Depois de 11 anos de jejum, o AEK Atenas voltou a conquistar um lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões. O conjunto grego regressou ao convívio dos 'tubarões' após ultrapassar os escoceses do Celtic (3.ª pré-eliminatória) e os húngaros do MOL Vidi FC (playoff) e viu o destino colocar-lhes o Bayern Munique, o Benfica e o Ajax pela frente. 

Se a derrota (3-0) na jornada inaugural diante dos holandeses não funcionou como melhor cartão de visita, a receção ao Benfica, desta terça-feira, assume uma importância redobrada para os comandados de Marinos Ouzounidis, que tem no plantel dois 'espiões' dos encarnados.

Um deles é Hélder Lopes, lateral português que cumpre a segunda época no emblema helénico e que é uma das figuras da equipa, a par do capitão André Simões.

Em entrevista exclusiva ao Desporto ao Minuto, o defesa de 29 anos, que em Portugal passou por clubes como o Tondela, Beira-Mar P. Ferreira, entre outros, revelou as expetativas para esta partida e descortinou um pouco do ambiente que as águias têm à sua espera em Atenas. Apesar de cumprir castigo e, como tal, não poder dar o contributo ao AEK neste embate com os encarnados, Hélder Lopes garante que a lição está bem estudada e que o clube grego vai "fazer de tudo para dificultar a vida ao Benfica".

Lateral português conversou com o Desporto ao Minuto e anteviu esta receção ao Benfica.© Reuters

Estamos em vésperas do embate entre o AEK Atenas e o Benfica. O que espera do encontro?

Vai ser um jogo difícil para as duas equipas, já que ambas vêm de um resultado negativo e, por isso, vão querer uma boa resposta. Nesse sentido, quer o AEK quer o Benfica vão procurar a vitória.

O castigo de quatro jogos impede-o de participar neste jogo. Vai sofrer mais por estar de fora?

Sim, infelizmente não poderei dar o meu contributo à equipa... É triste, pois é claro que adorava poder jogar. Não é todos os dias que temos a possibilidade de disputar estes jogos de Champions, mas infelizmente levei este castigo severo da FIFA e vou estar fora quatro jogos.

Como português, o que pode revelar sobre o ambiente que o clube da Luz vai encontrar no estádio Olímpico de Atenas?

O Benfica vai encontrar uma adversidade no ambiente do estádio. É muito caloroso, parecido com o que os adeptos do PAOK criam no seu terreno, não param durante os 90' minutos e é sempre mais um motivo de força extra para nós, porque sabemos que nos apoiam incondicionalmente.

Penso que o Benfica tem mais soluções esta época

Que análise faz à temporada dos encarnados?

Penso que o Benfica tem mais soluções esta época. Começou bem, agora atravessa um momento menos bom, digamos assim, talvez o mais complicado até ao momento, mas é uma equipa forte, experiente e habituada a jogar a Liga dos Campeões. No entanto, nós também temos as nossas ambições, queremos a primeira vitória na Champions no nosso estádio e vamos fazer vida difícil ao Benfica.

Pelo conhecimento que tem das águias e do futebol português, auxiliou o treinador Marinos Ouzounidis na elaboração da estratégia para esta partida?

Sim, alguns companheiros também me perguntam como é o Benfica, mas nem foi preciso adiantar muito porque aqui na Grécia passam os jogos do campeonato português e eles já tiveram oportunidade de ver os dois jogos contra o PAOK. Deu para tirarem as ilações necessárias e perceberem que o Benfica é uma equipa forte. Se queremos vencer, teremos que estar ao nosso melhor nível.

Português é uma das figuras da equipa e na última temporada foi considerado o melhor lateral-esquerdo do campeonato grego.© Getty Images

Quais são, na sua opinião, as maiores virtudes desta equipa de Rui Vitória?

Penso que o Benfica vale pelo seu todo. Tem um coletivo forte, boas soluções no banco, especialmente para o ataque, com Ferreyra, Jonas, Castillo e Seferovic, e isso diz bem o que é a qualidade do plantel, que, na minha opinião, é mais forte do que o da época passada.

Num grupo que conta ainda com o Bayern Munique e o Ajax, quais são as ambições do AEK?

