser encarada como um investimento – implica despesa. Como salientado anteriormente, Portugal gasta atualmente cerca de 300 milhões de euros em prevenção. E depois porque a situação de alerta implica uma travagem da atividade económica decorrente da proibição de trabalhos com maquinaria em espaços florestais e nos demais espaços rurais, da suspensão de queimas e queimadas, da restrição de acesso a áreas florestais, do cancelamento de eventos pirotécnicos bem como de outras atividades de risco ao ar livre.

De que forma as políticas públicas podem ajudar a mitigar esses prejuízos?

As políticas públicas podem ser orientadas tanto para o curto como para o médio e longo prazo. No imediato elas podem traduzir-se em indemnizações rápidas e simples para pequenos prejuízos, linhas de crédito e adiantamentos para empresas e apoios específicos ao turismo nas zonas afetadas.

A nível mais estrutural, as políticas públicas deverão traduzir-se na valorização económica da biomassa e do pastoreio, no reordenamento do território, na consolidação fundiária e em incentivos à atividade agroflorestal assente em espécies menos inflamáveis.

O Governo já prometeu um apoio aos agricultores com prejuízos até 10 mil euros, sem comprovativos: como vê esta medida?

É, sem dúvida, uma medida que deve ser saudada. As vantagens são óbvias: rapidez do apoio num momento crítico e redução das dificuldades ao nível da tesouraria. Claro que há sempre o risco de haver comportamentos oportunistas que devem ser minimizados com validação prévia por entidades públicas (autarquias e comissões de coordenação e desenvolvimento regional), auditorias a posteriori, limite do montante dos apoios, cruzamento com sistemas de informação geográfica para consistência e processos rápidos com coimas e eventual restituição em caso de abusos. 

A região Norte tem sido, por norma, mais afetada pelos incêndios: porquê? Que políticas deveriam ser adotadas para contrariar esta tendência?

São vários os fatores que explicam por que razão a região Norte, em especial o seu interior, é tendencialmente mais afetada: estrutura fundiária caracterizada por parcelas de menor dimensão, muitas das quais em situação de abandono, composição florestal com predominância de eucalipto e pinheiro em mosaicos descontínuos, topografia acidentada e condições meteorológicas de verão que favorecem a propagação, isto sem esquecer um maior número de ignições humanas, quer por negligência quer premeditadas.

Leia Também: Mais de 1.700 operacionais combatiam os fogos mais preocupantes às 4h15

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