Sabemos que estamos num grupo extremamente difícil, com grandes equipas, nomeadamente o Bayern Munique, uma das melhores da Europa, claramente o favorito a passar em primeiro lugar. As restantes são equipas experientes, acostumadas a jogar a Liga dos Campeões, que é o caso do Benfica e do Ajax, e nós já não estávamos nesta fase há 11 anos. Por isso, queremos desfrutar ao máximo desta competição e deixar uma boa imagem do futebol grego.

Vlachodimos tem uma imagem semelhante à do Manuel Neuer

Um dos jogadores que tem estado em evidência na Luz é o Vlachodimos, guarda-redes contratado este defeso ao Panathinaikos e que na época passada teve a oportunidade de defrontar. Pelo que já viu, está a corresponder às suas expetativas, tendo em conta o conhecimento que já tinha dele?

Sim, já o conhecia... Tive oportunidade de jogar contra ele e tem aquele estilo alemão, com muita segurança com os pés, também entre os postes, e sabia que ele ia corresponder. Aqui demonstrou ter muita qualidade. Aliás, foi considerado um dos melhores guarda-redes do campeonato grego, senão o melhor. Penso que tem uma imagem semelhante à do Manuel Neuer: um guarda-redes bom com os pés, seguro e que transmite confiança à equipa. Está a demonstrar o porquê da sua contratação.

Outro dos reforços das águias foi o Gabriel, que ganhou a titularidade nos últimos dois jogos. É outro jogador que conhece bem, já que há dois anos, no Las Palmas, também o defrontou...

É um excelente jogador e vai prová-lo! Em Espanha, quando tive a oportunidade de jogar contra ele, pude verificar que é um verdadeiro box-to-box, um 8' que tanto ataca com qualidade como ajuda a defender com eficácia, e foi, sem dúvida, uma grande contratação para o Benfica. Trata-se de um jogador experimentado, fez várias épocas em Espanha e tem muita qualidade em todos os momentos do jogo. É forte na reação à perda da bola e penso que é um ótimo complemento ao Fejsa. Além disso, liberta mais o Pizzi para missões ofensivas. A seu tempo vai provar o seu valor.

Gabriel é um excelente jogador e vai prová-lo

Hélder Lopes representou os espanhóis do Las Palmas antes de assinar pelo AEK, em 2017.© Reuters

Olhando para o que tem sido o seu percurso, cumpre a segunda temporada no futebol helénico, após essa passagem por Espanha. Está feliz no AEK?

Estou extremamente feliz! Quando troquei o campeonato espanhol pelo grego vinha à procura de conquistar títulos, de jogar a Liga dos Campeões e logo no primeiro ano consegui sagrar-me campeão. Joguei a pré-eliminatória da Champions e depois a fase de grupos da Liga Europa, fui considerado o melhor lateral-esquerdo do campeonato grego e penso que foi uma temporada que correu extremamente bem. Neste segundo ano já fizemos história, com a entrada do clube na fase de grupos da Liga dos Campeões, que já fugia há 11 anos. Foi, sem dúvida, uma aposta ganha, pois na Grécia pude conquistar aquilo que sempre sonhei: títulos e jogar as competições europeias.

Sei que também é muito ligado à família e a Portugal. Regressar ao nosso país é uma ideia que lhe passa pela cabeça ou, para já, prefere continuar no estrangeiro?

Como é obvio, gostava de poder voltar ao meu país, mas, com as condições que tenho aqui, só poderia voltar para um dos três grandes, pois o que me oferecem aqui só Benfica, Sporting e FC Porto me poderiam dar. Neste momento penso que é difícil isso acontecer. Não está nos meus planos, a não ser que surgisse uma excelente proposta e uma possibilidade de jogar nos três grandes. No entanto, o meu pensamento está em permanecer no estrangeiro.

Só poderia voltar a Portugal para um dos três grandes

Numa espécie de mensagem final, que 'promessa' deixaria aos adeptos?

Que vamos dar tudo! O Benfica tem boas dinâmicas de jogo, mas nós vamos estudar ainda mais o seu estilo para lhes dificultar a vida. Jogando no nosso estádio, temos o nosso orgulho e as nossas ambições e vamos tentar contrariar esse poderio do adversário.

Obrigado, Hélder.

Defesa sagrou-se campeão grego na última época, onde disputou 31 jogos e apontou dois golos.© AEK